Tomaz Santos, ex-reitor da Unilab, recebe o título de professor emérito na Universidade Federal de Minas Gerais
Reitor pro tempore da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), de março de 2015 a novembro de 2016, Tomaz Aroldo da Mota Santos recebeu o título de Professor Emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na noite desta quinta-feira (18), no auditório da Reitoria. Na instituição mineira, da qual é docente aposentado, ele também exerceu o cargo de reitor na gestão 1994-1998 e diretor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) por dois mandatos. Tomaz fez, em seu discurso, uma reconstituição do longo percurso entre o curso primário na pequena Itapeipu, na Bahia, até a cerimônia de ontem, quando recebeu a principal honraria outorgada a um professor. Ele recebeu o diploma de emérito do reitor Jaime Ramírez e da diretora do ICB, Andréa Mara Macedo.
Tomaz Aroldo salientou que sua trajetória não é obra exclusiva do próprio mérito. “Meu empenho foi indispensável, mas eu não me fiz sozinho. Muito devo à educação pública. Viva o povo brasileiro”, registrou ele, sob aplausos da plateia que lotou o auditório da Reitoria.
Contribuição institucional e pesquisa
Em seu pronunciamento, Tomaz Santos fez uma breve explanação de suas contribuições como reitor da UFMG – abertura de novos cursos, flexibilização curricular, ampliação do acervo das bibliotecas, estímulo à educação de jovens e adultos, aprovação da política de moradia universitária, entre tantas outras – e discorreu sobre o seu trabalho de pesquisa no campo da imunologia da esquistossomose em parceria com o professor Giovanni Gazzinelli.
“Descobrimos a imunossupressão em animais infectados como possível mecanismo de atenuação das reações inflamatórias e de facilitação da adaptação do parasita ao hospedeiro. Deu-me muita satisfação estudar os mecanismos de resistência à infecção pelo Schistosoma mansoni e identificar fatores que afetam essa resistência e a descoberta de que a pele é o seu sítio”, explicou.
O professor aposentou-se em 2014, aos 70 anos, após findar seu segundo mandato como diretor do ICB, mas sua trajetória como gestor universitário não terminaria ali. Ele foi convidado a assumir, em caráter pró-tempore, a Reitoria da Unilab. “Ficamos no Ceará, Yara [a esposa Yara Maria Frizzera Santos] e eu, por quase dois anos, quando vivemos rica experiência para continuar a implantação da Unilab”, disse Tomaz, enaltecendo o princípio que norteou o advento e a própria atuação da Unilab. “A integração que está no seu nome cria um espírito de cooperação entre os povos brasileiro, africanos e asiáticos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa com a mediação de uma universidade pública brasileira”, afirmou.
Questão racial
Tomaz Aroldo também fez uma reflexão sobre sua negritude, o racismo e o papel da universidade no combate à discriminação. “Como primeiro reitor negro de UFMG, essa questão ganhou uma visibilidade que até então eu desconhecia”, afirmou o professor. Por um lado, ele disse ter percebido “certo estranhamento, principalmente externo à Universidade, em algumas vezes sugerido, noutras explicitado, de que eu estaria ocupando um lugar que não era meu; um lugar errado, inapropriado para um negro”.
Por outro, acrescentou, houve reações muito positivas: “Fui abordado por pessoas negras e não negras que, ao me verem nas funções de reitor, expressavam sentimentos de admiração e orgulho. Diziam-me, principalmente as pessoas negras, que se sentiam bem, valorizadas, me vendo na TV, nas formaturas, em eventos públicos, como reitor da UFMG. Sem que eu falasse, o meu corpo, como se fosse um discurso, dizia: negros podem ocupar funções de relevo, de maior prestígio social”.
O professor revelou que essa condição (de reitor e negro) deu-lhe “maior consciência da discriminação racial pelo que ela tem de mais iníquo” – a própria situação social do negro, que é vítima da educação precária, trabalha em atividades menos prestigiadas socialmente e é alvo preferencial da violência social. “Essa discriminação, que parece ser um simples detalhe da organização da nossa sociedade, é assunto com o qual devem ocupar-se explicitamente as universidades públicas para muito além da boa execução das políticas de cotas que, diga-se de passagem, já melhoraram – e muito – a presença da juventude negra brasileira na educação superior no Brasil”, afirmou Tomaz, em outro momento em que foi muito aplaudido.
Inquietações
Para o novo emérito da UFMG, as universidades têm grande responsabilidade na condução dos rumos do país. “Cabe a elas formar uma nova mentalidade na juventude brasileira, de modo a se estabelecer uma convivência fraterna, de tolerância e respeito às diferenças”, conclamou o professor. Ele também defendeu que a universidade dê sua contribuição para superar “o sentimento de ódio que permeia o debate político nesse momento difícil do nosso país, evitando a cristalização de uma mentalidade fraticida na sua juventude”.
Encerrando seu pronunciamento, Tomaz falou de suas “inquietações” em relação ao futuro do Brasil e das novas gerações e voltou a evocar o papel da universidade, que deve assumir a tarefa de “compreender a inquietação da sociedade nesse contexto, acolhendo os jovens de hoje como fomos acolhidos pela sociedade de ontem em nossa vontade utópica de abraçar e mudar o mundo”.
Sem fazer um diagnóstico – “esse não é meu campo”, salientou –, Tomaz Aroldo afirmou que sua intuição diz que a universidade precisa chamar a si a reflexão sobre o mundo de hoje, sobre a juventude e seu futuro. “Que a universidade acolha o mundo e o reconstrua. Eu acredito nela”, concluiu.
Liderança
A diretora do ICB, Andréa Mara Macedo, disse que a homenagem ao professor Tomaz se “reveste de valor ainda mais relevante” por causa do cenário hostil à educação pública de qualidade, à universidade, à ciência, à cultura, à diversidade e aos direitos humanos. “Tomaz mantém compromisso intransigente com os princípios democráticos, de justiça e de igualdade de oportunidades”, elogiou a professora, que mantém uma convivência de 35 anos com o emérito. Ela revelou um conselho que recebeu do professor quando assumiu a direção da Unidade, sucedendo ao próprio Tomaz: “Faça uma gestão para todos e mantenha sempre o coração e as portas abertas para as pessoas”.
Merecimento
No encerramento da cerimônia, organizada pela Congregação do ICB, o reitor Jaime Ramírez recorreu ao filósofo Aristóteles para justificar a concessão do título de professor emérito a um docente de destacada atuação na Universidade como o professor Tomaz. “A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las”. E acrescentou: “Emérito, pela etimologia latina da palavra, é aquele que ‘merece’ usufruir das honras do ofício pela contribuição prestada pela instituição”.
Sobre a trajetória do homenageado, Jaime Ramírez lembrou que Tomaz Aroldo é referência na gestão acadêmica: “Ele cumpre papel importante na reflexão sobre a inclusão social e políticas afirmativas e é ferrenho defensor das políticas de igualdade social e racial”. E finalizou: “Este gesto [a outorga do título] sinaliza que a instituição lhe pede para que continue presente em sua vida, nos ajudando a ensinar e a aprender, construindo assim uma sociedade cada vez mais relevante, justa e inclusiva, como você sonhou”.
O Gabinete da Reitoria da Unilab, na pessoa do reitor Anastácio Queiroz e em nome da comunidade acadêmica, manifestou cumprimentos amistosos a Tomaz Aroldo da Mota Santos pelo título recebido, bem como gratidão pela relevante contribuição dada na construção da Unilab.
Com informações do portal da Universidade Federal de Minas Gerais.
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