Oficina em Cabo Verde marca início da Universidade Popular de Movimentos Sociais (UPMS) da Unilab
Consolidando o projeto Universidade Popular de Movimentos Sociais (UPMS) na Unilab e no contexto da comemoração dos 40 anos de Independência de Cabo Verde, foi realizada nos dias 12, 13 e 14 de julho a I oficina da UPMS na Ilha de Santiago, em Cabo Verde. Com o tema “Educação, Movimentos Sociais e Dignidade Humana: 40 anos de Educação em Cabo Verde e desafios pós-2015”, a ação foi realizada na comunidade dos Rabelados, em Espinho Branco, município de São Miguel.
A UPMS está sendo implementada pela Unilab e parceiros nacionais e internacionais. Ela tem como pilares para seu desenvolvimento: “Educação como Direito Humano e Educação Étnico-Racial; Juventude(s) e Dignidade Humana; e Direitos das Mulheres em foco”. Sem sede específica, a universidade acontece onde estão os movimentos.
Uma das coordenadoras da UPMS, professora Jacqueline Freire, do Instituto de Ciências da Natureza e Matemática (Icen), explica que a comunidade de Rabelados é formada por camponeses que resistiram à subordinação religiosa católica na década de 1940, quando o país ainda era colônia de Portugal. Na perspectiva de garantir sua ancestralidade e tradições, os Rabelados refugiaram-se nas montanhas, passando a viver livremente sua cultura, sendo, no entanto, historicamente segregados, processo esse que tem sido revertido pela afirmação de suas lutas e resistências, apesar dos complexos desafios que continuam a enfrentar.
A programação contemplou uma passagem pelo município de Santa Catarina, com visita na casa onde viveu Amílcar Cabral, líder da luta pela independência de Cabo Verde e Guiné Bissau, atualmente Museu da Residência. Foi visitado o Campo de Concentração do Tarrafal, localizado em município homônimo, onde muitos prisioneiros políticos de países africanos resistiram na luta de seus ideais e muitos tombaram na repressão.
A oficina teve a presença do Ministro do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território, Antero Veiga, que ouviu os reivindicações da comunidade, assumindo compromissos em contribuir para o equacionamento dos problemas lá abordados. “Deixei a Comunidade de Espinho Branco com a sensação e mesmo certeza de que ainda vamos a tempo de mobilizar mais vias e meios para contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos Rabelados”, afirmou Antero Veiga. O evento foi destaque na imprensa de Cabo Verde.
A participação de jovens rabelados foi um diferencial, uma vez que tiveram a oportunidade de expressar suas opiniões aos órgãos governamentais, instituições e entidades da sociedade civil presentes.
Representando a Unilab, a oficina foi coordenada pelas professoras Elisangela André e Jacqueline Freire, além da participação das professoras Rebeca Meijer e Geranilde Silva, nas visitas no dia 12. Para Elisangela e Jacqueline, “iniciativas como essa oficina reafirmam e fortalecem a missão institucional da Unilab de integração internacional e cooperação solidária, saindo da retórica para a ação concreta e transformadora”. O projeto foi aprovado no edital de fluxo contínuo do Programa Institucional de Bolsas de Extensão, Arte e Cultura, da Pró-Reitoria de Extensão, Arte e Cultura (Pibeac/Proex 2015).
O evento foi realizado pela Unilab, o Instituto Universitário de Educação de Cabo Verde (IUE), o Projeto ALICE do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/UC), Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO/Brasil), com a parceria da Plataforma de ONG’s de Cabo Verde, a Associação dos Rabelados de Santiago (Rabelarti), a Universidade de Cabo Verde (UNI-CV), a Casa Brasil-África da Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), a Trama Teia Filmes/Marabá/Brasil.
.
A Universidade Popular de Movimentos Sociais (UPMS)
A proposta da UPMS foi apresentada no Fórum Social Mundial (FSM) de 2003, por Boaventura de Sousa Santos, reconhecido intelectual português, com vasta produção teórica que vem contribuindo para a constituição de conhecimento sobre as epistemologias do Sul. Jacqueline Freire explica que a perspectiva da universidade é constituir-se como espaços de diálogos entre os movimentos sociais, organizações da sociedade civil e instituições, que possam intercambiar seus saberes e produzir conhecimento coletivo e intercultural, a fim de gerar agendas comuns e, consequentemente, práticas transformadoras, tanto para os próprios movimentos como para o planeta. Boaventura de Sousa Santos expressou satisfação pela experiência da oficina realizada em Cabo Verde. “Fico muito feliz por esta auspiciosa colaboração triangular e transantlântica”, afirmou.
Juntamente com Jacqueline Freire, também coordena a UPMS a professora Matilde Ribeiro, do Instituto de Humanidades e Letras no Campus dos Malês. Além das instituições envolvidas na oficina, a UPMS também tem a parceria da Campanha Nacional pelo Direito à Educação/Brasil, a Cátedra Unilab e Central Única dos Trabalhadores (CUT/CE), bem como diversas universidades brasileiras, organizações da sociedade civil, em nível internacional e nacional, apoiam a construção e consolidação da UPMS.
.