Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Universidade Brasileira alinhada à integração com os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Cerimônia confere grau a formandos do Bacharelado em Humanidades do Campus dos Malês

Data de publicação  21/08/2017, 23:52
Postagem Atualizada há 7 anos
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Formandos do período letivo 2016.2 | Foto: Secom/PMSFC

A noite da última sexta-feira (18) foi marcada por muita festividade e emoção no Campus dos Malês, em São Francisco do Conde/BA. Entre brasileiros e estrangeiros de diferentes países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), 63 alunos da segunda turma do Bacharelado em Humanidades (BHU) da Unilab no campus vivenciaram o momento da colação de grau, em uma cerimônia repleta de comemoração e expectativas.

Diante da comunidade acadêmica, convidados, familiares e autoridades locais, participaram da Mesa de Honra a vice-reitora da Unilab, Lorita Pagliuca, a diretora do Campus dos Malês, Fábia Ribeiro, o representante da Pró-reitoria de Graduação Paulo Fernando Carneiro, o diretor do Instituto de Humanidades e Letras (IHL), Maurílio Machado, o coordenador do curso de Bacharelado em Humanidades, Pedro Leyva, a paraninfa da turma, Maria Cláudia Cardoso, o secretário de educação de São Francisco do Conde, Marivaldo do Amaral, representando o prefeito do município, o vereador Luis de Campinas, representando o presidente da Câmara Municipal, o professor Marcos Carvalho, representando o corpo docente, e o patrono eleito pela turma de formandos, o ex-presidente da República e doutor honoris causa Luis Inácio Lula da Silva.

Juramentista Natália Ernesto | Foto: Secom/PMSFC

Para dar início à cerimônia de conclusão do primeiro ciclo do período letivo 2016.2, organizada com o apoio da Prefeitura de São Francisco do Conde, a vice-reitora, Lorita Pagliuca, fez a abertura oficial da solenidade, seguida da execução de trechos dos hinos dos países da comunidade de língua portuguesa. Continuando o protocolo, a estudante Natália Ernesto proferiu o juramento, acompanhada da turma de formandos. Depois disso, foi a vez da vice-reitora conferir o grau de bacharel à turma. Na sequência, minutos de grande emoção marcaram a entrega simbólica dos canudos, feita em uma parceria entre a vice-reitora e o ex-presidente Lula, aos 63 concludentes, individualmente.

Em um discurso de emancipação e resistência, a formanda Fabiana Gelard agradeceu aos familiares e enfatizou que muitos ali presentes foram os primeiros em seus lares a ingressar e terminar o ensino superior. “Realizar a cerimônia nas dependências do campus é muito emblemático, já que passamos nossos dias aqui, juntos. Nosso campus traz um nome de grande significado em comum entre África e Brasil. Uma história que foi negada durante muito tempo”, declarou a concludente.

Formanda Fabiana Gelard | Foto: Assecom

“De onde viemos, aprendemos a resistir desde cedo. Essa sempre foi nossa única alternativa. A Unilab é fruto da luta de muitas mulheres e homens que trilharam caminhos tortuosos para que hoje nós estivéssemos aqui. São anos de lutas sociais, em especial de negras e negros, para que tivéssemos o mínimo de respeito e equidade”, completou Fabiana, ao lembrar que a Lei de Cotas completou cinco anos neste mês de agosto e já possibilitou a entrada de mais de 200 mil negros ao ensino superior.

Muito do aprendizado acadêmico e também de experiência de vida, a formanda atribuiu ao professor Carlindo Fausto Antônio, sendo ele o docente homeageado pela turma. E, questionando “de que é feita uma universidade?”, Fabiana introduziu outras homenagens. “A Unilab não é só feita de doutores, papel, burocracia, conceitos, teorias, horários, programas e lágrimas. A Unilab é feita de gente. Gente que trabalha, estuda, se reconhece pelo nome e se estima. A tia da limpeza é gente. O segurança é gente. A tia do RU é gente. Todo funcionário da Unilab é gente. Somos uma ilha cercada de gente por todos os lados, que sabe o nosso nome, o que gostamos de comer. Gente como nossas mães e nossos pais”.

Francisca dos Anjos, funcionária do RU homenageada pelos alunos | Foto: Assecom

Foi nesse clima de gratidão e afeto que foram homenageadas a funcionária do Restaurante Universitário (RU) Francisca dos Anjos, representando todos os funcionários do restaurante, a funcionária de serviços gerais Gislaine Luiza Nascimento, um dos seguranças do campus, Fábio dos Santos, e o técnico-administrativo Felipe Imídio. Também foram agraciadas a paraninfa Maria Cláudia, o patrono Lula e a diretora titular do Campus dos Malês, Matilde Ribeiro.

Na sequência, o concludente Fernando Colônia, natural de Guiné-Bissau, fez uma fala emocionada a respeito da educação, diferenças e da tolerância às subjetividades que encontrou no campus. “Lembro quando chegamos na Unilab. Tínhamos uma imagem nebulosa e distorcida do Brasil. No entanto, durante o curso, construímos junto aos nossos professores um olhar mais próximo da realidade sobre os dois lugares”, enfatizou o formando, destacando a integração e a internacionalização, presentes no projeto e na prática da instituição.

Para a paraninfa Maria Cláudia Cardoso, coube tecer conselhos aos formandos, incentivando-os a fazerem o segundo ciclo do curso. “São janelas entreabertas, que precisamos terminar de abrir, mostrando a nossa potência, desconstruindo estereótipos sobre nós, explicando pedagogicamente os porquês de os outros estarem errados sobre nós. O nosso lugar de fala está escrito em nosso corpo. Precisamos nos apropriar dele como algo positivo e dar legitimidade a esse pertencimento”, assegurou a professora.

Diretora substituta do Campus dos Malês, Fábia Ribeiro | Foto: Assecom

A diretora substituta do campus, Fábia Ribeiro, também discursou acerca da troca de experiências, com base nas diferenças. “Louvo a nossa coragem de atravessar o Atlântico, de atravessar o país, de atravessar fronteiras e barreiras, muitas barreiras. Louvo a coragem de deixar para trás parentes, amigos, nossos amores. De nos embrenharmos no universo desconhecido, de nos debatermos todos os dias em busca dessa tal integração. Louvo o audacioso projeto da Unilab. Um projeto que se insere no contexto maior de aproximação, de reaproximação entre o Brasil e o continente africano, entre as duas margens do Atlântico. União e irmandade que se reflete na negritude de corpo e alma desses alunos, a quem eu louvo e dedico o meu carinho e admiração. Viva a Unilab”, declarou a diretora.

Na sequência, a vice-reitora da Unilab destacou que o direito à educação está garantido na Constituição, mas o acesso ainda não está universalizado. “Há inúmeras barreiras, sociais, físicas e econômicas, dentre outras”, reconheceu Lorita Pagliuca, que afirmou que o desafio é o estímulo à integração com os países de língua portuguesa da África e Ásia.

Vice-reitora da Unilab, Lorita Pagliuca | Foto: Assecom

Para a vice-reitora, a demanda de curso deve partir da comunidade acadêmica e civil. “Ela (a comunidade) tem que dizer que curso quer, o que a região e a população desejam”, acrescentou a professora, que recebeu com muito entusiasmo a alegria e leveza dos formandos e concluiu que a meta é chegar em 50% de alunos estrangeiros, para formar profissionais e pesquisadores brasileiros e internacionais.

O último pronunciamento da noite foi do patrono da turma e doutor honoris causa, Luís Inácio Lula da Silva. Em uma fala de contextualização, o ex-presidente explicou como surgiu a ideia de criar a Unilab, a partir de uma viagem sua ao continente africano, tendo em vista que a instituição foi criada em 2010, pela Lei nº 12.289, durante o seu governo.

Patrono da turma, ex-presidente Lula | Foto: Secom/PMSFC

Lula falou também sobre o preconceito e a diferença de tratamento entre brancos e negros, enfatizando a necessidade de reaproximar Brasil e África. “Vocês, negros e negras, africanos que estudam aqui… não devem nenhum favor a esse país e nem o Brasil está fazendo nenhum favor a vocês”, ressaltou o ex-presidente. E completou, “vocês têm que resistir, porque essa integração do Brasil com a África é uma necessidade geopolítica do século XXI”.

Para encerrar o evento, dois grupos de alunos da Unilab se encarregaram de levar muita música e arte para o público. Em um show de alegria e integração, os grupos Bota a Fala e Gimo representaram a diversidade e a riqueza dos ritmos brasileiros e estrangeiros.

Experiências

Chitungane Chachuaio, formando de BHU | Fonte: Assecom

“Sou apenas um menino, que saiu da sua terra pra mostrar que o mundo é do tamanho de seus sonhos”. Com essa declaração, Chitungane Chachuaio, natural de Moçambique, foi o primeiro aluno da turma a defender o TCC, mas precisou voltar ao seu país e só agora teve a oportunidade de colar grau. O estudante, que saiu de Moçambique aos 19 anos, desde criança sonhava em conhecer o estado baiano.

Hoje, aos 23 anos, Chitungane reconhece que a Bahia “é onde eu me descubro, em cada estudante de diferente país e lugar eu encontro um pouco de mim e um pouco das diferenças”. Apesar de não ter nenhum familiar presente na colação de grau e ser o primeiro filho a se graduar, em uma família na qual o pai também não tem curso superior, o moçambicano garantiu sentir a energia dos parentes.

“Eu sou muito fiel ao meu país. Independente do que aconteça, eu tenho que voltar e devolver aos meus pais, irmãos e a toda a comunidade que me apoiou. Não existe melhor lugar pra fazer isso. O melhor lugar é em casa”, afirmou o formando, emocionado e garantindo que vai levar muito aprendizado do Recôncavo Baiano. “Eu me descubro em cada lugar, cada espaço, cada cultura, em cada palavra, em cada vocabulário da Bahia”, completou.

João Fiuza, formando e técnico-administrativo da Unilab | Foto: Assecom

Aos 42 anos, João Roberto Fiuza é um dos mais novos bacharéis em Humanidades. A relação dele com a Unilab começou antes mesmo da graduação. Fiuza integra o corpo técnico da instituição, como Assistente de Administração, e não tinha curso superior.

“Primeiro eu entrei no quadro como servidor. Quase em paralelo, usei o resultado do Enem e aproveitei para ingressar como discente. Nada melhor do que unir o estudo ao trabalho. Aqui eu aprendi muito da cultura africana e tenho a oportunidade de conhecer um pouco da história dos outros países”, assegurou o formando.

E não apenas das experiências dos discentes a Unilab é feita. A vice-reitora Lorita Pagliuca já era professora aposentada da Universidade Federal do Ceará (UFC) quando chegou à instituição. Na condição de aposentada e pesquisadora do CNPq, Lorita ingressou na Unilab como pesquisadora e visitante sênior. “Eu procurei a Unilab e me ofereci pra ser esse tipo de pesquisadora, e estou na instituição há três anos nessa condição”, explicou.

A vice-reitora falou ainda sobre os desafios à frente da Unilab e que podem ser vistos no Bacharelado em Humanidades. “Não é simplesmente resgatar uma dívida histórica. É muito mais do que isso. É uma questão de construção social, que envolve sujeitos sociais, com diferentes formações e pensamentos, e essa diversidade caracteriza a Unilab. Ela tem que ser cultivada, preservada e consolidada no futuro”, explicou Lorita Pagliuca, ao defender que as diferenças se somam, não se tratando de uma disputa de espaço ou fragmentação. “É um coletivo. Diferenças de gênero, de pensamento, de religião, de ideologia… elas se mesclam de forma saudável, rica e produtiva”, conclui.

 

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