CPLP – Os desafios e avanços do acordo ortográfico da Língua Portuguesa
Se em Portugal a nova grafia vai entrando timidamente no hábito dos cidadãos e das instituições, em países como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, o processo ainda está atrasado por fatores diversos, entre os quais – sobretudo – os de ordem logística e financeira. Segundo Madalena Arroja, diretora de Serviços de Língua e Cultura do Instituto Camões, a uniformização da grafia, conforme o Acordo Ortográfico de 1990, é fundamental para a promoção da língua portuguesa a nível internacional, mas também é imprescindível nos sistemas de ensino nos países lusófonos.
Madalena Arroja salienta que “todos os países são soberanos e quando assinam um acordo é para trazer vantagens” e conclui: “Para os alunos é mais fácil ter uma norma do que estar a trabalhar com duas normas em termos de escrita.”
Nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) tem sido lento o processo logístico para a aplicação do acordo. As razões são várias, sensíveis até, mas sobretudo de natureza financeira. Segundo Marisa Mendonça, diretora executiva do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), “há que respeitar aquilo que são as vontades nacionais. Os países têm registos de índices econômicos e de desenvolvimento diferenciados. Não sabemos quanto tempo será dado para a adoção de uma nova grafia. Depende de uma série de elementos que se prendem fundamentalmente com a parte econômica.”
Países africanos devem coordenar as suas políticas de língua
Entidades como o IILP acreditam que muito em breve os países africanos possam avançar, de forma articulada, para a entrada em vigor do acordo. Em Portugal, as novas regras estão a ser aplicadas sem atropelos, disse o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, durante um seminário, realizado em 5 de janeiro de 2015, para a apresentação da Ação Cultural Externa portuguesa em 2015, que terá como um dos focos os 40 anos das independências dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.
O governante português recorda que “a língua portuguesa é sem dúvida um dos elementos mais relevantes da comunidade” e conclui: “Esperamos que possa ser valorizada no futuro, para além do que tem sido.”
As resistências à implementação do Acordo Ortográfico existem. Nem todos os jornais aplicam as novas regras. Há instituições que ainda usam a ortografia anterior. Recentemente várias individualidades, entre elas a ex-ministra portuguesa da Cultura, Isabel Pires de Lima, subscreveram uma ação judicial popular, apresentada no Supremo Tribunal Administrativo de Lisboa, contra a aplicação do Tratado de 1990 no ensino. Também nos países africanos lusófonos o acordo tem alguns opositores.
Madalena Arroja continua, no entanto, convencida, que “mais dia, menos dia os países vão aderir ao acordo ortográfico.” A sua previsão é de que “daqui a alguns anos o português será uma língua mais uniformizada sob o ponto de vista ortográfico.”
A diretora de Serviços de Língua e Cultura do Instituto Camões recorda, a propósito, uma imagem do escritor moçambicano Mia Couto, que disse que a língua portuguesa está a evoluir: “A língua portuguesa é veloz, mas é veloz como a palmeira que dança, dança todas as brisas, mas que não arranca as suas raízes do chão.”
Segundo Madalena Arroja e Marisa Mendonça, o fato da nova ortografia estar sendo implementada a várias velocidades não afeta a estratégia de promoção e expansão internacional da língua falada por mais de 300 milhões de pessoas.