Data Magna do Ceará comemora 139 anos da abolição da escravatura
Há exatos 139 anos o Ceará aboliu a escravatura, ficando para a história como a primeira província do Brasil a encerrar o doloroso processo de escravidão. Alguns historiadores, em sua maioria brancos, tentam minimizar esse pioneirismo alegando que a economia cearense dependia pouco da mão-de-obra escrava, ou seja, por ser uma província pobre, contava com um número reduzido de pessoas escravizadas em relação às outras províncias do Brasil e, além disso, mesmo depois desse ato, seria fácil constatar a presença de escravos nas arcaicas lavouras cearenses, estando, portanto, a data magna mais para retórica e propaganda do que para a realidade.
O fato é que, gostem ou não esses historiadores, o dia 25 de março de 1884, reconhecido como a Data Magna no Ceará – instituído apenas em 6 de dezembro de 2011, por lei publicada no Diário Oficial do Estado –, marca de maneira indelével a nossa história, pois foi aqui, na terra de Dragão do Mar, que se deu de forma pioneira a abolição da escravatura. Este marco ocorreu, inclusive, quatro anos antes da aclamada Lei Áurea, instituída pela princesa Isabel em 13 de maio 1888, decretando o fim da escravidão em todo o território nacional. A versão oficial, diga-se, de uma mulher branca, da realeza, libertando os negros da escravidão foi, sim, prontamente aceita, sedimentada e propagada pelos historiadores e seus livros de história, em especial os livros didáticos.
Longe de querer esconder as contradições e embates sobre a nossa história, é preciso cada vez mais aprofundá-las, enfrentá-las, sendo a Data Magna do Ceará um momento mais do que oportuno para isto, afinal, além da comemoração, a Data é também um momento singular de reflexão, enfrentamento e ressignificação por parte do povo negro.
Não é preciso ir aos livros de história nem ouvir certa historiografia para saber que ainda há muito a ser feito, pois, enquanto as flagrantes desigualdades de ordem prática e simbólica não forem superadas, a escravidão, segundo o vaticínio de Joaquim Nabuco, “permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”.