Unilab comemora 50 anos da independência de Timor-Leste com presença da embaixadora timorense no Brasil

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), celebrou os 50 anos da proclamação da independência de Timor-Leste no último 28 de novembro.
O evento, realizado pelo Instituto de Humanidades e Letras do Campus dos Malês/Unilab junto com a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA, contou com a presença da embaixadora timorense no Brasil, Maria Ângela Carrascalão, e do Embaixador Francisco Luz, diplomata representante do Ministério das Relações Exteriores (MRE) na Bahia.
Participaram da mesa de abertura o estudante timorense da Unilab Wojtyla da Silva e diplomatas representantes do Brasil e do Timor-Leste, além autoridades representantes da UFBA. O embaixador Francisco Luz abordou aproximações diplomáticas e acordos de cooperação entre os dois países, com foco no intercâmbio educacional.

Já a embaixadora Maria Ângela Carrascalão falou sobre o processo da luta por independência em seu país, levantando questões acerca da construção da identidade nacional, do Estado de Direito e de um sistema de justiça timorense, trazendo o papel da língua portuguesa na manutenção da autodeterminação e soberania de Timor-Leste.
Em seguida, a mesa-redonda intitulada “Passados imaginados, crises do presente e futuros em disputa” formou-se pelo docente do Bacharelado de Relações Internacionais da Unilab, Daniel De Lucca; pela professora do Departamento de Sociologia da UFBA Camila Tribess; e pelo estudante timorense de Relações Internacionais/Unilab, Lídio Monteiro.
Camila Tribess destacou o papel das mulheres no combate ao colonialismo, na diáspora e na diplomacia timorense em África, sobretudo em Moçambique, e o protagonismo da juventude feminina na história da educação e da organização política daquele país asiático. Daniel de Lucca abordou uma história das relações do Brasil com a “questão de Timor” nos anos da ocupação Indonésia (1975-1999), contextualizando as contradições da política externa do Brasil face às estratégias, os grupos e as manifestações de solidariedade internacional da sociedade civil brasileira na luta pela libertação de Timor-Leste. Por último, o estudante Lídio apontou a importância da recente adesão de Timor-Leste na Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) – o maior bloco econômico do Sul Global – ocorrida na mesma Cúpula, em Kuala Lumpur, em que o presidente Lula encontrou o presidente Donald Trump, desarmando as tensões bilaterais advindas com o tarifaço dos EUA.

Os docentes palestrantes são especialistas na história política do país asiático, sendo a tese de doutorado de de Lucca “A Timorização do Passado: nação, imaginação e produção da história em Timor-Leste”, já publicada como livro pela Edufba; e a tese de Camila Tribbes, intitulada “Por uma Pedagogia Buibere: atuação política e diplomática das mulheres de Timor-Leste”, tendo sido recentemente premiada como melhor tese em Ciências Humanas da UFBA.
Por fim, frisando ainda a solidariedade internacional entre os países de língua oficial portuguesa, lamentou-se o recente golpe de Estado ocorrido na República da Guiné-Bissau, onde o chefe do Executivo foi deposto e o cargo foi, então, ocupado por um militar não eleito. Os participantes do evento leram uma carta-declaração da Rede Malês, Movimento Social de Educação Popular, articulado por estudantes, ex-estudantes e candidatos a estudantes da Unilab, exigindo respeito ao Estado de direito, à democracia e ao processo eleitoral em Guiné-Bissau. Além fortalecer a parceria da Unilab com a UFBA, em especial com o Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao), o evento trouxe para o primeiro plano a experiência asiática, afirmando a presença timorense na Unilab por meio de conexões e contrapontos existentes com as realidades africanas e brasileiras. “A participação de embaixadores timorenses e brasileiros também reforçou a dimensão do projeto de educação cosmopolita e de cooperação internacional voltada ao Sul Global que constitui a Unilab”, comentou o professor Daniel de Lucca. Em depoimento, o estudante de Relações Internacionais moçambicano Tuboi Chaúque afirmou que “o mais interessante é que compreender a história de Timor-Leste também nos fez compreender melhor a história do Brasil e dos nossos países africanos de uma outra perspectiva”.