Projeto de extensão lança série audiovisual sobre cozinhas comunitárias do Grande Bom Jardim (CE)
O Grupo de Extensão e Pesquisa Diálogos Urbanos da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), em parceria com a Rede de Cozinhas Comunitárias do Grande Bom Jardim, com o Ponto de Memória do Grande Bom Jardim e com o Centro Cultural Bom Jardim, iniciou a divulgação de uma série documental audiovisual intitulada “Saberes, Sabores e Afetos: cozinhas comunitárias como tecnologias sociais” – um projeto que dá visibilidade ao trabalho de 24 cozinhas comunitárias no território do Grande Bom Jardim, em Fortaleza, Ceará.
A série estreou oficialmente na última quarta-feira, (25/06), com a publicação do primeiro vídeo completo no canal do grupo de extensão no YouTube. O episódio apresenta a trajetória de uma das cozinhas do território, a “Cozinha Comunitária CPEC Pé no Chão”, vinculada ao “Centro Popular de Educação e Cultura Pé no Chão”, que tem como principal liderança Bernadete Ferreira de Sousa. O “CPEC Pé no Chão” evidencia seu papel na garantia do direito à alimentação e na construção de redes de solidariedade, afirmando um protagonismo político democrático e cidadão em um dos territórios mais vulnerabilizados da cidade de Fortaleza, com atuação desde os anos 1980.
Comida, cuidado e resistência
As cozinhas comunitárias do Grande Bom Jardim são iniciativas locais que integram a produção e distribuição de refeições a outras ações sociais – educação, saúde, qualificação profissional e geração de renda – em contato direto com as pessoas e as famílias de mais de 60 áreas e comunidades em cinco bairros – Bom Jardim, Canindezinho, Granja Lisboa, Granja Portugal e Siqueira.
Vinculadas a associações comunitárias e de catadores de material reciclável, coletivos, grupos religiosos e projetos sociais, essas cozinhas desempenham funções que vão além da nutrição: elas acolhem, mobilizam, cuidam e fortalecem laços comunitários, sendo territórios de resistência diante das violações de direitos e das desigualdades sociais.
Em 2022, o Mapa Participativo de Enfrentamento à Fome do Grande Bom Jardim (2022, p. 31) revelou como 19 cozinhas comunitárias atendiam à época mais de 5 mil famílias e aproximadamente 14 mil pessoas em mais de 60 áreas e comunidades, em situação extrema de vulnerabilidade socioeconômica e onde a fome se apresentava na sua forma severa. Atualmente, a projeção, a partir do projeto, é a de que 24 cozinhas comunitárias produzem e distribuem mensalmente em torno de 45 mil refeições.
Com foco no reconhecimento, visibilização e fortalecimento do protagonismo político popular-comunitário e da relevância social da atuação desses agentes, a série documental busca:
- Registrar, salvaguardar e dar visibilidade a narrativas e memórias relevantes à constituição urbana, ao movimento popular-comunitário e à luta por direitos e justiça social, no Grande Bom Jardim e na cidade de Fortaleza;
- Reconhecer a relevância territorial, cidadã, democrática, social, política e afetiva das cozinhas;
- Visibilizar os conhecimentos, saberes, práticas, artefatos, culturas alimentares e práticas de cuidado e mobilização social produzidas por esses agentes, evidenciando a existência de tecnologias sociais produzidas nas periferias;
- Dialogar com o público sobre o papel estratégico dessas instituições e espaços no enfrentamento à fome e às múltiplas violências e violações de direitos que atravessam os territórios, buscando a constituição de políticas públicas territorializadas de segurança alimentar e nutricional;
- Evidenciar o protagonismo político periférico e popular-comuntiário da Rede de Cozinhas Comunitárias do Grande Bom Jardim (carta-rede-de-cozinhas-gbj (cdvhs.org.br)), desde o Mapa Participativo de Enfrentamento à Fome do Grande Bom Jardim, gerando dados científicos e popular-comunitários, formulando demandas, recomendações e propostas, atuando de modo pragmático e emergencial, mas também buscando mudanças estruturais e permanentes.
Saiba como acompanhar a série
Os episódios completos, com aproximadamente 20 minutos cada, com entrevistas com as principais lideranças das Cozinhas Comunitárias serão publicados semanalmente no canal do grupo de extensão e pesquisa Diálogos Urbanos no YouTube. Cada episódio com as cozinhas terá também trechos curtos adaptados para Instagram e Facebook em formato de reels, promovendo uma aproximação maior com o público geral.
A cada semana, mais cozinhas serão apresentadas, com conteúdos divulgados diariamente nas redes sociais do Diálogos Urbanos, incluindo vídeos, carrosséis informativos e materiais interativos nos stories.
O projeto também culminará com uma exposição pública no território do Grande Bom Jardim, prevista para acontecer no segundo semestre deste ano no Centro Cultural Bom Jardim, integrando os três anos de constituição da Rede de Cozinhas Comunitárias do Grande Bom Jardim e os dez anos de atuação do Grupo de Extensão e Pesquisa Diálogos Urbanos.
Sobre o projeto
“Saberes, Sabores e Afetos” é uma ação do Grupo de Extensão Diálogos Urbanos, vinculado à Unilab e ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), que desenvolve trabalhos em territórios populares com foco em escuta, participação, dinâmicas educativas, ações extensionistas e de pesquisa e construção coletiva de conhecimento. A proposta reafirma o compromisso da universidade pública com a valorização de saberes periféricos e com o fortalecimento das redes de cuidado, das políticas públicas democráticas e cidadãs e do protagonismo político popular-comunitário existentes nos territórios periféricos.
O Projeto vincula-se a outras ações desenvolvidas nos últimos anos: (1) os projetos de extensão “Diálogos urbanos, direito à cidade e justiça social (2023)”, “Diálogos urbanos, democracia e movimentos sociais” (2024) e “Diálogos urbanos, movimentos sociais, povos e comunidades tradicionais (2025)”; (2) o projeto de Iniciação Tecnológica “Cozinhas comunitárias como tecnologias sociais: uma análise a partir do Grande Bom Jardim, Fortaleza, Ceará (2023-2024), com fomento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico); (3) o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) do Bacharelado em Humanidades (BHU) da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), intitulado “Cozinhas comunitárias, alimentação e diversidade religiosa no Grande Bom Jardim”; (4) o projeto “Fortalecimento da Rede de Cozinhas Comunitárias do Grande Bom Jardim”, com proposição do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), parceria do Grupo Diálogos e apoio financeiro da CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviço), em 2023; (5) o Mapa Participativo de Enfrentamento à Fome do Grande Bom Jardim, parceria entre o Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), o Grupo Diálogos, o Grupo NUPEGA, as cozinhas comunitárias e a Associação de Catadores e Catadoras de Material Reciclável do Bom Jardim.
CONTEÚDO RELACIONADO
- Até 21/07, abertas as inscrições para o Prêmio Optica, que visa incentivar a excelência acadêmica de estudantes
- Conceito de Jihad em crônicas islâmicas oeste-africanas é tema de debate online dia 23/05, às 14h; inscrições abertas
- Cem mulheres do CE são certificadas no I Curso de Defensoras Populares, projeto de extensão realizado em parceria com a Unilab
- Abertas inscrições para palestra que marca reinício do Clube de Xadrez Dama da Liberdade
- Projeto de extensão Mwana´Ngola, na área de danças tradicionais de Angola, está com inscrições abertas para novos integrantes