Professor Tomaz Aroldo recebe homenagens da comunidade acadêmica da Unilab
A comunidade acadêmica e administrativa da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab) tem rememorado com carinho o professor Tomaz Aroldo da Mota Santos, que foi reitor da instituição entre 2015 e 2016 e faleceu no último dia 18 de junho, em Belo Horizonte, onde se tratava de um câncer nos rins.
Primeiro reitor negro e defensor da universidade pública, Tomaz Aroldo foi reitor da UFMG na gestão 1994-1998 e diretor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFMG) por dois mandatos (1990-1994 e 2010-2014); presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (Andifes) no biênio 1997-1998, quando criou a Rede Negritude; reitor da Unilab (2015-2016) e ultimamente era presidente da Organização dos Aposentados (OAP) da UFMG. Em 2017, havia recebido título de professor emérito da UFMG. Tomaz Aroldo prestou grande contribuição na construção e consolidação da Unilab, tendo como legado ímpar o auxílio na construção coletiva do atual estatuto da universidade.
Atual reitor da Unilab, Roque Albuquerque classificou Tomaz Aroldo como um reitor amado por docentes e discentes. “Cheguei na Unilab no mesmo período do reitorado do professor Tomaz. Seu domínio próprio e equilibro de personalidade deixaram a marca de um gestor competente que servia de modelo para os demais que o seguiram. Deixo aqui minha singela homenagem àquele que sabia o que valores e antivalores. Ele me ensinou que uma gestão pelo exemplo é a mais digna forma de ação de um reitor”, lembra Albuquerque.
Também a vice-reitora da Unilab, Cláudia Carioca, tem boas memórias a compartilhar. Para ela, Tomaz foi um exemplo de ser humano íntegro. “Seu ouvir e olhar atentos me passavam serenidade e firmeza. Seu falar e escrever discretos me passavam doçura e segurança. Nada o demovia de sua postura ética e assertiva, procurando apaziguar e direcionar o coletivo para o objetivo máximo que havia traçado para si próprio: a concretização do atual Estatuto. O legado que deixou na Unilab é imensurável. Que possamos seguir seu exemplo!”, destacou.
O professor e ex-reitor construiu ainda uma relação sólida com o Campus dos Malês, em São Francisco do Conde/BA. A atual diretora do Campus, Mirian Sumica, destaca que Tomaz esteve diversas vezes nos Malês, sempre disposto ao diálogo, e enumera as ações: instituição da Comissão para Implantação do Curso de Medicina nos Malês; construção de dois blocos acadêmicos, iniciada na sua gestão; transformação do campus em Unidade Gestora; primeiras eleições para direção de campus; criação de convênios com UFBA e UFRB para que o campus tivesse apoio na construção; assinatura de convênios com as prefeituras de São Francisco do Conde e Candeias, entre outros marcos institucionais.
A memória é também afetiva, indo além do plano administrativo, e Mirian relembra um dos encontros com o professor Tomaz. “’O que esperar de um reitor da Unilab?’ Foi com uma pergunta assim que ele começou um de seus encontros com a comunidade do campus dos Malês, depois de nomeado nosso reitor pró-tempore. A resposta indicou um ensinamento: ‘Eu sei ser reitor da UFMG, mas não sei, e ninguém saberia previamente, ser reitor da Unilab, porque esta é uma universidade única’. (…) Nas muitas vezes em que esteve no campus, seu trabalho foi para construir uma universidade em São Francisco do Conde que se tornasse ‘indispensável’ para o território, porque o território precisa ser o maior defensor dessa instituição e isso só aconteceria se nos prestássemos a realizar um trabalho de excelência. O professor Tomaz acreditava que a Unilab venceria o desafio da integração, internacionalização e interiorização e nos estimulava a acreditar nisso, pelo modo respeitoso como construiu pontes de diálogo com a comunidade universitária, mas também para fora”, sublinhou, reforçando que atualmente o Campus dos Malês tem 6 cursos (dois deles já avaliados pelo MEC, com conceitos 4 e 5) e mais de 50 projetos de pesquisa e extensão, com representatividade em coletivos, associações e ações ligadas à articulação com estados e municípios.
No mesmo sentido, a arquivista Ione dos Santos destaca que teve uma ótima relação profissional com Tomaz Aroldo. “São várias as lembranças afetivas construídas na relação de trabalho, lembro dele carinhosamente me chamando de minha anja por não deixá-lo passar do horário de almoço, ele sempre muito cortês e educado me agradecendo por ter providenciado um lanche para ele no período da tarde nas visitas que ele fez ao campus. Fica a saudade. Sentimos muito pela passagem do professor Tomaz para outra dimensão existencial, mas temos consciência do seu dever cumprido enquanto homem público dedicado à educação, ao saber e a cultura deste país”, disse.
Trajetória na Unilab
Docente aposentado da UFMG, Tomaz Aroldo da Mota Santos exerceu o reitorado pro tempore na Unilab de março de 2015 a outubro de 2016. Em entrevista concedida ao final do reitorado, Tomaz destacou as conquistas, desafios e aprendizados na Unilab. “Coordenar ao mesmo tempo a universidade internacional, a universidade cearense e a universidade baiana, todas unidas no projeto da Unilab, é de uma enorme complexidade; é bonito e difícil. Essa foi uma das coisas que mais me marcou, essa multiplicidade de abordagens, de atividades, de estratégias”, afirmou.
Entre as ações realizadas durante sua gestão, destacam-se a elaboração e aprovação dos documentos fundamentais para institucionalização da universidade – a reforma do Estatuto e a criação do Regimento Geral e do Plano de Desenvolvimento Institucional, os três documentos com fase de consulta direta à comunidade, como o professor gostava de frisar. Nesse período também foram criados o CeiÁfrica e o Festival das Culturas.
“Eu aceitei o convite para ser reitor pro tempore da Unilab com o intuito de contribuir para a implantação de uma universidade que é um projeto de esperança para uma parte do interior do nosso país. Através desse projeto o Brasil sinaliza no sentido de uma cooperação com os demais países da CPLP no campo intelectual, educacional, cultural, econômico e social. Participar de um projeto tão bonito como esse me convenceu a ir, ainda que isso representasse sair do descanso de professor aposentado. Eu me sinto feliz de ter participado de um projeto tão generoso, mesmo que num período relativamente curto”, disse.
Tomaz Aroldo da Mota Santos deixa a esposa, Yara Maria Frizzera Santos, professora aposentada da PUC Minas, e os filhos Ernesto, que é professor da UFMG, Pedro, docente na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Daniel, sociólogo, e os netos Pedro, Nuno e João Marcos. (Com informações da UFMG e da Andifes.)