Seminário enfoca confluências culturais no Brasil, Caribes e África
O projeto de extensão Grupo de Integração Musical da Unilab (Gimu/Nyemba/Unilab), o Grupo de Pesquisa Antropologia, Fronteiras, Espaços e Cidadania (Afec – UCSal/CNPq) e o Grupo de Estudos e Pesquisas “União Africana” (Nupe/Proec-Cladin/FCLAr-Unesp-CNPq) realizaram, nos dias 20 a 22 de agosto, o Seminário Confluências entre culturas, musicalidades africanas e afro-brasileiras no Brasil, nos Caribes e na África, ocorrido nas cidades de São Francisco do Conde e Salvador, na Bahia.
O seminário reuniu pesquisadores e artistas para um debate em torno das musicalidades africanas e afro-diaspóricas, a partir da participação de pesquisadores e músicos brasileiros, angolanos, guineenses e moçambicanos.
O evento partiu da noção de confluência, do intelectual quilombola Nego Bispo, levando em consideração as aproximações existentes entre as musicalidades africanas e afro-diaspóricas, presentes nos locais da diáspora africana e no continente africano, como também a abordagem interdisciplinar, a partir da Antropologia, História e da Etnomusicologia. Como diz Nego Bispo, “quando a gente confluencia, a gente não deixa de ser a gente, a gente passa a ser a gente e outra gente – a gente rende”.
Tendo como objetivo debater sobre as culturas e as musicalidades africanas e afro-diaspóricas a partir das trajetórias de produções de pesquisa e artísticas realizadas no campo da música e das culturas, o evento problematizou como em África e nas Américas o trânsito sobre musicalidades africanas e afro-diaspóricas se confluem, seja no consumo musical, na pesquisa, nas políticas públicas, ou em outras dimensões culturais.
Desse modo, os convidados das mesas e rodas de conversas apresentaram suas percepções em torno do tema, a partir das suas trajetórias artísticas ou de pesquisas no campo da cultura, tendo as musicalidades africanas e afro-diaspóricas como fio condutor das suas exposições.
Panorama da programação
No dia 20, foi realizada a mesa “Referências africanas nas musicalidades afro-diaspóricas”, com a professora Juliana Farias (historiadora, Unilab), Eric Brasil (historiador, Unilab), Julie Lourau (antropóloga, UCSal), Dagoberto Fonseca (antropólogo, Unesp) e mediação de Ana Cláudia Souza (antropóloga, Unilab). A mesa debateu questões em torno dos desafios das pesquisas sobre musicalidades, ou como o professor Dagoberto Fonseca definiu, a partir de uma antropologia sonora e reflexões sobre as sociabilidades produzidas pela música.
Julie Lourau apresentou a pesquisa que realiza sobre reggae e a cena do reggae em Salvador, como forma de resistência desse estilo musical e comportamentos por esse ritmo ensejado. Já Eric Brasil discorreu sobre o carnaval em Trinidad e Tobago e de como a população se apropriou da festa para ressignificar os elementos relacionados à colonização e a escravidão. Juliana Farias apresentou sua pesquisa sobre samba de roda e de como mulheres negras, africanas, marisqueiras, do Recôncavo Baiano conseguiram preservar o legado do samba de roda.
Neste mesmo dia, a roda de conversa “Cultura e identidade: musicalidades de Guiné-Bissau, Angola e Moçambique” contou com os estudantes da Unilab Bill Clinton Nanque (Guiné-Bissau), Mwanene (Moçambique), Fadário Calembela (Angola), com mediação de Pedro Quissongo (Angola). A roda de conversa girou em torno das referências das musicalidades que traziam e imprimiam as músicas que produzem estando no Brasil, como também abordou ritmos musicais guineenses, como a tina e gumbé, o legado da música produzida pelo rapper moçambicano Azagaia e as experiências de formação em música de conservatório em Angola.
Já no dia 21, o evento foi deslocado para a Casa Cultural Reggae, localizada no Pelourinho, Salvador, onde foi realizada uma roda de conversa sobre o reggae na Bahia e trajetórias de artistas dessa cena. Com participação de Jô Kalado (músico), DJ Ras Peu (músico), Kamaphew Tawa (músico) e mediada por Julie Lourau. Para encerrar as atividades do dia, houve uma apresentação da cena musical da Unilab, com artistas do Gimu e do reggae.
No último dia, houve o lançamento do livro “Um povo, duas nações – Angola e Brasil: o mundo Bantu no Atlântico”, de Dagoberto José Fonseca, na UCSal, com participação de Luandino Carvalho, Adido Cultural da Embaixada Angolana no Brasil e diretor da Casa de Angola em Salvador, além de docentes e estudantes do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Cidadania da UCSal. Na oportunidade, o professor Dagoberto Fonseca apresentou a sua trajetória de pesquisa em Angola e as aproximações do país com o Brasil.