Professora da Unilab, Luma Andrade profere aula magna de abertura do semestre na UFSC
A professora Luma Andrade, do Instituto de Humanidades e Letras (IHL) da Unilab proferiu aula magna na última terça-feira (15), na abertura do primeiro semestre letivo de 2016 da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Luma é a primeira travesti a conquistar o título de doutora e a ocupar o cargo de professora de uma universidade pública e federal no país.
A partir do tema “Moral, código (i)moral e (i)moralidade dos costumes: a relação entre sujeitos e normas em épocas e lugares diferentes”, a professora iniciou a aula explicando que se identifica e se autodenomina como travesti por uma questão política: “Por que eu não posso me afirmar enquanto travesti? Enquanto transexual? O que fizeram com nossas travestis ao longo da história?”. Argumentou ainda que a sociedade, em diferentes épocas, excluiu as travestis de suas instituições, lares, escolas e justamente por isso é preciso criar linhas de fuga, inventar outras possibilidades, “fissuras nas normas”: “Estou aqui para dizer que é possível, sim, para uma travesti, ser doutora, ser professora universitária”.
Tendo como principal referência a obra “História da Sexualidade”, de Michel Foucault, Luma expôs a evolução do conceito de moral e moralidade desde a Antiguidade, passando pela Idade Média, até os dias atuais. Segundo ela, a cultura condiciona a visão de mundo e interfere, inclusive, no plano biológico, quando institui um modelo idealizado de homem e mulher. “Se hoje somos racistas, sexistas, é porque fomos adestrados a compreender o mundo nessa perspectiva. Mas é preciso estar aberto para as diferenças.”
Estiveram presentes a reitora Roselane Neckel, a vice-reitora, Lúcia Helena Martins-Pacheco, e a pró-reitora de pós-graduação Joana Maria Pedro, que presidiu a mesa.
Público
Minutos antes da aula começar, a caloura do curso de História, Thayná Costa, 22 anos, aguardava com grandes expectativas: “Achei incrível uma travesti ser convidada para recepcionar os calouros. A universidade, principalmente a universidade pública, deve se posicionar contra as discriminações e dar o exemplo. Não sou trans, sou cis (cisgênero, que se identifica com o seu ‘gênero de nascença’), mas quero aprender com a professora sobre respeitar o diferente e não reproduzir opressões.”
Quando Luma encerrou seu discurso, o público a aplaudiu de pé, demonstrando grande contentamento com o que acabara de ouvir. Dandara Manoela Santos, 23 anos, aluna da 5ª fase do Serviço Social, disse estar muito satisfeita: “Achei fantástico. Foi uma experiência bem positiva. Eu já tinha ouvido falar bem dela, mas ela me surpreendeu, foi além do que eu tinha imaginado. O que mais me chamou a atenção foi quando disse que a gente tende a reproduzir os mesmos comportamentos que criticamos.”