Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Universidade Brasileira alinhada à integração com os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Reitor participa de audiência pública sobre a implantação do campus Unilab-Sul no bairro Restinga, em Porto Alegre

Evento aconteceu no dia 04 de setembro e contou com a participação de professores, pesquisadores, estudantes, políticos, representantes do movimento negro, moradores e lideranças da comunidade.

Data de publicação  08/09/2023, 20:03
Postagem Atualizada há 1 ano
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Na noite da última segunda-feira, dia 04 de setembro, foi realizada uma Audiência Pública na Paróquia Nossa Senhora da Misericórdia, no bairro da Restinga, em Porto Alegre, no Rio Grande de Sul, que contou com a presença do Reitor da Unilab, Prof. Dr. Roque Albuquerque, e a participação de professores, pesquisadores, estudantes, políticos, representantes do movimento negro, moradores e lideranças da comunidade.

Na pauta desta audiência, que reuniu cerca de trezentas pessoas, o projeto de implantação de um campus da Unilab, batizado de campus Unilab-Sul, que teria cursos direcionados para a área da saúde, como Medicina, Enfermagem, Farmácia, Odontologia, Psicologia, nesta comunidade, que é reconhecida, sobretudo, como local de resistência negra, além de ser um dos maiores bairros periféricos da América Latina.

Com cerca de 61 mil habitantes, representando 4,31% da população municipal, esse grande bairro foi fundado na década de sessenta, quando uma comunidade pobre que morava em casebres antigos no bairro Ilhota, no centro porto-alegrense, foi transferida para uma área que ficava a vinte e dois quilômetros de distância da área central da capital. Nascia assim, como muitos outros lugares periféricos do Brasil, o histórico bairro da Restinga.

Manifestação de apoio ao projeto Unilab na Restinga.

O professor Sérgio de Mattos, pesquisador e professor, fez as honras da casa e apresentou ao Reitor e aos demais participantes, esse que é o grande sonho da comunidade da Restinga: ter um campus da Unilab. Além de apresentar, didaticamente, as linhas gerais desse projeto, o professor Sérgio fez uma defesa enfática do mesmo:

“Por que a instalação de um campus da Unilab no Sul do país? Porque isso vai ao encontro a todas as causas e lutas dos minorizados por uma educação pública de qualidade e gratuita. Onde seria a instalação desse Campus? Na Restinga. Por que aqui? Porque Restinga é o segundo bairro mais negro de Porto Alegre e um dos maiores em representatividade e resistência da população periférica, do sul do país, e que fica longe, aproximadamente vinte e quatro quilômetros de distância, do centro da cidade, das faculdades ou universidades. A instalação dessa universidade aqui [campus Unilab-Sul] vai quebrar várias barreiras, paradigmas, não só para a comunidade da Restinga, mas para todas as comunidades periféricas dos Brasil”, defendeu Sergio de Mattos, que ainda destacou o apoio dos professores unilabianos Pedro Aleyva e Bas’Ilele Malomalo, que estão participando, desde o início, da articulação deste projeto.

Coordenadora do Projeto Unilab-Sul, Giane dos Santos, dando detalhes do projeto durante a Audiência Pública.

Por sua vez, o reitor Roque Albuquerque explicou que essa não é uma demanda interna da Unilab, mas um pedido de uma comunidade negra que vem ao longo dos anos construindo uma história de lutas e conquistas. “A Unilab-Sul não é um movimento de dentro da Unilab para fora. É, sim, uma movimentação natural de uma comunidade de pretos excluídos do centro da cidade [de Porto Alegre], em 1967, que, pela mobilização, já conquistou muitas coisas. Logo, eles veem na Unilab, por conta do nosso DNA, por ser uma universidade Afro-Brasileira, a grande chance de poder abrir [um campus], especialmente com cursos da área da saúde, porque eles já tem hospital-escola fechado. Portanto, me procuraram e hoje há uma mobilização grande de parlamentares para eu poder ajudar!”, explicou o reitor, reconhecendo o potencial histórico e político dos demandantes.

Se a comunidade organizada da Restinga já mostrou força por meio da sua história, em relação esse pleito ela conta com um trunfo valioso: um hospital-escola pronto para receber esses cursos da área da saúde.  “O nosso hospital tem uma estrutura excelente. Mesmo sendo de média complexidade, nossa capacidade de diagnóstico é muito grande. E temos ainda a área da escola, que é uma área também grande, que já foi planejada e pensada no futuro das instituições de ensino, que serviria para, em algum momento, ser uma escola de cursos tanto de nível médio, quanto de nível superior. Hoje, a gente sub-utiliza esse espaço porque é, realmente, muito grande. Se dá alguns cursos, algumas palestras nessa área destinada ao ensino, mas a ideia é que se nós tivermos algum curso superior essa estrutura poderá ser muito melhor utilizada”, detalhou Carlos Henrique Casartelli, Diretor Técnico do Hospital da Restinga e Extremo Sul.

Unidade didática do Hospital da Restinga e Extremo Sul.

As palavras “reparação e crença” [na concretização dessa ideia], que estiveram presentes de maneira recorrente nas diversas falas durante a Audiência, demarcam  bem os passos desse projeto. A deputada estadual Laura Sito, que foi uma das articuladores da Audiência Pública, explica melhor esse conceito de reparação por trás desse projeto:

“A ideia da Unilab na Restinga é a implantação, na verdade, de algo que tem tudo a ver com a ideia de reparação sobre esse território. Nós aqui, de Porto Alegre, vivemos numa das capitais mais segregadas racialmente e socialmente do Brasil. E aqui está situada uma das maiores comunidades negras de Porto Alegre e também uma comunidade extremamente afastada do centro. Criada, inclusive, numa visão higienista do centro da cidade, concebida lá nos anos 60. Portanto, ter aqui uma universidade federal, internacional, de integração com os países de Língua Portuguesa, um campus com cursos da área da saúde, como Medicina, Odontologia, Psicologia, é não só um ativo de reparação, mas também de reafirmação da cidadania e da autonomia da população da Restinga, essa comunidade que pulsa participação popular, que pulsa a luta por cidadania e por vida digna”, descreve a deputada.

Deputada Estadual Laura Sito e o Reitor da Unilab, Prof. Dr. Roque Albuquerque.

O deputado estadual Matheus Gomes reforça e defende essa ideia de reparação, além de ver no projeto um instrumento importante e fundamental para qualificar o serviço público de saúde nas regiões periféricas porto-alegrenses.

“A ideia de um campus da Unilab na Restinga, trazendo para cá cursos da área das ciências da saúde, pode ter potencial revolucionário, não apenas para essa comunidade, mas para a cidade de Porto Alegre como um todo. A gente tem a obrigação de popularizar o acesso a esse tipo de curso, para, a partir daí, também buscar qualificar o serviço público de saúde nas regiões periféricas da cidade Porto Alegre, que é onde a gente mais precisa. Então, a gente vê com muito bons olhos essa ideia. Vamos continuar articulando a comunidade da Restinga, do extremo sul, do extremo leste, de Porto Alegre como um todo, porque a Unilab aqui, nesse território, é um processo de reparação histórica com uma comunidade que foi tão esquecida pelo poder público. Agora pode ter uma oportunidade de se transformar e de virar um polo de referência educacional, porque nós temos o IF (Instituto Federal) aqui, e vamos ter uma universidade. Então, podemos, a partir daí, pensar o fortalecimento da rede básica de educação. Enfim, é uma ideia muito importante que a gente vai lutar muito para que se concretize”, declarou o deputado, resumindo bem os próximos passos dessa luta.

Agenda do Reitor em Porto Alegre

Embora o grande momento dessa Missão da Unilab tenha sido a Audiência Pública com os diversos atores que moram, trabalham ou atuam no bairro da Restinga, o reitor teve uma agenda cheia de compromissos. Logo pela manhã do dia 04 de setembro, ele foi recebido pela coordenação do projeto Unilab-Sul e pelo gabinete da Deputada Estadual Laura Sito, com quem o reitor Roque Albuquerque teve uma reunião. Além da deputada, estiverem presentes nesta reunião os coordenadores do Projeto Unilab-Sul, Sergio de Mattos e Giane dos Santos, dentre outros consultores e pesquisadores envolvidos com o projeto. Em seguida, houve uma visita às Quilombelas, grupo organizado que desenvolve projetos em diversos eixos, numa perspectiva antirracista e de protagonismo feminino negro, que se organiza dentro da Escola Senador Alberto Pascoalini.

Roda de Conversa no Hospital da Restinga e Extremo Sul.

Ao meio-dia, houve um almoço no Instituto Federal do Rio Grande do Sul, onde o reitor teve um encontro com o Diretor Geral do campus da Restinga do Instituto Federal, Rudinei Muller, e com outros professores, técnicos-administrativos e lideranças da comunidade.

A agenda seguiu com uma Roda de Conversa no Hospital da Restinga e Extremo Sul, com as presença da Diretora Geral, Amanda Dal Molin, do Diretor Técnico, Carlos Henrique Casartelli, e do Gerente Assistencial, Ricardo Cunha, no que foram acompanhados pelos coordenadores do projeto Unilab-Sul e algumas lideranças comunitárias da Restinga. Em seguida, realizaram uma visita a unidade didática do hospital, um espaço totalmente pronto que, certamente, servirá de hospital-escola ao futuro campus Unilab-Sul.

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