Sucesso marcou o seminário sobre Cooperação Internacional Brasil-África
Auditório lotado para a abertura do Seminário sobre Cooperação Internacional Brasil- África, realizado nesta sexta-feira (27) pela Unilab. As atividades seguem a programação que começou no dia anterior, quinta-feira (26), com o lançamento do livro “África parceira do Brasil Atlântico”, de autoria do professor Flávio Sombra Saraiva, presidente do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais.
A pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão, Stela Meneghel, deus as boas-vindas aos participantes e destacou a importância da universidade propor discussões sobre este assunto, já que a missão da Unilab é promover o conhecimento a partir da cooperação solidária entre os países lusófonos. A reitora em exercício, Maria Elias Soares, saudou os participantes em nome da Reitoria e agradeceu a presença dos conferencistas e do público em geral, especialmente os estudantes e professores de outras cidades e estados.
Pela manhã, o tema da mesa foi “Cooperação Internacional Brasil-África: histórico e tendências”. O primeiro expositor foi o professor Flávio Sombra Saraiva, que falou sobre a construção das relações Brasil-África. Ele disse que entre os brasileiros há várias concepções sobre o continente africano construídas ao longo da história recente. A partir dos anos de 1950, a África surge como um espaço de disputa com o Brasil, devido à concorrência no mercado de exportação de produtos como o café, açúcar e cacau, especialmente para Europa. Com o processo de industrialização a partir dos anos de 1970, os brasileiros passam a perceber a região como grande mercado consumidor, onde se pode investir e, inclusive, implantar filiais de conglomerados econômicos, como mineradoras e construtoras. O avanço do processo de independência dos países africanos nos últimos anos também despertou o interesse do Brasil pelo continente. Surge aí uma oportunidade para estabelecer novas relações de interesse diplomático, movidas por uma série de interesses políticos.
Segundo Flávio Sombra, atualmente começa a ser desenhada uma nova construção sobre a África, baseada numa matriz social. E é este o modelo considerado ideal pelo conferencista. Ele defende uma cooperação horizontal, onde Brasil e África se relacionem a partir do reconhecimento de suas identidades comuns, como por exemplo, as vulnerabilidades vividas tanto pelos brasileiros quanto pelos africanos. Para Flávio Sombra, a Unilab vai fazer diferença nesse contexto, ampliando essa visão altruísta e colaborando com a formação de quadros, sempre na perspectiva do ensinar e aprender simultaneamente.
A segunda exposição da manhã foi sobre as “Relações Internacionais Brasil-África: desafios para a cooperação”, com a palestra da professora da UnB, Selma Pantoja. Ela enfatizou os principais problemas da cooperação acadêmica que, segundo a pesquisadora, continua sendo vertical, de mão única. Isso pode ser comprovado facilmente quando se avalia a autoria dos editais (e seus financiamentos) e a coordenação dos projetos de formação, quase todos sob a responsabilidade de instituições brasileiras. Selma Pantoja defendeu o compartilhamento dessas ações para a cooperação horizontal de fato ocorra.
A professora reconhece que este é um processo lento e exige o amadurecimento do conceito de desenvolvimento. Para ela, desenvolver é colaborar na perspectiva do outro, compreendendo seus costumes, fala, saberes e história. Selma defende a prática da troca, com atitudes de dar e receber. A programação seguiu com os debates. Estudantes e professores brasileiros e africanos, além de pesquisadores da área participaram das discussões.
COOPERAÇÃO ACADÊMICA E FINANCIAMENTO
No período da tarde, o auditório permaneceu lotado de estudantes e professores da Unilab, além de convidados, para a realização da mesa: “A Cooperação Acadêmica Brasil-África: desafios e perspectivas”, com a apresentação da professora da Escola Superior de Agronomia Luís Queiroz (ESALQ) da Universidade de São Paulo (USP), Marisa D’Arce e do professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), João Bosco, e moderação da pró-reitora de Graduação da Unilab, Jacqueline Freire.
Vice-diretora da ESALQ/USP e ex-coordenadora de Relações Internacionais da USP, a professora Marisa D’Arce (foto acima) abordou o tema “A Cooperação com África das Instituições de Educação Superior Brasileiras”. Inicialmente, ela mostrou um vídeo institucional da USP e, em seguida falou um pouco do histórico da universidade. Depois citou diversos números que mostram a força da USP, universidade com 240 cursos de graduação, 89 mil estudantes e 6 mil docentes, quase todos com doutorado, responsáveis por 25% da pesquisa produzida no Brasil.
Em sua apresentação, Marisa D’Arce abordou o conceito do processo de internacionalização, que deve estar inserido no planejamento estratégico e nas políticas gerais da instituição, com o objetivo de promover uma abertura institucional para o exterior. Segundo ela, este processo também demanda uma estratégia de mudança da mentalidade acadêmica para o desenvolvimento de uma nova cultura que valorize os enfoques globais. Ela aproveitou para citar as quatro principais formas de cooperação: intercâmbio de alunos e docentes, pesquisas em colaboração, pós-graduação em conjunto ou co-tutela e duplo diploma de graduação. Quanto às potenciais áreas de cooperação em pesquisa com a África, ela destacou a agronomia, medicina, veterinária e literatura.
Já o professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) e ex-diretor de Cooperação Internacional da Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa (Funcap), João Bosco (foto acima), apresentou a temática “A Cooperação com África – agências de fomento e perspectivas de financiamento”. Professor e pesquisador da área de Relações Internacionais, além de consultor internacional, ele afirmou que o processo de internacionalização do ensino superior é um aprendizado constante.
Durante sua fala, João também deu algumas dicas para a Unilab avançar no seu processo de internacionalização. Uma delas foi a definição do foco para poder buscar os parceiros adequados. Segundo ele, é preciso definir as áreas de atuação e as vocações estratégicas, e buscar recursos orçamentários a médio e longo prazo. Ele aproveitou para ressaltar a importância da realização de convênios com parceiros que tenham representatividade e da necessidade de se traçar projetos que sejam exeqüíveis não só hoje, como daqui a cem anos. Para João Bosco, inovação só existe quando transformamos o conhecimento em riquezas.
Um debate com os presentes encerrou o seminário.