Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Universidade Brasileira alinhada à integração com os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Coletivo de Estudantes Indígenas e Gestão Superior se unem na realização de um evento histórico no Dia dos Povos Originários

“Construímos esse evento não para comemorar, mas para enfatizar nossa resistência e luta cotidiana por direitos, respeito e dignidade”, ressaltou o Coletivo na abertura do evento.

Data de publicação  20/04/2023, 15:13
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Mesa de abertura da Programação Especial para o Dia dos Povos Indígenas.

19 de abril, Dia dos Povos Indígenas, não é mais como era, há bem pouco tempo atrás, uma efeméride meramente comemorativa, mesmo porque, segundo os povos originários, não há muita coisa para se comemorar, mas, sim, um dia reservado para a luta e a resistência contra o histórico processo de tentativa de dizimação desses povos, além de firmar uma pauta de reivindicações que permita o avanço das políticas públicas. Para demarcar esse posicionamento, foi realizado, nesta data, na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), mais especificamente, no Auditório I, do Campus das Auroras, uma Programação Especial organizada pelo Coletivo de Estudantes Indígenas da Unilab, sob o tema “Demarcar Espaços e Ser Resistência”, em parceria com a Gestão Superior, por meio da Reitoria, da Pró-Reitoria de Extensão, Arte e Cultura (Proex) e da Secretaria de Comunicação Institucional (Secom), além apoio do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

A Programação começou cedo e certeira no passo e no ritmo sincronizado do Toré, que é uma manifestação cultural de grande importância para várias etnias do Nordeste brasileiro, como os Tremembé, Kanindé, Kariri-Xocó, Xukuru-Kariri, Potiguara, dentre outros. Alunos e ex-alunos indígenas da Unilab lideraram professores, técnico-administrativos e demais estudantes nessa dança cantada, que remonta a uma prática do século XIX, entoando palavras de luta e cânticos ancestrais, como “Eu sou o cabocolinho da mata, quem manda na mata é eu, é eu, é eu, é eu, quem manda na mata é eu”. O Toré serviu para aquecer os corações e preparar as mentes para as discussões que estavam programadas para acontecer ao longo do dia.

Toré, que é uma manifestação cultural de grande importância para várias etnias do Nordeste brasileiro, como os Tremembé, Kanindé, Kariri-Xocó…

Em seguida, teve a formação da mesa de abertura do evento, que contou com a participação da Vice-Reitora da Unilab, a prof. Dra. Cláudia Carioca, da Pró-Reitora de Extensão, Arte e Cultura, Prof. Dra. Geranilde Costa, das representantes do Comitê de Acompanhamento das Políticas de Ações Afirmativas (Capaf), a mestra dançadeira Ana Eugênia, do Quilombo Sítio Veiga, em Quixadá, e a cigana Flor Fontenele, Jardel Felipe, estudante do Bacharelado em Humanidades (BHU), a indígena Lauriane Tremembé e Geyse Anne, representando o DCE.

“Hoje, dia 19 de Abril, Dia dos Povos Indígenas, construímos esse evento não para comemorar, mas para enfatizar nossa resistência e luta cotidiana por direitos, respeito e dignidade para com nossos territórios e identidades”, destacou o Coletivo de Estudantes Indígenas logo na abertura do evento, acrescentando, “Aqui na Unilab, nossa luta nasce antes mesmo de conseguirmos está aqui, lutando pelo direito de acessar o ensino superior e promover melhores condições para nossos povos. Compreendemos que a Unilab deveria ser esse espaço por ser uma universidade que traz a integração em seu nome e por ter um projeto que dialoga com a diversidade”.

A Vice-Reitora Cláudia Carioca: “Precisamos nos dispor, nos juntar, para tratar o tema da inclusão como deve ser tratado”.

Em suas palavras de saudação aos participantes deste evento histórico, a Vice-Reitora Cláudia Carioca endossou a visão estudantil indígena de que esta é uma data feita para a luta e para a reflexão. “Depois de me sentir integrada e fortalecida com o Toré, ressalto que hoje não é um dia de comemoração, mas, sim, um dia de reflexão, dia de rememorar os sofrimentos e os preconceitos contra os povos originários. Dia também de afirmar que precisamos nos unir cada vez mais e entender o que é inclusão de fato, que não é apenas aquilo que está escrito no papel. Inclusão é mais do que isso, é algo maior, que precisa estar dentro da nossa rotina, dentro de nossos corações, movendo nossas vontades. Então, precisamos nos dispor, nos juntar, como a pouco fizemos no Toré, [num só passo, numa só voz], para tratar o tema da inclusão como deve ser tratado. Porque falar é fácil, difícil é fazer, e esta Gestão está, sim, desde o começo, comprometida com a inclusão na Unilab”.

A Vice-Reitora lembrou ainda aos presentes que este evento histórico, fruto da parceria do movimento estudantil indígena e a Gestão Superior, era o primeiro ano em que, por força de Lei 14.402, de 08 de julho de 2022, deixou de se chamar “Dia do Índio” e passou a ser reconhecido como “Dia dos Povos Indígenas”. E esta nomeação, segundo os defensores da causa indígena, traz uma diferença muito importante, uma vez que a palavra “índio” é, por si só, um termo genérico que não levava em consideração a diversidade dos povos originários, daí a necessidade de mudança.

Agora, o uso do termo “Dia dos Povos Indígenas” consegue refletir com precisão as ideias e as lutas das diversas sociedades indígenas, fazendo, inclusive, um contraponto a essa visão eurocêntrica, colonizadora, que usou e abusou por séculos da palavra índio em tom pejorativo, associando-a ao atraso e a indolência, além, é claro, de se referir a “índio” para qualquer povo originário que ia conhecendo pelos territórios, tentando, assim, apagar a enorme variação linguística e cultural. E a palavra, não se pode esquecer, tem poder, tanto que “indígena” tem um sentido mais amplo, mais acolhedor, mais digno, significando “natural do lugar em que vive”. Logo, indígena expressa que cada povo, de onde quer que seja, é único.

Lauriane Tremembé: “Eu não conheço nenhum território indígena no Estado do Ceará que não esteja vivenciando, nesse momento, alguma violação de direitos”.

Além de agradecer o apoio recebido pela Gestão Superior para a realização do evento, a estudante indígena Lauriane Tremembé fez coro às falas de protesto. “Hoje, na maioria dos  nossos territórios (indígenas) está acontecendo diversas atividades. Só que não são atividades de comemoração, mas atividades de resistência, onde as nossas escolas, as nossas lideranças, enfim, todo mundo se junta para falar sobre o nosso processo de luta, para falar sobre as nossas identidades, sobre a nossa cultura, sobre os nossos alimentos, e tudo o mais que a gente tem dentro do nosso território. E, acima de tudo, pensar nos nossos direitos que são violados e violentados todos os dias. Eu não conheço nenhum território indígena no Estado do Ceará, no Brasil também, que não esteja vivenciando, nesse momento, algum conflito, alguma violência, alguma violação de direitos”.

Ainda pela manhã, ocorreu uma palestra sobre o “Histórico de luta dos povos indígenas do Ceará”, com o cacique Climério Anacé e mediação de Grazi Tremembé. Já no período da tarde teve uma Roda de conversa com as lutas da juventude e das mulheres indígenas do Ceará. E, encerrando a programação, aconteceu a Mesa: Demarcar espaços e ser resistência, que contou com as participações de Thiago Anacé (Oprince), Madson Pitaguary (Cojice), Prof. Dr. Roberto Kennedy, Rosa Pitaguary (Sepince) e Lauriane Tremembé (Coesi), com mediação de Viviane Anacé.

Cacique Climério Anacé fala sobre o “Histórico de luta dos povos indígenas do Ceará”.
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