MOÇAMBIQUE – Aprovado uso de línguas moçambicanas nas assembleias provinciais
Pela primeira vez, as línguas moçambicanas serão usadas como instrumento de trabalho nas assembleias provinciais do país, pondo fim ao exclusivo que era reservado ao português, a língua oficial. A decisão foi tomada na terça-feira (14) pelo Conselho de Ministros.
Moçambique é um dos países onde o português tem o estatuto de língua oficial, mas é falada essencialmente como segunda língua pela maioria da população, que se comunica nas línguas locais. É “um grande avanço quando se diz que um membro da Assembleia Provincial está autorizado a usar a sua língua e que o órgão tem de criar condições de tradução e interpretação nas línguas que ele usar naquele local”, considera o docente e investigador de línguas moçambicanas Armindo Ngunga. “Se estamos a falar de democracia, não pode haver participação se as pessoas não usarem a língua que melhor dominam”, acrescenta Armindo. Ele ainda lembra que os membros da Assembleia Provincial vêm das aldeias, onde não se fala português.
Para o jornalista e linguista Ricardo Dimande a decisão é acertada e tem um “impacto bastante grande”, uma vez que são línguas que ainda usadas pela maior parte do povo moçambicano. “Sentia-se que alguns deles têm dificuldade em articular as suas mensagens e comunicações em língua portuguesa”, refere.
Ensino bilingue em 500 escolas
A maioria dos falantes do português reside nas cidades. Na capital moçambicana, Maputo, cerca de 40% da população fala português. Para o linguista Ricardo Dimande, “é importante que os cidadãos tenham a possibilidade de usar as línguas moçambicanas nas várias instituições públicas como tribunais comunitários, hospitais e esquadras”.
O setor da educação é uma das áreas que já introduziu o uso das línguas moçambicanas. O ensino bilingue está em vigor desde 2003-2004 em 23 escolas e cobre, atualmente, cerca de 500 escolas, que lecionam um total de 16 línguas envolvendo cerca de 80 mil alunos que aprendem a ler e a escrever na sua língua materna quando entram na primeira classe.
Fonte: Deutsche Welle – África