Unilab celebra 25 de março com lançamento do livro “Ceará Negro e outros temas de África”, de Flávio Paiva
A obra reúne 50 artigos publicados nos últimos 25 anos, cada um deles comentado por um estudante ou egresso da Unilab.

Jornalista, escritor e compositor cearense Flávio Paiva com sua nova obra, “Ceará Negro e outros temas de África”. Foto: divulgação.
A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) celebrará a Data Magna do Ceará, 25 de março, com o lançamento do livro “Ceará Negro e outros temas de África”, do jornalista, escritor e compositor cearense Flávio Paiva.
O lançamento ocorre no dia 25 de março, às 11h, no auditório do Campus da Liberdade, e conta com a apresentação musical do projeto Vozes d’África, que interpretará obras das culturas africanas, além da participação especial do músico paulista Paulo Lepetit, quando será executada também a música-tema do livro “Ceará Negro”, uma parceria de Lepetit com Flávio Paiva, disponível nas principais plataformas de música digital.

Capa do livro, cuja foto é de autoria do estudante da Unilab Yuri Chimanga, do curso de Administração Púbica. Foto: divulgação.
Autor de mais de 30 títulos, Flávio Paiva brinda o público leitor com a nova obra, que enfeixa 50 artigos publicados nos últimos 25 anos, cada um deles comentado por um estudante ou egresso da Unilab, entre angolanos, brasileiros, guineenses, moçambicanos e santomenses.
São 350 páginas em que fica patente o olhar profundo e engajado de Paiva sobre África e suas diversas realidades. “É usual ouvirmos falar da África como se todas as regiões e todas as etnias desse continente tivessem os mesmos contornos sociais, culturais e políticos. Não é bem assim, embora existam muitos traços comuns na tecedura da vida e na história dramática de um mundo com 30 milhões de quilômetros quadrados, mais de 50 países e com quase a sexta parte da população da Terra”, salienta.
Como ativista cultural, Flávio Paiva busca, com o novo livro, transformar o 25 de março em uma data em torno da qual falemos, lutemos e festejemos em prol do antirracismo e da igualdade racial. “O 25 de março, a data oficialmente definida como de maior importância do estado, não pode ser um feriado como outro qualquer. O ideal é que o 25 de março catalise uma série de eventos: literários, artísticos, de moda africana e afrobrasileira, debates, enfim, eventos significativos capazes de colocar na pauta da nossa cultura uma África e um Brasil afro muito diferente do que o processo colonial nos impôs. Essas movimentações todas devem, evidentemente, estar alinhadas com o 20 de novembro brasileiro, com o que vem sendo conquistado no campo da consciência negra”, propõe.

Autor entre estudantes da Unilab. Foto: divulgação.
O autor chama a atenção para o trabalho educativo que pode ser feito a partir da data. O Ceará tem o título de “Terra da Luz” criado pelo abolicionista fluminense José do Patrocínio (1853–1905), quando esteve no território cearense acompanhando o processo de libertação dos escravizados, no entanto, o fato que originou o título ainda é desconhecido por muitos. “Tem gente que pensa que o Ceará é a Terra da Luz porque tem muito sol. Colocar na agenda da sociedade cearense o quanto é maravilhoso sermos a Terra da Luz no sentido de Terra da Libertação é fundamental para a construção de um Ceará sem discriminação, mais igualitário e mais justo. Precisamos celebrar urgentemente o dia 25 de março de forma intensa e com envolvimento da sociedade”, conclama.
Reitor da Unilab, Roque Albuquerque assina o prefácio da obra, em que realça que “Flávio Paiva oferece visões pontuais sobre a influência africana na cultura cearense, revelando como a negritude se manifesta em algumas artes e nas tradições populares, ao tempo em que apresenta uma diversidade de abordagens, como janelas abertas, que sugerem ao leitor enxergar de forma desarmada o mundo africano, seus países, suas culturas e sua importância para a humanidade”.
Interessado no intercâmbio de olhares e ideias “para a desconstrução dos paradigmas e estereótipos que a estrutura colonial instalou em nossas mentes e relações”, o escritor entrou em contato com a universidade e sugeriu a parceria para a escrita do prefácio, comentários de estudantes e evento de lançamento do livro. “O Yuri Chimanga, estudante de Administração Pública da Unilab, aceitou o desafio que fiz a ele de distribuir os 50 artigos do livro para 50 estudantes e o resultado está nas páginas do livro”, comenta. Cada comentário está identificado e tem o e-mail do estudante que o fez, abrindo a possibilidade de troca de ideias com leitores.
Data Magna do Ceará
Em 25 de março de 1884, o Ceará aboliu a escravatura, tornando-se a primeira província a fazê-lo, quatro anos antes da Lei da Áurea. O feito é celebrado anualmente com o feriado da Data Magna do Ceará, inscrito no calendário desde 2011.
Embora a data oficial seja 25 de março de 1884, historiadores consideram que o evento ocorreu no dia 01 de janeiro de 1883, em frente à igreja Matriz, na Vila do Acarape, atual município de Redenção, em um ato marcado pela entrega das cartas de alforria às 116 pessoas escravizadas ali existentes, na presença de José do Patrocínio e de outros abolicionistas.