Formatura de 22 timorenses reforça o papel de integração da Unilab
Quando um projeto educacional consegue transformar ideias em práticas, fazendo de um ideal algo concreto e transformador, é sinal da maturidade e/ou da consolidação desse projeto. O que antes era conceito passa a ser realidade. No começo desse ano, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) realizou a colação de grau de cerca de 350 estudantes brasileiros e estrangeiros.
Dentre esses concludentes um outro dado chamou a atenção: 22 estudantes são oriundos do Timor Leste, sendo que 10 se formaram em Agronomia, 11 em Ciências da Natureza e Matemática e um em Enfermagem.
A formação e qualificação desses 22 timorenses reflete, como um espelho, a missão institucional da Unilab que é a de “formar recursos humanos para contribuir com a integração entre o Brasil e os demais países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), especialmente os países africanos, bem como promover o desenvolvimento regional e o intercâmbio cultural, científico e educacional”.
Isto porque o governo do Timor Leste também aportou recursos e investiu na formação desses futuros profissionais, reforçando a assim a parceria e integração com o governo brasileiro.
Entre o ideal e a realidade
É exatamente nesse ponto de integração entre o projeto educacional da Unilab e a CPLP que o ideal e a realidade se cruzam. No último dia 7 de fevereiro, os 22 timorenses egressos da Unilab embarcaram de volta ao país natal, levando na bagagem não apenas um diploma, mas um novo mundo de conhecimento, experiências e expectativas futuras.
Dinis Sousa, 27 anos, natural da ilha de OE-Cusse, que fica ao Norte de Timor, se formou em enfermagem. Durante seis anos morando em Redenção, ele lembra da dificuldade de adaptação nos primeiros meses, principalmente com a língua portuguesa e as diferenças culturais. “Se acostumar com a comida e praticar o português do Brasil foi bem difícil no começo”, confessou Soares.
Mas essas pequenas dificuldades foram logo superadas com um bom curso de português (brasileiro) e a convivência diária com os colegas brasileiros e com seus compatriotas.
Agora, de posse do diploma de enfermeiro, Dinis só pensa em contribuir com o desenvolvimento do seu país.
“Espero contribuir com uma maior assistência na saúde básica de Timor Leste. Somos um país ainda subdesenvolvido, carente de recursos humanos. Na Unilab tive a oportunidade de estudar com professores doutores, onde fui avaliado de forma rigorosa e adquiri conhecimentos e técnicas que me deixaram preparado para o exercício da minha profissão. Com essa formação vou poder dar a minha contribuição na área da saúde do meu país”, enfatizou Dinis.
Tempo de colheita
Assim como a saúde, a área da agronomia em Timor Leste também é marcada pela carência de mão-de-obra qualificada. Sendo que, nesta área, essa lacuna é ainda mais gritante porque 85% da população timorense sobrevive a base da agricultura familiar.
Para minimizar um pouco essa carência, dez timorenses formados em agronomia na Unilab voltam para casa. Entre eles, o estudante Estefanus Pereira, de 28 anos, que chegou na Unilab em 2012 e enfrentou os mesmos problemas iniciais de adaptação, mas que em nenhum momento cogitou regressar antes da conclusão do curso.
Para Estefanus chegou o tempo de colher os frutos da sua dedicação. Ele espera partilhar com seu povo tudo que conseguiu colher nessa jornada do conhecimento.
“Em Timor (Leste) a agricultura é praticada de maneira artesanal e rudimentar (empírica). Não se usam muitas técnicas modernas nem muito conhecimento teórico para o cultivo. Então, eu espero poder ensinar e compartilhar tudo que aprendi aqui (na Unilab) com os agricultores do meu país. Sei que isso (transmitir novas técnicas e conhecimentos) não será fácil nem aceito totalmente porque lá tem uma cultura agrícola enraizada, mas aos poucos e com persistência podemos mostrar que novas técnicas e conhecimentos podem ser bom para o desenvolvimento da nossa agricultura”, disse Pereira.
Educar para transformar
Na área da educação os desafios não são menores. Daí a necessidade de formação de novos professores. Margareta do Carmo, que se formou em Ciências da Natureza e Matemática, com habilitação em Química, leva consigo, além de histórias vividas e experiências de estudar em um outro pais, a esperança de novos ares para o ambiente educacional timorense.
“Temos uma educação muito atrasada. A grade curricular ainda é uma mistura entre os saberes da Indonésia e do Timor. O ensino da Língua Portuguesa ainda segue os padrões da época da colonização. O material didático usado também é precário e convivemos com problemas de evasão escolar porque as comunidades ainda não entenderam a importância da educação. Precisamos mudar essa realidade, ensinando com criatividade e estimulando o interesse dos jovens pela escola”, destaca do Carmo. A jovem professora também reconhece que esse será um processo lento e gradativo.
Sobre o Timor…
Timor-Leste é um dos países mais jovens do mundo, e ocupa a parte oriental da ilha de Timor, no Sudeste Asiático, além do enclave de Oecusse, na costa norte da parte ocidental de Timor, da ilha de Ataúro, a norte, e do ilhéu de Jaco, ao largo da ponta leste da ilha.
As únicas fronteiras terrestres que o país tem ligam-no à Indonésia, a oeste da porção principal do território, e a leste, sul e oeste de Oecusse, mas tem também fronteira marítima com a Austrália, no Mar de Timor, a sul. Com 14.874 mk de extensão territorial, Timor-Leste tem superfície equivalente às áreas dos distritos portugueses de Beja e Faro somadas, o que ainda é consideravelmente menor que o menor dos estados brasileiros, Sergipe. Sua capital é Díli, situada na costa norte.