MOÇAMBIQUE – HIV/AIDS provoca mudanças nos ritos de circuncisão masculina
Na província de Nampula, norte de Moçambique, a prática da circuncisão tem vindo a ser abandonada. Devido aos elevados índices de propagação do HIV/AIDS e doenças infeciosas, opta-se cada vez mais por cirurgias. Essas mudanças de atitude em relação à prática da circuncisão acontecem numa fase em que o Governo tem lançado programas de sensibilização sobre os efeitos negativos de rituais de iniciação.
Durante a circuncisão com métodos tradicionais, localmente designada por ‘emuali’, ou ritos de iniciação, as crianças, adolescentes e jovens circuncisados (chamados Lukhos) são isoladas num período de 30 a 40 dias e são submetidos a vários testes para a educação moral.
Tradicional e o moderno
Chehe Abdala, de 75 anos de idade, natural da província de Nampula, promove ritos de iniciação há cerca de 30 anos. “Antigamente, a circuncisão era feita de uma forma muito simples: uma faca para muitas pessoas. Hoje cada circuncisado tem o seu material porque o processo antigo trazia problemas como o HIV/Aids”, reconhece. Chehe Abdala conta que este ano, pela primeira vez, abandonou os métodos tradicionais e optou pela circuncisão feita no hospital. Apesar de considerar que este tipo de operação é segura, lembra a importância dos rituais da circuncisão como uma prática e costume local.
O docente universitário Lucas Mangrasse defende que a circuncisão masculina, realizada de forma tradicional por grupos conservadores, não é aceitável pelas sociedades modernas, uma vez que pode provocar a propagação de doenças infeciosas. Apesar de não ser contra o culto de tradições, Mangrasse acredita que elas poderiam ser revistas. “Os nossos jovens precisam de educação. E essa educação, independentemente de ser oficial ou não, acho que há algo a aproveitar nesses ritos de iniciação tradicionais. Mas julgo que o que deveria ser retificado é que a própria circuncisão não deveria ser feita em moldes tradicionais.”
Tradição e Práticas seguras
Por outro lado, o professor Sebastião Miranda Zambo considera que a circuncisão masculina com a utilização de métodos tradicionais não é a causa da propagação de infeções e do HIV/AIDS, uma vez que a prática já vem sendo realizada há muitos anos. O professor sublinha ainda que a circuncisão masculina com métodos tradicionais melhorou bastante, já que os líderes tradicionais contratam enfermeiros e pessoas especializadas para a realização das cirurgias.
Segundo Joselina Calavete, médica chefe e generalista na Direção Provincial de Saúde em Nampula, a instituição já tem um plano para trabalhar com os líderes tradicionais, para que a circuncisão masculina seja realizada de forma segura e regulada, evitando a propagação de doenças infeciosas incluindo o HIV/AIDS. “O nosso papel é garantir que este processo ocorra da maneira mais saudável possível, considerando todas as normas de segurança”, declara. Este ano, a Direção Provincial de Saúde assistiu, através do Programa Nacional de Saúde, mais de 6.300 circuncisões nos 21 distritos de Nampula, revelou Calavete.
Fonte: Deutsche Welle