2ª Semana de Sociologia na Unilab reuniu atividades culturais, palestras, rodas de conversas e oficinas
Em sua segunda edição, a Semana de Sociologia na Unilab reuniu, nos dias 16 e 17 de dezembro de 2019, mais de 400 inscritos, entre estudantes, professores, técnicos e comunidade externa, em palestras, rodas de conversas, oficinas e atividades culturais.
De acordo o professor Francisco Vasconcelos, coordenador do curso, “a Semana se justifica por expressar o momento interno do curso, que se volta à reflexão a respeito de suas políticas de formação, diante dos desafios no mercado de trabalho para o egresso”.
Organizada na forma de “Jornada”, a Semana “convidou à reflexão para a construção de um posicionamento institucional e coletivo sobre a pertinência da Sociologia como prática profissional plural e instrumento de educação e de transformação social nas realidades brasileira e africanas”.
A Mesa de Abertura teve a participação de Brena Kécia, egressa do curso de Sociologia da Unilab e mestranda em Educação na UERN, e das professoras Isaurora Martins (UVA) e Danyelle Nilin (UFC). Sob a mediação do professor Igor Monteiro, a Mesa abordou o tema da Semana: “Sociologia na escola: conhecimentos, tensões e mobilizações políticas” a partir das escolas e dos Sistemas de Ensino como espaços plurais de relações políticas e culturais em constante tensão e transformação.
As convidadas analisaram os conflitos ocasionados por movimentos como o “Escola sem Partido”, as consequências da Reforma do Ensino Médio e da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), problematizando as concepções de juventude e de “qualidade da educação” nas novas políticas educacionais, inspiradas nos princípios de competição e flexibilidade do mercado. A flexibilização das formas de emprego andaria à par da flexibilização do currículo e dos percursos formativos. É nesse cenário que o risco do fim da obrigatoriedade da Sociologia no Ensino Médio instiga as comunidades que compõem os cursos universitários de Ciências Sociais e Sociologia a se mobilizarem e buscarem saídas institucionais, políticas e pedagógicas.
No mesmo dia, durante a tarde, houve o lançamento do “Grupo de pesquisa e extensão Trajetos – Trajetórias, Juventudes e Educação”. Coordenado pela professora Joana Rower, o grupo se propõe à atuação sobre a pluralidade das práticas educacionais relacionadas às juventudes, no sentido de incentivar as capacidades críticas e analíticas dos jovens a respeito de suas trajetórias.
Na mesma ocasião houve a Roda de Conversa com Egressos, através da qual se realizou a escuta atenta dos egressos sobre os pontos positivos e a melhorar no Curso de Sociologia. Vale ressaltar a ênfase no caráter que associa docência e pesquisa, as experiências de prática de ensino no Residência Pedagógica e a necessidade de maior atenção às possibilidades de estágio profissional em espaços de ensino e gestão não escolares, bem como em metodologias quantitativas.
Em paralelo, realizou-se a atividade “Aprender pelo corpo”, organizada pelos grupos de extensão e pesquisa PerformArte e Diálogos Urbanos. Coordenada pela professora Anne-Sophie, a atividade buscou refletir sobre uma pedagogia alternativa, fundada em referências práticas e culturais não eurocêntricas.
O segundo dia iniciou com a atividade “Conversa com Realizadores”, que exibiu o filme Currais, que abordou os campos de concentração cearenses que foram responsáveis pelo flagelo de milhares de pessoas após a seca de 1932. A exibição foi seguida de debate com os diretores David Aguiar e Sabina Colares, mediado pelas professoras Daniele Ellery e Joceny Pinheiro, do Núcleo de Pesquisa em Imagem, Som e Texto (Sensoria).
Em seguida, aconteceu o “2º Ciclo de debates – Guiné-Bissau vai às urnas: desafios de estabilização e desenvolvimento nos próximos 5 anos”, que dá continuidade às reflexões do professor Ricardo Ossagô e estudantes sobre as condições políticas e sociais de Guiné-Bissau, demonstrando o comprometimento teórico e ético com a consolidação democrática do país.
O Projeto “Um tesouro chamado Nordeste”, sob a supervisão do professor Marcos Silva, realizou a Oficina de Oralidade, voltada à construção de narrativas orais como instrumento pedagógico sobre a realidade social e cultural do Nordeste brasileiro.
A atividade “Diálogos sobre pesquisa, ensino e extensão na Unilab: as experiências dos grupos Diálogos Urbanos e PerformArte”, por sua vez, demonstrou a consolidação teórica e metodológica das pesquisas e ações que têm como objeto as cidades e os territórios de Redenção e Acarape.
A Mesa de Encerramento discutiu o tema “Brasil e África lusófona: Cultura, Educação e Democracia” e contou com a presença dos professores André Alcman, da Universidade Regional do Cariri (URCA), Ricardino Teixeira (Unilab) e Eduardo Machado (Unilab). As discussões se concentraram nos limites e potencialidades do trabalho do intelectual em contextos pós-coloniais e o legado das reflexões de lideranças africanas. Diante dos riscos para a construção da democracia, a Mesa também discutiu as condições para a reflexão sobre política e sociedade civil em Guiné-Bissau e os desafios para ultrapassar as limitações das teorias políticas sobre a Democracia.
A 2ª Semana contou também com as seguintes apresentações culturais:
“Exposição e discotecagem: João Gilberto e a arte de desafinar”, do Grupo de Pesquisa e Extensão “Ouvindo música”, coordenado pelo professor Lucas Sousa.
“Kabaz di Terra” e “UbuntuDance”, do Grupo Uniculturas.
E a encenação teatral de grupo da Escola de Ensino Médio João Alves Moreira, do município de Aracoiaba, que abordou a temática da conscientização ambiental.
Licenciatura em Sociologia: um balanço sobre sua trajetória
O curso de Licenciatura em Sociologia foi criado em 2014 e é uma das três licenciaturas de 2º ciclo do Instituto de Humanidades, cursos voltados a suprir a demanda por formação de professores da Educação Básica no Ceará, na região do Maciço de Baturité, e em países africanos que compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe.
Atualmente, o curso tem cerca de 90 alunos africanos com matrículas ativas. Isso representa, dentre as terminalidades do Instituto das Humanidades, quase a metade dos estudantes africanos. Dos 141 estudantes matriculados no curso de sociologia, 63 são brasileiros, 78 são africanos. Há presença massiva dos guineenses no curso. A Aula Magna deste semestre, com o sociólogo guineense Miguel de Barros, demonstrou a importância desta comunidade no curso de Sociologia e na Unilab.
O curso de Sociologia também se orienta pela formação de professores qualificados para o uso das atividades de pesquisa como princípio educativo nas salas de aula, na realidade da gestão escolar e em espaços de educação não formais da sociedade civil. Esta orientação se expressa no incentivo aos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) na forma de artigos científicos, monografias ou produções audiovisuais e artísticas, articulados aos Relatórios de Estágio. Uma produção de conhecimento que resultou na publicação de artigos e livros de docentes e discentes, que vem descortinando a realidade educacional do Maciço de Baturité e dos países africanos.
Desde 2018, a consolidação da Prática de Ensino e Estágio Supervisionado permitiu a criação de parcerias entre o Curso e as Escolas da região, através dos Estágios, apoiado pelos Programas Residência Pedagógica e pelo Programa de Iniciação à Docência.
Um primeiro resultado destas parcerias foi a 3ª Semana de Sociologia da Escola de Ensino Médio Doutor Brunilo Jacó em Redenção e a 1ª edição da Semana de Sociologia das Escolas do Maciço de Baturité/CE, ocorridas no primeiro semestre de 2019. Coordenada pela professora Joana Röwer, as ações abrangeram estudantes da Escola de Ensino Médio Doutor Brunilo Jacó (Redenção), Escola Estadual de Educação Profissional Jose Ivanilton Nocrato (Guaiúba), Escola de Ensino Médio Almir Pinto (Aracoaiba)
Um segundo resultado foi criação de uma regional da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais no Maciço de Baturité (ABECS), com vistas ao fortalecimento da articulação política de docentes de Sociologia.
“Estes dois vetores, junto com a experiência de nossos estudantes e professores na Área de Estágio, é que trouxeram a importância da discussão sobre a Sociologia na Escola, a produção de conhecimento sobre ensino de sociologia e as tensões e mobilizações políticas em torno do exercício da profissão de sociólogo como docente, em um contexto de reformas que trazem novidades e incertezas. Como se configura e reconfigura a demanda por formação de professores no Maciço de Baturité e em países africanos? Como preparar o professor de sociologia para a realidade da nova BNCC? Que possibilidades de inserção profissional a mais é possível criar para o sociólogo? A sociologia no Ensino Fundamental, além do Ensino Médio, seria uma destas possibilidades? Como os estudantes graduados têm se saído no mercado de trabalho?”, destaca a coordenação do Curso de Sociologia.
Desde 2017 já ocorreram quatro formaturas, totalizando 87 egressos. Em levantamento recente, constou-se que 27 egressos estão em alguma pós-graduação (mestrado e mesmo doutorado) e 4 no mercado de trabalho, atuando como professor ou educador social. Esse número representa 35% do total de egressos do Curso. Além disso, há seis estudantes que ainda estão no curso de Sociologia, mas que foram aprovados em Pós-Graduação. Estes estudantes e egressos foram aprovados em Programas de Pós-Graduação em 9 áreas de conhecimento ou setores de estudo: Sociologia, Antropologia, Psicologia, Saúde Pública, Interdisciplinar, Educação, Políticas Públicas, Relações Internacionais e Estudos Africanos; Programas de Pós-Graduação situados em Portugal ou no Brasil, em 10 estados diferentes: Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul, Alagoas, Paraná, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Paraíba. Tem-se, portanto, um resultado expressivo em termos de inserção acadêmica.
Em relação ao mercado de trabalho na qualidade de docentes, é relevante ressaltar a presença de quatro dos ex-estudantes em escolas ou ONGs em Redenção e Aracoiaba, por exemplo. “Comparados à inserção em pós-graduações, os números de estudantes egressos inseridos no mercado de trabalho atuando como professores são menos impactantes e podem revelar dificuldades e enfrentamentos a serem realizados. Dificuldades que podem sugerir reformulações no Curso, mas também dificuldades externas à Unilab, ligadas ao contexto atual de precarização da docência e dos contratos de trabalho e restrições do mercado”, destaca a coordenação.
Todo esse complexo cenário só reforça a importância da 2ª Semana da Sociologia, voltada à discussão de experiências formativas e articulações políticas de docentes e discentes em torno do Ensino de Sociologia e da realidade escolar.