Julho das Pretas, no campus dos Malês, aconteceu nesta quinta-feira (28/07), com acolhimento de novos membros do NEAABI e lançamento de livro “Mulheres negras em movimento”, de Matilde Ribeiro
Acolhimento de novos membros do Núcleo de Estudos Africanos, Afro-Brasileiros e Indígenas (NEAABI), da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileiras (Unilab), e lançamento do livro Mulheres negras em Movimento (editora Nova Práxis), da docente da Unilab Matilde Ribeiro, integraram, nesta última quinta-feira (28/07), a programação do campus dos Malês referente ao Julho das Pretas – evento que faz parte das celebrações de 25 de julho, Dia de Tereza de Benguela, Dia Nacional das Mulheres Negras e Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
“O NEAABI é um órgão suplementar, vinculado à Reitoria da Unilab, recentemente criado, e estamos em movimento há um ano e meio. Foi institucionalizado em junho do ano passado, quando nosso regimento foi aprovado. Temos realizado ações iniciais de articulação, organização e de institucionalização”, explica a atual coordenadora do NEAABI, Claudilene Silva, docente da Unilab/campus dos Malês. A primeira coordenação do Núcleo – também integrada pelas docentes Eliane Costa e Carla Craice – está sendo sediada no campus dos Malês, mas a a ideia é que seja rotativo, ou seja, a próxima coordenação terá sede no Ceará. O Núcleo já possui quase cem integrantes associados, entre técnicos, docentes e estudantes da Bahia e do Ceará.
Mulheres negras em movimento
Uma das novas integrantes associadas ao NEAABI, a docente da Unilab Matilde Ribeiro, esteve presente ao evento Julho das Pretas, no campus dos Malês, com o lançamento do seu livro Mulheres negras em movimento. A obra traz capítulos que abordam inserção do movimento negro contra a ditadura; interseccionalidade entre gênero, classe e raça; processo organizativo das mulheres negras a partir da década de 80; e diálogo entre saberes populares e acadêmicos.
“Tem um capítulo de um tema, que nunca tinha escrito antes, que é sobre os saberes populares e acadêmicos, e o protagonismo das mulheres negras. Faço uma viagem pelas escritas das mulheres negras, de Carolina de Jesus a Conceição Evaristo. Nesse capítulo, escolhi cinco setores onde as mulheres negras estão mais presentes: trabalho doméstico, quilombo, quebradeiras de côco, religiões de matriz africana e escritoras negras. Através desses cinco temas, conto um pouco da organização, a partir desses setores, pra se conseguir acesso a bens, serviços e a políticas públicas”, explica a autora e docente da Unilab, Matilde Ribeiro.
Ela relata, ainda, que o livro traz homenagens a uma mulher de cada setor: Creuza Oliveira (empregada doméstica); Givânia Maria da Silva (quilombola); dona Dijé (quebradeira de côco); Mãe Stella de Oxóssi (religião de matriz africana) e Conceição Evaristo (escritora). “Falo da luta e dou exemplo de quem encampa esta luta”, pontua. Ela também destaca que, no livro, rememora também uma história pouco conhecida no Brasil, de uma mulher negra chamada Maria do Carmo Jerônimo, nascida em Carmo de Minas (MG), em 1871, e que faleceu em Itajubá, onde morou nos anos finais de sua vida, aos 129 anos, em 2000.
A docente conta que ela não nasceu em liberdade e viveu 17 anos na condição de escrava. E, aos 75 anos, trabalhava como empregada doméstica. Na trajetória de Maria do Carmo, ela teve seu nome vetado, na câmara de Itajubá, em um projeto que lhe concederia o título de cidadã itajubense. Segundo avaliação dos vereadores, não havia o porquê de conceder um título a uma pessoa que não era “personalidade”. Um mês após o veto, a câmara municipal de São Paulo concedeu a ela o título de cidadã paulistana, em 1994, evento que foi marco político.
A docente Matilde Ribeiro, além de dialogar sobre sua mais recente obra, também trouxe à roda de conversa sua trajetória na Unilab, onde esteve na Direção do campus dos Malês em 2014, antes de transferir-se ao campus dos Ceará da universidade. Sobre sua vinda à universidade, ela pontua que recebe questionamentos do porquê estar na Unilab. “Eu vou pra qualquer lugar desde que eu seja útil, desde que eu goste e desde que eu faça coletivos. Eu vou e aqui estou”, finalizou a docente.
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