“Brasil é o maior país africano fora da África”, afirma embaixador durante palestra na Unilab
“O Brasil é o maior país africano fora da África. É muito mais africano do que a elite brasileira gostaria”. Com esta linha de pensamento, o embaixador do Brasil em São Tomé e Príncipe, José Carlos de Araújo Leitão, conduziu a palestra “A importância da África para o Brasil: processo histórico e momento presente”, proferida no Campus da Liberdade, em Redenção/CE, nesta quinta-feira (9).
Filho e neto de cearenses, José Carlos de Araújo Leitão está há três anos em São Tomé e Príncipe e ingressou na carreira diplomática em 1975. Ele ressaltou que a partir do governo de Luís Inácio Lula da Silva o Brasil abriu ou reabriu 19 embaixadas na África.
“Foi ótimo ter aberto tantas embaixadas. O Brasil congrega pessoas do mundo inteiro e durante séculos recebeu milhões de africanos escravizados, não vejo motivo para não termos embaixadas na África”, afirmou.
O embaixador explicou que o estreitamento das relações entre o Brasil e os países africanos faz parte de um processo que começou ainda com o curto governo de Jânio Quadros, em 1961. “O então presidente adotou uma política externa independente, posicionando-se contra o colonialismo português”, disse, acrescentando que Quadros criou algumas estratégias que deram frutos, como o Centro de Estudos Afro-asiáticos, localizado no Rio de Janeiro.
Apesar da ditadura militar (1964 – 1985), o governo Médici, considerado o mais “duro” do período, enviou chanceler a África para visitar sete países, em 1972, ano em que o Brasil comemorava 150 anos da Independência de Portugal. Com a Revolução dos Cravos, ocorrida em 25 de abril de 1974, em Portugal, terminava o regime autoritário de Salazar e as colônias portuguesas na África ganhavam a independência. O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola. “Os africanos desconfiavam do Brasil por todo o tempo em que o país esteve alinhado às posições de Portugal”, refere.
Já em 1996, criou-se a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com forte influência do embaixador brasileiro, Aparício de Oliveira. “O Português é a sexta língua mais falada no mundo. No Brasil, são 200 milhões de falantes. A língua descreve o caminho dos descobrimentos”, destacou José Carlos de Araújo, que se intitulou um “entusiasta da CPLP”.
Entre as conquistas da relação mais próxima entre Brasil e África, o embaixador citou alianças políticas que conduziram dois brasileiros à direção da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) e a Organização Mundial do Comércio.
A embaixada do Brasil em São Tomé e Príncipe desenvolve atualmente 16 projetos em diversas áreas, como Educação, Saúde, Comunicação Social. Dentre estes, o embaixador destacou o projeto Alfabetização Solidária, baseado na pedagogia de Paulo Freire, que esteve em São Tomé e Príncipe durante um ano e meio na década de 1970, como consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A experiência está documentada no livro de Paulo Freire, “As cartas de São Tomé”.
“Paulo Freire é um ídolo em São Tomé e Príncipe. Na porta do Liceu Nacional está escrito um pensamento dele. O lugar que forma os futuros governantes do país reverencia Paulo Freire”, contou José Carlos de Araújo. Na área da Saúde, os projetos combatem a malária, tuberculose e aids.
O embaixador destacou ainda a importância da lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. Neste contexto, elogiou também o papel da Unilab. “A Unilab é a contracorrente dessa tendência de não colocar no lugar certo os estudos africanos, num país que tem as características do Brasil”, sublinhou.
Sobre José Carlos de Araújo Leitão
O embaixador José Carlos de Araújo é bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (1976) e mestre em Direito Público (1981) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ingressou na carreira diplomática em 1975, por concurso, tornando-se Terceiro Secretário no ano seguinte. Foi promovido a Conselheiro (1996) e a Ministro de Segunda Classe (2004).
Entre as funções desempenhadas na Administração Pública pelo embaixador, destacam-se a de Primeiro-Secretário na Embaixada em La Paz (1993-96); Conselheiro na Embaixada no Vaticano (1999-03); assessor no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (2003-06); Ministro-Conselheiro na Embaixada em Lisboa (2006-09); e Subsecretário de Relações Internacionais junto ao Governo do Estado do Rio de Janeiro (2009-11).