Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Universidade Brasileira alinhada à integração com os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Licenciatura Intercultural Indígena abre trabalhos com Rito Aula Inaugural

A nova graduação é uma conquista dos povos indígenas do Ceará por meio do Parfor Equidade. Evento ocorreu dentro da Semana Internacional de Humanidades (SIH).

Data de publicação  29/08/2024, 13:48
Postagem Atualizada há 2 meses
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Caciques e lideranças indígenas de diversas etnias do Ceará participaram do Rito Aula Inaugural da Licenciatura Intercultural Indígena (Liindi). Foto: Secom/Unilab.

Na última segunda-feira (26), uma nova graduação anunciou o início oficial de sua atuação na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), no Ceará. A Licenciatura Intercultural Indígena (Liindi), curso vinculado ao Instituto de Humanidades da (IH), realizou um “Rito Aula Inaugural”, lotando o pátio da Unidade Acadêmica dos Palmares, em Acarape/CE. 

Participantes do Rito Aula Inaugural. Foto: Secom/Unilab.

O evento contou com a presença de caciques e lideranças indígenas de diversas etnias do Ceará, estudantes indígenas e não-indígenas da Unilab, docentes do IH e demais apoiadores da causa indígena no estado. Iniciado com falas das autoridades e congratulações à ancestralidade dos povos originários, o Rito Aula Inaugural se consolidou no final da tarde com a plantação de um Baobá — árvore sagrada e representativa das conexões espirituais com a ancestralidade — e uma grande roda de Toré na entrada da unidade acadêmica.

Ao microfone, o professor do IH e coordenador da Liindi, Roberto Kennedy. Foto: Secom/Unilab.

A primeira turma da Liindi oferta 80 vagas a estudantes reconhecidos como indígenas por nove etnias do estado do Ceará, e é uma conquista do movimento indígena organizado da Unilab, que obteve a aprovação do recurso por meio do Parfor Equidade, uma ação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) idealizada junto à Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi/MEC). 

O curso tem duração de quatro anos, e funciona por meio do trabalho conjunto de docentes indígenas (com autoridades e saberes reconhecidos por seus povos) e de professores lotados no Instituto de Humanidades. A licenciatura garantirá uma bolsa mensal no valor de R$ 700 para cada um de seus cursistas, além de bolsas destinadas a professores formadores e convidados. 

Plateia durante o Rito Aula Inaugural, parte também da programação da I Semana Internacional de Humanidades. Foto: Secom/Unilab.

Segundo Roberto Kennedy, professor do IH e coordenador da Liindi, os trabalhos em torno da organização do curso e pleiteio dos recursos pelo Parfor se deram de forma coletiva e tiveram início em setembro de 2023, concretizando-se em tempo recorde para essa inauguração. ”A gente formou um coletivo de trabalho pedagógico com lideranças indígenas, pajés, caciques, organização dos povos indígenas, a Rede de Museus do Povo Kanindé, enfim, diferentes segmentos, diferentes etnias do movimento indígena no Ceará, professores, técnico-administrativos, terceirizados… Na nossa proposta pedagógica, agora, a gente tem a biografia de cada uma dessas pessoas e fizemos um trabalho ininterrupto de dedicar a nossa vida integralmente para escrever essa proposta. Escrevemos em tempo recorde, na classificação geral nós ficamos em nono lugar em licenciatura intercultural indígena no Brasil”, rememora.

A diretora do IH, Luma Andrade, e o coordenador institucional do Parfor Equidade, Luís Carlos. Foto: Secom/Unilab.

Ainda segundo o coordenador, o orçamento total destinado ao curso pelo Parfor gira em torno de 5 milhões de reais, fora outros suportes de assistência estudantil que estão sendo demandados à Unilab, como o uso do Restaurante Universitário (RU).

Cacique Cauã Pitaguary. Foto: Secom/Unilab.

Estiveram presentes no evento autoridades da Unilab, como a vice-reitora, Cláudia Carioca, e a diretora do Instituto de Humanidades, Luma Andrade. Quanto às autoridades dos povos indígenas do Ceará, tiveram fala Cléber Nogueira, liderança Tapeba que ocupa o cargo de coordenador local indígena na Liindi; Cícero Pereira, presidente da associação indígena Kanindé; Cacique Sotero, mestre da cultura indígena do Povo Kanindé; Cacique Jorge Tabajara, advogado coordenador da Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará (Sepince); Evânia Pitaguary, diretora da escola indígena Kanindé; Thiago Anacé, Coordenador Regional Nordeste II da Funai; Cacique Cauã Pitaguary e Sara Mércia, liderança do coletivo de estudantes indígenas da Unilab.

Evânia Pitaguary, diretora da Escola Indígena Kanindé. Foto: Secom/Unilab.

Durante as falas, Thiago Anacé chamou atenção para a importância da construção coletiva para dar legitimidade à licenciatura: “Política pública não se faz sem duas coisas: a primeira é orçamento, e o Parfor Equidade garante o orçamento. Se o orçamento é garantido, o segundo ponto é que a gente tenha participação. Não existe construir um curso para os povos indígenas sem sentar com essas lideranças, sem chamar os alunos para o debate, sem chamar os coordenadores indígenas para o debate. Não apenas como figurantes. Um debate em que nós possamos definir de verdade quais os rumos do curso”, salientou.

Sara Mércia, membra do coletivo de estudantes indígenas da Unilab e discente de Ciências Biológicas. Foto: Secom/Unilab.

Sara Mércia, discente de Ciências Biológicas que representou o coletivo de estudantes indígenas da Unilab, pontuou a importância de que os saberes circulantes na Liindi retornem e confluam com as comunidades e os povos de onde os discentes são originários. “Precisamos pintar a universidade de Jenipapo”, convocou, referindo-se a uma tradição e medicina de proteção espiritual dos povos originários. 

Durante a cerimônia, foram feitas muitas menções a “parentes que se encantaram”, dentre eles o Pajé Barbosa Pitaguary, que faleceu em dezembro de 2022. Climério Anacé, liderança indígena atuante na Unilab, em sua fala, afirmou que “tem muita tese de mestrado daqui de dentro [do Instituto de Humanidades] que nasceu na casa do Pajé Barbosa”. Segundo Climério, a Unilab é hoje a universidade com maior população indígena no estado do Ceará, “fruto da luta coletiva”, pontua.

Baobá plantado durante o Rito Aula Inaugural como símbolo da integração com África. Público dança torém ao fundo. Foto: Secom/Unilab.

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