Oficina com Kiusam de Oliveira redimensiona a noção de corpo a partir da Ancestralidade Africana
Pensar o corpo como um livro. No sentido de que este também carrega consigo uma história, tem marcas profundas ou epidérmicas e guarda uma memória repleta de significados. Um corpo que, como alguns livros, precisa ser reescrito. Nessa interrelação entre corpo e livro, palavra e movimento, é que a programação da Bienal fora da Bienal, que acontece na Unilab, proporcionou a oficina “Corporeidade Poética: Transcendendo o Corpo partindo da Ancestralidade Africana”.
A oficina, ministrada pela professora, escritora, bailarina e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Kiusam de Oliveira, aconteceu na manhã desta quinta-feira (20), no pátio da Unidade Acadêmica dos Palmares, em Acarape/CE, e contou com participação de estudantes e professoras da Unilab.
Kiusam começou afirmando que “Todo corpo é um livro e tem uma história para contar. O corpo, inclusive, oferece histórias que a gente não quer reencontrar, não quer recontar. Mas, é preciso que esse corpo esteja aberto para compartilhar, dar e receber”.
Para reforçar a importância do ato de compartilhar, Kiusam lembrou de uma ação com pessoas em situação de rua ocorrida na noite anterior na Praça do Ferreira. Esta ação, que também integrou a programação da Bienal fora da Bienal, reuniu Kiusam e essas pessoas em torno do ato de contar histórias. No transcorrer da atividade chegaram, como de costume, pessoas que oferecem sopas e pães para aqueles em situação de rua. As crianças, além da sopa, ganharam doces. E não pensaram duas veze e dividiram, com todos que faziam parte da ação, suas guloseimas.
Esse ato de compartilhar das crianças sensibilizou Kiusam. A professora lembrou aos participantes da oficina que é muito comum a gente aceitar que as crianças sejam nessa idade egoístas, que não queiram dividir com os outros seus brinquedos, seus doces. Mas, o que ela havia vivido ontem [na Praça do Ferreira] mostrava exatamente o contrário. Ela viu crianças que tem muito pouco, dividindo esse pouco, que foi dado por outros, com todos. E isso para a professora teve e tem um grande significado porque já mostra esse corpo infantil aberto para a partilha, para a diferença.
E construir uma nova dinâmica para o corpo ou para o conceito de corpo era um dos objetivos dessa oficina.
Kiusam lembrou que em nossa sociedade a noção de corpo é construída de maneira hegemônica. “Os corpos são construídos numa lógica eurocêntrica. Um corpo mecânico, dividido, que tem uma estética rígida e definida de comportamento, de como deve se portar, caminhar e se vestir. Essa lógica eurocêntrica desconhece ou não leva em consideração nosso corpo afro-brasileiro, nossa ancestralidade africana, que é totalmente diferente na sua forma de andar, dançar e se vestir”.
Foi exatamente esse corpo afro-brasileiro e sua ancestralidade africana que Kiusam trouxe à tona por meio da dança, da palavra e da brincadeira.
Sobre a palestrante
Kiusam de Oliveira ingressou no programa de pós-graduação stricto-sensu (Mestrado) do Instituto de Psicologia da USP em 1994, onde já chamou a atenção pela temática focada nos processos de construção das identidades de professoras negras que lecionaram em São Paulo nas décadas de 30, 40, 50, defendido em 1998, sob a orientação da Profª Drª Eda Marconi Custódio. Dez anos depois, defendeu seu doutorado, aprovado com louvor, na Faculdade de Educação da USP, departamento de Cultura, Organização e Educação, orientada pela Profª Drª Kátia Rúbio, se aprofundando na temática das identidades das mulheres negras e acrescentando os conceitos de corporeidade e empoderamento feminino, dentro do universo do Candomblé de Ketu e Educação.
Para saber mais acesse: www.kiusamoficial.com