Inauguração do Centro Cultural Carolina Maria de Jesus marca abertura do VI Festival das Culturas da Unilab

O Centro Cultural Carolina Maria de Jesus e o Sankofa Varandão Cultural são os novos equipamentos culturais da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), localizados no Campus das Auroras, em Redenção/CE. A inauguração dos espaços marcou a abertura do VI Festival das Culturas da Unilab, que ocorre de 19 a 21 de outubro. Confira a programação.
Com o tema “Afeto como fio condutor de solidariedade”, o festival celebra o fim do distanciamento social ao valorizar o afeto, a arte e a cultura de comunidades originárias e dos países da integração lusófona. No campus dos Malês, o evento – que aconteceria na mesma data – foi adiado em memória e em respeito ao estudante Dabana Victor Bedam.

Reitora em exercício da Unilab, a professora Cláudia Carioca destacou a alegria em participar de um evento tão caloroso, após dois anos de edições on-line. A gestora sublinhou a diversidade e o diálogo que perpassam a universidade e que devem dar o tom dos usos dos novos equipamentos culturais. “Queremos agregar todos aqueles da forma como se autodeclaram, produzindo, atuando naquilo que desejam. Não podemos cercear e esta é a gestão que está junto, do diálogo. A Unilab é festa, conhecimento, espaço em que nós podemos ser nós mesmos”, declarou.

Pró-reitor de Extensão, Arte e Cultura, Segone Cossa celebrou a conquista do Centro Cultural e Varandão. “Com esses equipamentos, a Unilab de fato tem um lugar para celebrar a cultura e a arte como coisas vivas, com interculturalidade, trocas simétricas entre os países africanos e o Brasil. Contamos com vocês para fazer desse lugar um ponto de encontro”, disse.
O coordenador de Arte e Cultura, Nixon Araújo, considerou que o afeto e a ocupação da comunidade acadêmica e de todos do Maciço de Baturité vão transformar de fato os equipamentos culturais num ponto de encontro e cultura. “O afeto transforma nossas relações e lugares em realmente nossos”, afirmou. Em sentido semelhante, a estudante Preta Borboleta, que compõe o Diretório Central Estudantil (DCE), falou a partir de sua identidade de pessoa preta e periférica. “Ocupar esse lugar é uma resistência. Por uma arte decolonial, afrorreferenciada e das margens!”, sintetizou.
Estiveram também presentes à mesa de abertura do Festival das Culturas a representante da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, Jéssica Ohara, e o secretário de Cultura de Redenção, João Victor de Castro.
Carolina Maria de Jesus: inspiração afetiva, teórica e política

Antrópologa e docente da Unilab, Vera Rodrigues proferiu a palestra “Carolina Maria de Jesus: inspiração afetiva, teórica e política”, com a mediação da estudante de Letras – Língua Portuguesa Jandira Dala.
Moradora da favela do Canindé, zona norte de São Paulo, Carolina Maria de Jesus trabalhava como catadora de papel e registrava o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no lixo. Publicado em 1960, o livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada” foi traduzido para 16 idiomas.

Vera Rodrigues relembra seu “encontro” com a escritora, há 30 anos, em um sebo de Porto Alegre/RS. “Estava buscando referências para ser quem eu era destinada a ser e conheci Carolina, com uma escrita lúcida e sempre atual”, conta, mostrando o exemplar de “Quarto de despejo” que guarda há três décadas.
“Assim como as reflexões de Carolina Maria de Jesus, que o Centro Cultural nos inspire a refletir afetiva, teórica e politicamente. Nós, que já vivenciamos quartos de despejo na vida, que não fomos convidados para a sala de visitas, mas abrimos portas com as cotas étnico-raciais, por exemplo”, articula Rodrigues.
Outro ponto de contato entre a escritora e as gerações atuais é seu ensinamento de postura frente ao mundo. “Que Carolina inspire o olhar para o nosso contexto, nosso país, nós mesmos com respeito e dignidade. Os estudantes me perguntam se deveriam estar aqui [na universidade], se merecem estar aqui, e eu respondo ‘Esteja e ocupe esse lugar com dignidade e respeito’”, afirmou.
Novos equipamentos
O Centro Cultural Carolina Maria de Jesus conta com sala especial para ensaios, com isolamento acústico; e sala multiuso, que pode ser usada para apresentações culturais, palestras, mesas-redondas, entre outros eventos.
Já o Sankofa Varandão Cultural se propõe a abrigar rodas de capoeira, cirandas, rodas de samba e também a ser um espaço de convivência da comunidade acadêmica.

Os nomes foram escolhidos por estudantes, técnicos e professores, numa votação democrática. Carolina Maria de Jesus foi uma escritora, compositora e poeta brasileira, consagrada por seu livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, publicado em 1960. Sankofa, por sua vez, trata-se de um ideograma africano representado por um pássaro com a cabeça voltada para trás ou também pela forma de duas voltas justapostas, espelhadas, lembrando um coração. A etimologia da palavra, em ganês, inclui os termos san (voltar, retornar), ko (ir) e fa (olhar, buscar e pegar), representando um retorno ao passado para ressignificar o presente.

Programação do VI Festival das Culturas

A programação do Festival das Culturas é construída junto com a comunidade acadêmica e, por isso, apresenta uma importante diversidade. São apresentações musicais, como as da Escola Livre de Música de Redenção, Grupo de Choro da Uece e Grupo de Música Percussiva Acadêmicos da Casa Caiada; as mostras Integrarte de Artes Visuais, Integrarte de Audiovisual e Coração de Estudante; oficinas de tranças e penteados, sobre sentidos do brincar na cultural afro-diaspórica, entre outras; danças, performances, desfile com trajes e peças africanas. E a Feira Criativa, com exposições de artistas e artesãos do Maciço de Baturité, além da venda de comidas típicas dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que enviam estudantes para a Unilab: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.