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8 de março: quem somos e o que queremos, afinal?

Data de publicação  08/03/2024, 09:12
Postagem Atualizada há 9 meses
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“Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância”. A famosa frase da filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) ainda se mostra útil para dar conta de parte das demandas femininas em mais um Dia Internacional da Mulher. O que queremos, afinal? Para começar, uma vida livre de violências de gênero, com acesso ao mercado de trabalho e rendimentos iguais aos dos homens que ocupam os mesmos cargos; liberdade para decidir sobre o próprio corpo, decidir onde quer estar, com quem se relacionar, o que estudar.

É preciso muita força e determinação para continuar sonhando (e lutando) com tudo isso em um país que é o quinto em números de feminicídios, por exemplo. Muita resiliência é necessária quando, apesar da lei 14.611/2023, ainda vivenciamos grande disparidade de gênero no mercado de trabalho.

Segundo boletim do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os problemas sobre a inserção das mulheres no mercado de trabalho são taxas de desemprego mais altas, menores salários, dificuldades de crescimento profissional e maior informalidade em relação aos homens, causados por preconceitos e desigualdades como a dificuldade de se aceitar que mulheres possam comandar; a discriminação e o assédio; e a difícil conciliação entre afazeres domésticos e atividades profissionais.

“No 4º trimestre de 2023, 66,286 milhões pessoas estavam fora da força de trabalho e, dessas, 42,839 milhões eram mulheres, o que corresponde a 64,6% do total. Entre o 4º trimestre de 2022 e o de 2023, houve aumento de 358 mil mulheres e 26 mil homens fora da força de trabalho, um indicador da dificuldade de inserção e permanência que elas enfrentam no mercado de trabalho”, informa o documento.

A pandemia também deixou mais marcas no público feminino, pois “sobrou” para as mulheres o acúmulo entre trabalho fora de casa e cuidados domésticos e com parentes. Aliás, a noção errônea de que apenas às mulheres cabem os cuidados de familiares e atividades do lar nos conduziu à chamada crise do cuidado, em que as mulheres estão sobrecarregadas e exercendo atividades de cuidado que não são remuneradas nem sequer vistas como um trabalho.

“Enquanto a participação dos homens voltou ao nível anterior à crise sanitária, elas sentiram mais dificuldades para voltar ao mercado de trabalho e enfrentaram taxas de desemprego mais altas. Durante a pandemia, algumas mulheres assumiram tarefas adicionais nos domicílios (como o cuidado de outras pessoas). Outras perderam postos de trabalho em atividades mais afetadas pela crise (comércio, restaurantes e serviços) e, mesmo com a retomada da economia, muitas ainda não conseguiram se recolocar”, reforça a pesquisa do Dieese.

Kaé Stoll é professora e coordenadora do Programa Ciência é 10! na Unilab. Foto: Secom/Unilab.

A professora e coordenadora do Programa Ciência é 10! na Unilab, Kaé Stoll, relata dificuldades que vão ao encontro do que diz o Dieese. “Mesmo sendo uma instituição federal relativamente jovem, as marcas da desigualdade de gênero fazem parte do nosso cotidiano institucional. São poucas as mulheres que conseguem, por exemplo, ocupar cargos de gestão e, quando isso ocorre, muitas são desestimuladas, desacreditadas e até mesmo subjugadas por pares, geralmente do sexo masculino. O assédio moral e psicológico também é uma realidade muito vivenciada e pouco combatida”, disse.

Apesar dos problemas, Kaé acredita que, levando a sério o debate sobre o lugar das mulheres na ciência e em espaços de liderança na universidade, o cenário pode mudar, gerando ganhos para todos. “A Unilab tem um grande potencial, a partir de uma perspectiva interseccional de enfrentamento, de se tornar referência na luta contra as desigualdades de gênero que ainda fazem parte da nossa realidade”, conclui.

Cláudia Carioca é professora e vice-reitora da Unilab. Foto: Secom/Unilab.

A vice-reitora, Cláudia Carioca, também fala dos desafios e do combate diário para “ser quem você é”, que anda lado a lado com a sensibilidade e resiliência, “promovendo a paz e o bem comum entre todas aquelas e todos aqueles que fazem a Unilab”.

Meury Santos tem 36 anos e trabalha na Unilab há 12. Foto: Secom/Unilab.

Meury Santos, mulher trans, também peleja para ser quem é. Ela trabalha na Unilab há 12 anos, o que representa um terço de sua vida. “Enfrento desafios todos os dias lutando pelo espaço que me pertence como auxiliar de serviços gerais e tenho enorme prazer no serviço. Sou uma pessoa trans, uma mulher. Respeito e quero respeito”, afirmou.

Fernanda Santos é chefe da Seção de Promoção da Igualdade Racial (Sepir/Propae). Foto: Secom/Unilab.

A chefe da Seção de Promoção da Igualdade Racial (Sepir/Propae), Fernanda Santos, está na Unilab há oito anos e diz de sua satisfação em participar de forma mais efetiva da vida acadêmica de muitas pessoas. “Estar na gestão é uma responsabilidade grande com o serviço público e o bem-estar de todos que fazem uso desse serviço, seja o público interno ou externo”, comenta.

A estudante moçambicana Benevelita Mamite cursa o segundo semestre de Física. Foto: acervo pessoal.

Após atravessar o oceano para realizar o sonho de estudar na Unilab, a jovem estudante moçambicana Benevelita Mamite cursa o segundo semestre de Física na universidade e destaca a dor e a delícia de ser uma mulher internacional em um curso das exatas. “Não é uma tarefa fácil para mim, estou num curso muito desafiador como mulher. A cada desafio que o meu curso me proporciona, lembro-me que não é por acaso que eu estou aqui estudando, ergo a cabeça, reúno minhas forças para continuar enfrentado, pois, são esses desafios que me dão certeza que estou fazendo o certo. Mulher moçambicana tem força, e da Unilab sairei com chave de um futuro brilhante que somente a educação proporciona”, declara com a beleza da fé no que virá.

Tudo interligado

A participação desigual das mulheres no mercado do trabalho gera o empobrecimento feminino, que, somado a outros fatores, deixa as mulheres em vulnerabilidade quando o assunto é violência de gênero.

De acordo com pesquisa da revista digital AzMina, sair de um ciclo de violência doméstica requer muito mais que força de vontade ou decisão, mas amparo social e estatal, com acesso a recursos financeiros, lugares seguros, acolhimento, informação e rede de apoio.

“A falta de recursos financeiros prejudicou o rompimento das relações em 38% das situações. Sem dinheiro, mulheres pobres se veem presas às relações, por anos, para garantir o mínimo de sobrevivência – delas e dos filhos. O auxílio em dinheiro é uma demanda já prevista pela Maria da Penha e com jurisdição nacional, apesar de não ser cumprida em todos os estados e municípios”, destaca a publicação.

Outro ponto que dificulta a quebra do ciclo da violência de gênero – cuja expressão extrema é o feminicídio – é a própria socialização feminina na sociedade machista. “Na nossa cultura, homens aprendem a amar muitas coisas, e mulheres, a amar os homens”, alerta a psicóloga e pesquisadora na área de Saúde Mental e Gênero, Valeska Zanello. O desdobramento disso é que as mulheres se sintam validadas socialmente (com segurança e respeito) apenas quando estão em relação com um homem, o que gera resistência em romper relacionamentos, ainda que não saudáveis. A construção social acabaria por estimular a dependência feminina, mesmo em situações em que as mulheres têm acesso a recursos financeiros.

Suporte

Se você é mulher e está em situação de violência, ligue 180, e procure o equipamento público disponível em seu território: Delegacia da Mulher, Centro de Referência da Mulher (Cram), Centro de Referência de Assistência Social (Cras), as Defensorias Públicas (DP) e o Ministério Público (MP).

Na Unilab, o Núcleo de Atendimento Social ao Estudante (NAE/Propae) realiza atendimento e acompanhamento social aos/às estudantes mulheres fornecendo orientações e esclarecimentos sobre direitos e deveres para o exercício da cidadania; orientação e encaminhamento de discentes que vivenciam violências de gênero e articulação intersetorial com equipamentos públicos, como a Casa da Mulher Brasileira de Fortaleza e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas/Redenção), para encaminhamentos de discentes-mulheres que apresentem situação de violências.

As mulheres-mães são público prioritário para a atribuição de auxílios do Programa de Assistência ao Estudante (Paes), a partir de análise socioeconômica.

Sigamos juntas por um 8 de março e toda uma vida de respeito, equidade, justiça social, alegria e afeto!

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