[Internacionalização] Acordo entre a Unilab e a universidade canadense UBC viabiliza o intercâmbio do estudante de agronomia Mateus Tremembé
“Mateus é um estudante que se destaca por sua autonomia, interesse e responsabilidade, sendo uma importante liderança do povo Tremembé. Acredito que ele irá realizar mais essa etapa de sua formação profissional com excelência
Mateus Tremembé, estudante do sétimo para o oitavo semestre do curso de Agronomia do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR) , é pesquisador de cultura alimentar indígena do território, artista e produtor cultural. Antes de chegar na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), passou pela experiência de ser professor de uma escola indígena, enquanto cursava Matemática, mas a sua verdadeira vocação sempre foi trabalhar com a questão alimentar e entender a fundo seus processos de produção, a fim de colher saberes que viessem a garantir a segurança alimentar do seu território. Essa vontade de cuidar dos seus e de tratar adequadamente dessa territorialidade, o impulsou a largar a docência e cair de cabeça na agronomia, onde, finalmente, pôde tratar de temas que, para ele, são preciosos, como a prática de uma agronomia de base agroecológica, o debate da sustentabilidade, a autonomia territorial, a relação de gênero nos territórios, o convívio dos agricultores com as políticas públicas.
Nesse percurso, Mateus Tremembé foi convidado para participar de um projeto de extensão na The University of British Columbia (UBC), no Canadá, com a professora Vanessa Andreotti. “Ela me convida para vir já como pesquisador da área de cultura alimentar e metodologia decolonial na época. E aí eu fui junto com o parente Benício Pitaguary que já faleceu. [Pitaguary era licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e cursava o mestrado no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema-UFC)] Iniciamos com o povo da Pacatuba e aí a gente pesquisou mais, fez alguns intercâmbios e eu fui conhecer a experiência dos agentes agroflorestais no município de Feijão, lá no Acre, dos parentes Huni Kui. Depois dessa experiência a gente foi para o Peru, lá pra Cusco, mas não chegamos a entrar em Cusco por conta da pandemia [de Covid-19], tivemos que voltar, mas desesperado para continuar”, conta Tremembé.
Logo depois, ele foi convidado novamente para fazer uma pesquisa no Canadá sobre a transição alimentar geracional dos povos indígenas canadenses, com quem a UBC tem uma parceria muito forte. Assim, nasceu a ideia de que Mateus Tremembé fosse ao Canadá para dialogar com as lideranças indígenas sobre a importância da identidade da cultura alimentar para a conexão geracional com o território. É neste momento que a Unilab entra na história. Tremembé só poderia ir se fosse liberado pela Unilab, caso contrário, teria que trancar o semestre para poder fazer o trabalho no Canadá. Para contornar esse impasse, as professoras-pesquisadores da Faculdade de Educação da UBC ofereceram a possibilidade de fazer um Acordo de Cooperação Técnica com a Unilab.
Daí nasceu um acordo de cinco anos para transferência de tecnologia e intercâmbios acadêmicos, sendo que um desses intercâmbio do acordo era o estágio supervisionado de Mateus Tremembé na Faculdade de Educação da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, neste semestre que se inicia, como nos contou Tremembé: “Fiquei superfeliz. E aí começamos a preparar os trâmites. A minha orientadora, que é a professora Ana Carolina, e o professor Lucas [Nunes da Luz], como diretor [do IDR], contribuíram muito com esse debate e com essa construção, que é também uma construção muito burocrática. Mas, o lado de lá (no Canadá) estava muito a fim de que as coisas dessem certo. As professoras Sharon [Stein] e Vanessa Andreotti correram atrás da documentação do Canadá e aqui na Unilab o professor Lucas e a professora Ana Carolina fizeram as conexões com a reitoria e com os espaços que eram necessários. E aí fizemos o plano de cooperação, assinado lá e assinado cá, aqui estou eu preparado para ir pro Canadá”
Para o Magnífico Reitor da Unilab, Prof. Dr. Roque Albuquerque, é preciso reconhecer, neste movimento, uma ação coletiva exemplar. “A importância da ida do Mateus ao Canadá não é somente para ele, mas é de forma coletiva, a quem ele representa, quem leva consigo na experiência, no coração. Mateus é um exemplo de que é possível alçar voos altaneiros. É possível, sim, transpor as barreiras que são impostas numa sociedade desigual. É possível, sim, a gente transpor as dificuldades e poder adquirir na educação, pela educação, através da educação, oportunidades para continuar crescendo. Então, para a nossa universidade, assim como para quem o Mateus apresenta, é motivo de muito orgulho, e também para a comunidade do Ceará como um todo, ter um aluno Tremembé que vai representar-nos em outro país [Canadá]. Eu desejo muitas felicidades e que isto seja só o início de muitas oportunidades e que abram caminhos, espaços, para outros que chegaram depois dele. Parabéns, Mateus!”
O Diretor do IDR, prof. Dr. Lucas Nunes, destacou que essa parceria deve se estender para outros discentes e docentes, além de fazer os devidos agradecimentos: “Somos muito grato ao Mateus por ter tido essa pró-atividade em buscar essa parceria de estágio e a professora Ana Carolina por ajudar Mateus nesse processo inicial. Gostaria de deixar meu agradecimento a Prointer (Pró-Reitoria de Relações Institucionais e Internacionais),na pessoa do Pedro [Henrique Rodrigues], que sempre nos ajudas nesses acordos de cooperação de forma muito diligente e prática. E agradecer ao professor Ewa [Bowness] da universidade do Canadá que veio conhecer a Unilab e nos deixou aberta a possibilidade de que essa parceria se estenda para outros alunos e também se estenda para um vínculo de parceria maior entre a Unilab e a universidade do Canadá, incluído aí a possibilidade de parceria para a formação, capacitação e cursos em geral de docentes.”
Segundo sua orientadora, a prof. Dra. Ana Carolina Pereira, o estudante Mateus Tremembé usará sua experiência em agroecologia e soberania alimentar indígena para apoiar o desenvolvimento de uma estrutura de pesquisa colaborativa com comunidades indígenas no Brasil e no desenvolvimento de recursos educacionais sobre o tema dos direitos Indígenas e sua relação com as mudanças climáticas. “Durante sua estada no Canadá, Mateus oferecerá workshops e apresentações para acadêmicos e estudantes interessados nos temas de direitos Indígenas, mudanças climáticas, soberania alimentar e segurança alimentar. Ele também desenvolverá um curso online destacando o trabalho de Tremembé em relação à soberania alimentar como um estudo de caso para outras comunidades indígenas aprenderem”, explica a orientadora para, em seguida, concluir: “Mateus é um estudante que se destaca por sua autonomia, interesse e responsabilidade, sendo uma importante liderança do povo Tremembé. Acredito que ele irá realizar mais essa etapa de sua formação profissional com excelência. Essa experiência é um valioso instrumento de valorização da diversidade de saberes e práticas sociais, além de possibilitar um avanço nas parcerias internacionais da Unilab.”
Para Mateus Tremembé está muito clara a importância de um estudante da Unilab, que é também um agricultor experimentador indígena cearense, ir para o Canadá falar de cultura alimentar. “Tem um debate muito grande, na verdade um debate muito necessário e urgente que é falar da relação dos povos do campo com a cidade, mas sobretudo a nossa relação enquanto seres humanos com a natureza, com a mãe terra, com os alimentos que nós consumimos. Os troncos velhos [que são os encantados para os indígenas] e muitos pesquisadores têm uma fala que diz que ‘nós somos o que comemos’. Então, se a gente é o que come, como é que nós estamos sendo de verdade, se a gente come um alimento que muitas vezes é produzido de forma desrespeitosa com a natureza, muitas vezes com trabalho escravo, com alimento ultraprocessado? A gente está se alimentando de coisa ruim e vai ter problemas no futuro, seja com a cadeia produtiva, seja com o meio ambiente, seja com o nosso corpo, com a nossa saúde. A gente tem que fazer esse debate da necessidade de uma transição alimentar urgente e precisa ser discutido sobretudo de forma geracional.”
Por conta do fortalecimento da internacionalização, via acordos de cooperação, o estudante da Unilab, Mateus Tremembé, terá a oportunidade de viver essa experiência de troca de conhecimento em um centro global de ensino, aprendizado e pesquisa, que comumente está classificado entre as 20 melhores universidades públicas do mundo, ratificando assim um dos pilares ou valores desta universidade que, desde 1915, “abre portas de oportunidades para pessoas com curiosidade, motivação e visão para moldar um mundo melhor”. Assim, ao longo dos anos, a UBC confirma essa visão ao receber alunos de destaque, incluindo em sua lista nomes como o do primeiro-ministro Justin Trudeau e de Kim Campbell, política que também já ocupou o cargo máximo canadense.
Visão geral do projeto Universidade da Floresta
Projeto desenvolvido pela Faculdade de Educação da UBC (University of British Columbia) no Canadá, em Cooperação Internacional com a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), que tem como objetivo desenvolver práticas pedagógicas inovadoras voltadas para a cidadania global e sustentabilidade, baseadas nos princípios educacionais e visões de mundo dos Povos indígenas no Brasil.
O projeto pretende aumentar a conscientização pública sobre a importância global de proteger os direitos, conhecimentos e modos de ser dos povos Indígenas no contexto da emergência climática. Apoiando pesquisas e o desenvolvimento de práticas pedagógicas e recursos educacionais a serem utilizados em escolas, associações juvenis, organizações comunitárias e instituições de ensino superior.
A equipe do projeto trabalhará em estreita colaboração com lideranças indígenas, anciãos e detentores de conhecimento. Com foco principal nas abordagens indígenas voltadas à conservação da terra, temática abordada em colaborações anteriores com o Povo Huni Kui da Amazônia, e nas abordagens indígenas ligadas à soberania e segurança alimentar em colaboração com o Povo Tremembé da Barra do Mundaú, no Ceará.
Minha participação como orientadora de estágio do Mateus Tremembé
“Sou professora do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR/Unilab) desde 2005. Atualmente leciono nos cursos de Agronomia e Engenharia de Alimentos, possuindo experiência nas áreas de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Agroecologia e Extensão Rural. Sou vice coordenadora dos grupos de pesquisa do CNPq, em Sistemas Agrícolas de Base Agroecológica, na área de Segurança Alimentar e Nutricional, e do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento, Educação e Economia Solidária (NEPDEESOL), nas áreas de Desenvolvimento Rural e Urbano, e Economia solidária. Minha formação acadêmica inclui Graduação em Engenharia de Alimentos pela Fundação Universidade Federal do Tocantins (2007). mestrado em Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal do Ceará (2009) e doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal do Ceará (2014).”
“Durante toda minha trajetória profissional docente, procurei trabalhar com metodologias ativas (aprendizagem baseada em problemas) e participativas, Diagnóstico Rural Participativo (DRP) de forma a promover uma maior integração e significação do processo de aprendizagem, levando em consideração os diferentes contextos econômicos, ambientais e sociais dos territórios trabalhados. Além de incentivar a valorização e troca de saberes tradicionais e científicos, na busca da produção e disseminação de conceitos, práticas e técnicas direcionadas à realidade local. Buscando, desta forma, legitimar o processo de construção de conhecimentos por meio da transposição didática do conceito científico para o contexto social. ”
“Meu papel nesta parceria é intermediar as ações de cooperação entre a Unilab e a UBC, junto aos professores que irão receber o Mateus no Canadá, profa. Dra. Sharon Stein, Profa. Dra. Vanessa Andreotti e o Prof. Dr. Evan Bowness, auxiliando na elaboração e cumprimento das atividades previstas no plano de estágio em consonância com os objetivos do Projeto Pedagógico do Curso de Agronomia e com as especificidades e interesses da UBC. Além de assessorar e avaliar o discente no cumprimento destas atividades. ”