Conheça cearense que fez história no Timor-Leste
Durante quase três anos, a professora cearense Wandelcy Pinto morou no Timor Leste. Tudo começou em 2005, quando integrou o primeiro grupo de professores brasileiros, num total de 50, enviados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), para implantar e implementar o Programa de Qualificação de Docente e Ensino de Língua Portuguesa no Timor-Leste.
Atual assessora técnica da Célula de Gestão de Programas Federais da Coordenadoria de Cooperação com os Municípios (COPEM), da Secretaria Estadual da Educação, sua função foi coordenar o Programa de Formação de Professores em Exercício na Escola Primária em Timor-Leste- PROFEP-Timor, realizado nos mesmos moldes do programa brasileiro Proformação, do Ministério da Educação. Este programa, com duração de dois anos e meio, era composto por seis professores brasileiros e cinco timorenses e, em janeiro de 2008, o PROFEP-Timor foi o primeiro curso da nova República, que entregou um Diploma em Língua Portuguesa /Nível Médio Magistério para 84 professores da Escola Primária timorense.
Segundo Wandelcy, o Brasil teve outras cooperações com o Timor na área da Educação, mas foram através do Ministério das Relações Exteriores, por meio de consultores. “A nossa foi a primeira missão de qualificação de Língua Portuguesa para os professores timorenses”, explica, acrescentando que, dentre os 50 brasileiros, 42 iam trabalhar na universidade e outros programas, mas, o grupo coordenado por ela já chegou no Timor com um Projeto específico do Brasil para desenvolver lá, que era o Proformação. “Nossa meta era formar cem professores leigos, que estavam ensinando na Escola Primária/fundamental e não tinham uma formação mínima de nível médio”.
De acordo com a professora, a implantação do programa foi muito difícil por conta da falta de pessoas qualificadas. Os primeiros três meses foram para selecionar, contratar e preparar os professores e tutores e, em julho de 2005 o curso foi iniciado. Em paralelo, foi necessário adaptar todo o material didático que vinha do Brasil.
“Aí decidimos falar com o ministro da Educação timorense que não seria bom em termos culturais usar os mesmos livros do Brasil e que precisaríamos do apoio para elaborar outro material, adaptado a realidade timorense. Ele nos deu todo o apoio para produção dos livros didáticos. Matemática e Português nós adaptávamos algumas coisas, mas, Geografia, História e Organização do Trabalho Pedagógico, que trabalhava as leis da Educação timorense, exigiram uma maior pesquisa. Foi um esforço muito grande da equipe de professores brasileiros e timorenses, trabalhávamos direto para dar conta da produção dos livros e dos cadernos de exercício, provas, mas, funcionou”.
Em 22 de maio de 2006, Wandelcy e quatro colegas brasileiros voltaram ao Brasil para apresentar essa experiência num congresso internacional, e três dias depois, estourou um conflito interno, fazendo com que os professores brasileiros que ainda estavam no Timor fossem levados para a Austrália. “Voltamos ao Timor em julho de 2006, eu e mais dois professores, mas, muitos professores timorenses que estavam fazendo o curso haviam subido para as montanhas para se refugiarem e fugirem da guerrilha interna. Nessa altura, dos 50 brasileiros, apenas 20 continuaram, e os timorenses pediam que a gente não fosse embora”
Entre os meses de julho a novembro, o curso ficou suspenso, mas, Wandelcy e um pequeno grupo de professores formadores brasileiros e timorenses ficaram fazendo formação continuada. “Nem tínhamos brasileiros suficientes e nem timorenses. Íamos nos campos de refugiados, visitando os professores e falando que o curso ia continuar. Continuamos assim até a situação ficar mais pacífica e, em janeiro de 2007 foi lançado um novo edital da CAPES, quando foram contratados 12 novos formadores e uma coordenadora, para a conclusão do programa em um ano. Trabalhamos durante todo o ano de 2007 e, em 05 de janeiro de 2008 encerramos o curso, formando em Nível Médio Magistério um total de 84 professores timorenses”.
Wandelcy explica que um dos motivos do sucesso PROFEP-Timor foi porque todo o material didático foi adaptado à realidade timorense. ”Seguimos toda estrutura e metodologia do Proformação, só adaptamos o conteúdo, mas, o resultado foi muito significativo para os timorenses. Tanto que eles pediram uma segunda versão, que aconteceu com outro grupo de brasileiros, que formou 81 timorenses, entre julho de 2008 e 2010, ano em que voltei ao Timor com mais quatro professores brasileiros para avaliar e orientar o trabalho deste segundo grupo”.