Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Universidade Brasileira alinhada à integração com os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Campus dos Malês: 7 anos de travessias Brasil – África

Há sete anos o Campus dos Malês da UNILAB era inaugurado em São Francisco do Conde, na Bahia.

Data de publicação  12/05/2021, 12:39
Postagem Atualizada há 4 anos
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A chegada da UNILAB no território baiano fez parte de um compromisso estabelecido entre sociedade civil, representada por movimentos sociais, com destaque para os Movimentos Negros, e o Estado Brasileiro. O Brasil reconhecia e pedia perdão pelo legado vergonhoso da escravidão e promovia políticas públicas de reparação e equidade. Não é à toa que a sede da UNILAB está em Redenção – CE, primeiro lugar a fechar as portas para o tráfico de africanos escravizados; não é à toa que seu Campus fora de sede situa-se no Recôncavo baiano, território orgulhosamente marcado pela presença negra.

O número sete tem mítica e mística de destaque para várias culturas. Ligado a vários ciclos da natureza, sua simbologia, em várias tradições (passando pelas religiões de matriz africana, cristianismo, judaísmo, islamismo e tradições indígenas de vários territórios), representa fechamento de ciclos – são sete anos o tempo necessário para a conclusão de ritos em iniciação para várias tradições, como a Bantu, por exemplo. É também emblema de transformação, cura, novas possibilidades, entre muitos outros sentidos.

Nesses sete anos de existência do Campus dos Malês, alguns ciclos estão em permanente processo de abertura e conclusão: a cada semestre iniciam-se novas turmas de Administração Pública, Bacharelado em Humanidades, Bacharelado em Relações Internacionais, Licenciaturas em Ciências Sociais, História, Letras e Pedagogia. A cada semestre formam-se pessoas, majoritariamente negras, que subvertem a lógica estruturalmente racista que fundamenta as relações e lugares sociais neste país, e mostram que, apesar de tantos históricos nãos, a Universidade pública, gratuita, laica e de excelência é SIM seu lugar.

É esta Universidade que acontece nos Campus dos Malês, comprometida com o princípio da solidariedade entre os povos – como preconizam a lei de criação e o Estatuto da UNILAB. Aqui a presença de pessoas LGBTQI+, quilombolas, indígenas, ciganos, angolanxs, caboverdianxs, Bissau-guineenses, moçambicanxs, sãotomenses, brasileirxs de vários estados modifica nosso modo de fazer ciência, nosso modo de compreender o mundo, nossas prioridades e referências. Da experiência da integração, com suas dores e delícias, os saberes acadêmicos aprendem com as vozes tradicionais e populares, em movimento constante de confluência, de troca, de ampliação, preservação e resistência.

Aliás, toda pessoa que carrega a identidade Malês sabe que a resistência, legado de nosso nome, é exercício cotidiano de existência também. Nesses sete anos a obra inacabada mostra que há uma abertura importante no ciclo de consolidação e de conclusão de condições dignas e seguras de trabalho e estudo. Sabemos que esta lacuna é dolorosa e é urgente o seu fechamento.

Por outro lado, no Projeto Político Pedagógico de cada curso que acontece no Campus dos Malês, na prática docente, no engajamento de técnicxs-administrativos, na experiência ensinada por cada estudante a força para a nossa resistência se amplia.

Nesses sete anos, avançamos em nosso processo de institucionalização, desde a criação de nossa identidade visual dentro da marca UNILAB, até nossa efetiva participação nos órgãos de deliberação superior, estreitando o diálogo com a gestão superior, participando ativamente nos Grupos de trabalho que visam a reestruturação da universidade, em colegiados que discutem assistência e permanência estudantil, na produção de documentos institucionais, como a Resolução de Campus fora de sede aprovada pelo CONSUNI em novembro de 2019.

Nossa institucionalização inclui a efetivação de processos locais de planejamento e administração que permitiram a execução de ações essenciais como dedetização, manutenção de aparelhos de ar condicionado, manutenção de reservatório de água, requalificação da laje, manutenção predial, contratos próprios de impressora, pessoal terceirizado de apoio administrativo, limpeza e segurança…

Nossa institucionalização se expressa na participação em Conselhos e Fóruns municipais e estaduais, como os Conselhos de Cultura, o Fórum de Formação de Professores da Secretaria Estadual de Educação, o Fórum Estadual de Educação da Bahia, só para citar alguns exemplos. Nossa consolidação se acentua também nas parcerias e convênios estratégicos com outras Instituições de Ensino Superior dentro e fora do Estado, em projetos de pesquisa e extensão, em eventos, em redes que propõem políticas públicas para o desenvolvimento de territórios e nações.

Sabemos que nem sempre foi fácil ser Malês: precisamos ampliar nossa capacidade de escuta a estudantes, docentes e técnicxos; precisamos repensar estratégias de sobrevivência em um cenário de desmonte iniciado em 2016 com a Emenda Constitucional 96 e agravado ao longo dos últimos anos, com desinvestimento expressivo em 2021. A pandemia nos impõe novas práticas, diante das mais adversas condições estruturais, físicas e subjetivas.

Mas sabemos que da nossa unidade, atravessada pela identidade Malês ancestral, outras insurreições são possíveis e seguiremos adiante, na luta por Educação Superior democrática e plural para o interior do Brasil e para Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Sim, somos Malês, e da nossa dor e da nossa força, buscamos alternativas de cura: na cultura, na arte, na extensão, na pesquisa, nas várias expressões de nós tão lindamente representadas nas fotos de formatura de nossos cursos: ali atualizam-se as faces Dandaras, Zumbis, Mahins, Marias Felipas, Joanas Angélicas, Quitérias, Almícares, Deolindas Rodrigues, Titinas Silás, Marielles Franco e tantas mulheres e homens que deram sua vida por independência, respeito e justiça social.

Parabéns ao Campus dos Malês da UNILAB pelos seus sete anos!

Parabéns ao Campus dos Malês da UNILAB pelos muitos anos que ainda virão!

Malês resiste, hoje, e todos os dias!

Mírian Reis

Diretora do Campus dos Malês da UNILAB

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