Egresso da Unilab monta biblioteca em Cabo Verde com livros coletados no Brasil
Leitura e lazer juntos na Associação Amigos de Cobom, em Tira Chapéu, Cabo Verde. Esta foi a ideia que levou o jovem Alexandrino Lopes a coletar mais de 300 livros durante os quatro anos em que esteve no nordeste do Brasil cursando Ciências da Natureza e Matemática com habilitação em Física, na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), mais precisamente no interior do Ceará, cidade de Redenção.
A biblioteca está instalada no prédio da própria associação, onde já ocorriam aulas de karatê, yoga e capoeira, e também fica ao lado da Escola de Ensino Básico Capelinha. O espaço foi reformado e recebeu doações de estantes para os livros.
Alexandrino conta que a ideia começou a tomar corpo a partir do encontro com uma professora brasileira, Renata Franco, durante um evento científico. A docente comentou que a escola onde trabalhava tinha muitos livros e pretendiam doá-los a alguma instituição que pudesse lhes dar um bom destino.
Após coletar os livros, outra odisseia: fazê-los cruzar o Atlântico. “Eu tinha 300kg de livros para trazer para Cabo verde e tinha direito, como passageiro, de trazer 35kg de bagagem. Consegui um apoio da Embaixada do Brasil que me ajudou com despacho de 46kg de livros. Levei todos os livros para o aeroporto dentro de algumas caixas e pedi a todos os passageiros, contando minha história e do projeto, que levassem dois livros por mim. Ao chegar em Cabo Verde com os livros, encontrei um grande homem que desenvolve trabalho social, Djalo Almeida, o professor de karatê da associação, e nós materializamos o projeto”, narra.
Como egresso da Unilab, Alexandrino comenta a influência da universidade na construção de sua visão de mundo. “Foi o fator mais importante para a realização desse projeto, se hoje eu tive essa ideia de criar a biblioteca foi graças a tudo que vivi dentro da Unilab”, afirma.
Diante do sucesso da iniciativa, o jovem espera que a biblioteca alcance cada vez mais ressonância. “Que seja um ponto de referência para todo o bairro, e não só para o bairro, para todos os bairros periféricos de Cabo Verde que tenham carência de bibliotecas e suporte para o desenvolvimento”, desejou.
Parcerias
A Embaixada do Brasil em Cabo Verde apoiou o projeto com reforma da estrutura física, doação de livros e com a pintura da fachada pelo coletivo de arte urbana Acidum, de Fortaleza/Ceará.
Integrante do Acidum junto com Robézio Marqs, Tereza Dequinta considera a iniciativa da biblioteca fundamental para o bairro do Cobom. “Alexandrino nos contou do sonho dele, uma história superbonita. Ele não sabia o que era uma biblioteca até ir ao Brasil estudar na Unilab e quando teve contato com os espaços passou a idealizar isso para o bairro dele, que as crianças de lá também tivessem acesso”, disse.
Para além do projeto da biblioteca, a artista visual elogia a iniciativa da Embaixada do Brasil em Cabo Verde ao promover a cultura no país e a conexão com artistas brasileiros. “É muito importante a embaixada compreender que tem ligação com o pais em que está localizada. É uma ligação que a gente tem também. Não foi à toa pintarmos a fachada da biblioteca. Já estamos em Cabo Verde pela quinta vez, já conhecemos a história, as pessoas, criamos uma relação com o país, que é culturalmente, musicalmente incrível, com um povo maravilhoso”, sublinhou.
Durante a inauguração da biblioteca, em abril deste ano, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, prometeu suporte ao novo equipamento cultural. “A Biblioteca Nacional de Cabo Verde vai ajudar a enriquecer o acervo desta biblioteca comunitária, fazer parcerias de formação. Podemos trazer pessoas no âmbito do projeto de contação de histórias e ainda profissionais que possam ajudam as crianças a ler. O livro é vosso”, disse o ministro.
Com informações também do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas.