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ANGOLA – Ondjaki lança novo livro para crianças

Data de publicação  02/07/2014, 09:07
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banderia-angolaNo último dia 17 de junho, o escritor angolano Ondjaki lançou um novo livro para crianças intitulado “Ombela: A Estória das Chuvas”, no Instituto Camões, em Luanda. Ondjaki tornou-se uma presença regular no mundo literário lusófono: desde 2010, lançou cinco livros, de vários géneros, em Angola, Portugal e Brasil. No mesmo período ganhou oito prêmios diferentes e viu os seus livros serem traduzidos e publicados em mais de sete países.

Livro "Ombela: A Estória das Chuvas

Livro “Ombela: A Estória das Chuvas

Prestes a completar 37 anos, o autor, cujo pseudônimo significa “Guerreiro” em umbundu, ganhou o Prêmio Literário José Saramago, em 2013 com a obra “Os Transparentes”. Mas tem sido os livros infanto-juvenis que mais tem ocupado o escritor angolano ultimamente.

Escritor angolano Ondjaki

Escritor angolano Ondjaki

Confira abaixo a entrevista do autor dada ao Deutsche Welle – África que falou sobre a sua inspiração e o seu processo de criação.

DW África: Pode resumir o livro, sem desvendar a história?
Ondjaki: Ombela significa chuva em umbundu e este livro é, supostamente, sobre o mito que fala das origens das chuvas, de como as chuvas surgiram no mundo. Aborda esta deusa, uma deusa chamada Ombela, e na realidade o modo como ela descobriu as chuvas tem a ver com a tristeza e com a alegria. Tem a ver com o chorar quando se está triste, chorar quando se está alegre e com o tipo de lágrimas que gera água salgada ou a água doce. É um mito, é uma história mesmo infantil, para crianças. As ilustrações são da Rachel Caiano e este livro ganhou um prêmio em Angola em 2012, mas por razões técnicas só agora é que o conseguimos apresentar em Angola.

DW África: Qual foi a inspiração para este livro?
Ondjaki: Eu queria mandar este livro para um concurso literário, que era o prêmio infantil Chá de Caxinde e eu gosto muito da palavra “ombela”, gosto muito da chuva e comecei a pensar nisso, como é que será que a chuva foi criada? E em vez de dizer que foi Deus ou outra coisa assim, acho que resolvi de outra maneira, criando e explicando este mito. As ilustrações também ajudam – elas ajudaram-me a contar a história. Mas não sei de onde veio a inspiração, não sei dizer.

Ombela, a personagem principal do novo livro, é uma deusa "feminina" que criou a chuva.

Ombela, a personagem principal do novo livro, é uma deusa “feminina” que criou a chuva.

DW África: A personagem principal é uma menina. O fato de ser mulher foi escolhido por algum motivo especial ou foi um acaso também?
Ondjaki: Não, porque eu acho, realmente, que só uma criatura do gênero feminino – ela não é uma mulher no sentido humano, porque ela é uma deusa e eu não sei onde ela vive. Mas só uma deusa do gênero feminino seria capaz de inventar uma coisa tão bela, tão criadora e tão regeneradora como a chuva. Então acho que quis atribuir isso a uma deusa, em vez de um Deus.

DW África: No sumário fala-se muito das lágrimas e de alguma tristeza, fala-se de como nem sempre as pessoas estão felizes. Acha que essa é uma mensagem importante para as crianças?
Ondjaki: Para lhe dizer a verdade, quando escrevo não planifico muito a mensagem, é uma coisa que nos surpreende ao longo da história. Mas nesta história fala-se de uma mulher que justamente compreende que nem sempre é possível estar contente e não seria muito bom estarmos sempre tristes. E nessa oscilação, entre o triste e o contente, que o pai dela lhe vai ensinando, digamos, a trabalhar com a ideia da lágrima e depois da lágrima que se transforma em chuva. É uma ideia de equilíbrio e a natureza mostra-nos isto todos os dias: há a lua e há o sol, há o dia e há a noite, há o inverno e o verão e nós também somos assim. Dentro de nós, às vezes faz verão e às vezes faz inverno. Mas eu acho que as crianças já sabem disso, não estão à espera que um adulto nem eu lhes vá contar essa história.

DW África: Tudo isto são temas relativamente naturais: fala muitos dos rios, dos mares, da natureza, de usar a água doce de umas lágrimas para agricultura. É um tema que acha que deve ser passado às crianças ou foi algo que simplesmente apareceu quando estava a escrever?
Ondjaki: Estas coisas a gente também não pode saber exatamente de onde é que veem: eu sei que sou uma pessoa que adoro a chuva e sou muito afetado pela chuva. Gosto de água, gosto do mar, adoro a água salgada, o sal… Portanto estas coisas, se estão dentro de nós, há um dia, que por uma conjuntura de fatores, se as vamos escrever, elas saem assim. Eu não procuro tanto essa explicação; procuro analisar o resultado, se o livro está bem, se está composto. Depois quando recebo as ilustrações volto a pensar no texto… Está um resultado bonito. Eu estou em paz com o resultado conseguido e acho que a Ombela também feliz. Isso, para mim, chega.

Fonte: Deutsche Welle – África

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