Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Universidade Brasileira alinhada à integração com os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Encontro Oralidades & Escritas em Língua Portuguesa debate o lugar da mulher na literatura africana

Data de publicação  24/04/2017, 22:26
Postagem Atualizada há 7 anos
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O Encontro Oralidades & Escritas em Língua Portuguesa, que aconteceu nos dias 19, 20 e 21 de abril, dentro da programação da XII Bienal Internacional do Livro do Ceará, da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), foi um marco na aproximação e discussão sobre autores e literaturas africanas.

Tendo como palco a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e o próprio Centro de Eventos, o encontro conseguiu reunir escritores, pesquisadores, professores e especialistas em torno, entre outros temas, da produção literária contemporânea nos países africanos de língua portuguesa, possibilitando assim uma maior aproximação com essa literatura e toda a sua cultura.

Por meio do Encontro Oralidades & Escritas em Língua Portuguesa foi possível o contato direto com autores consagrados como o angolano Ondjaki,  o guineense Tony Tcheka e a  moçambicana Paulina Chiziane, dentre outros grande nomes que fazem e pensam a literatura nesses países africanos.

O penúltimo evento do encontro ocorreu no fim de tarde da última sexta-fera (21), no feriado nacional do Dia de Tiradentes, no Centro de Eventos, em torno de um tema polêmico e que ainda tem muito para ser desbravado, “Mulheres na Literatura: territorialidade e resistência”.

Para descortinar esse tema, dois nomes de referência no assunto: a professora Moema Augel, especialista em literatura da Guiné-Bissau e a afro-brasileira, e a pesquisadora e professora, Rita Chaves (USP), nome obrigatório para todos aqueles que se interessam por literatura angolana e moçambicana. Já a mediação ficou por conta da professora da Unilab, Sueli Saraiva.

 Moema Augel apresentou de forma didática e lírica as trajetórias das poetisas Saliatu da Costa (guineense) e Lívia Natália (soteropolitana ).

Moema Augel apresentou de forma didática e lírica as trajetórias das poetisas Saliatu da Costa (guineense) e Lívia Natália (soteropolitana).

A fim de traçar um paralelo entre as literaturas feminina africana e a afro-brasielira, demarcando seus modos de resistências e territorialidades, Augel apresentou de forma didática e lírica as trajetórias criativas e biográficas de duas jovens poetisas. A guineense Saliatu da Costa, autora de obras ousadas e inquietantes como “Bendita Loucura” (2008) e “Entre a Roseira e a Pólvora, o Capim” (2011), e a soteropolitana Lívia Natália, autora da elogiada obra “Água Negra”.

Augel, entre uma leitura e outra de poemas de Saliatu e Natália, foi apontando temas comuns que estão presentes nas obras dessas duas autoras negras, como uma forte ideia de pertencimento, a poesia como ato de resistência e a presença forte da sexualidade.

Como ato de resistência, Augel lembrou, en passant, de uma poesia de Lívia Natália que foi estampada em um outdoor em Salvador, que causou polêmica e logo foi censurada. Estampava em forma de denúncia a poesia: “Maria não amava João./Apenas idolatrava seus pés escuros./Quando João morreu, assassinado pela PM,/Maria guardou todos os seus sapatos”.

Por seu turno, a professora Rita Chaves enfatizou o silêncio ou ausência da mulher na literatura de Angola e Moçambique, ressaltando que é uma conquista ainda a ser efetivada. Lembrou que em Moçambique as mulheres ocupam cargos importantes no governo e a presença feminina no parlamento é proporcionalmente maior que no parlamento brasileiro. 

A professora e pesquisadora Rita Chaves é um nome obrigatório para todos aqueles que se interessam por literatura angolana e moçambicana

A professora e pesquisadora Rita Chaves é um nome obrigatório para todos aqueles que se interessam por literatura angolana e moçambicana.

“Na sociedade tradicional africana o lugar da mulher ainda é muito complicado. É um lugar hierarquizado, ritualístico, em que a mulher até tem um papel econômico de destaque, mas onde o exercício da vontade é tolhido, principalmente no espaço rural, onde se concentra grande parte da população moçambicana”, explicou Rita.

Para Rita Chaves, a pouquíssima presença ou ausência da mulher moçambicana no ambiente da literatura se explica por esse cerceamento da vontade. “Há o que chamo de aprisionamento do imaginário feminino. E a literatura é essencialmente o exercício da liberdade, por isso ainda é bastante incipiente essa presença, pois a questão da liberdade é um desafio ainda a ser superado. Em um de seus romances, um personagem de Pepetela (pseudônimo do escritor angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) nos diz que: ‘A libertação da mulheres vai ser a luta mais difícil’. Isso depois do país ter conquistado sua independência”.

Por fim, Rita Chaves chamou a atenção também para a falta de leitura e do contato indispensável com o livro. “Hoje o fato de ser escritor, de fazer literatura, é também o exercício da leitura. Se as meninas africanas não têm acesso aos livros, às bibliotecas, fica difícil. Para elas, o livro e a literatura é ainda algo estrangeiro. Isso ajuda a explicar porque a inibição da presença da mulher no campo da literatura (em Moçambique e Angola) ainda é muito grande.

O Encontro Oralidades & Escritas em Língua Portuguesa terminou com o evento “Breve relato do papel da música e da literatura na libertação e construção da nação guineense”, com a presença do escritor Tony Tcheka e mediação do professor Ricardino Dumas Teixeira, da Unilab.

Sobre as palestrantes

Moema Augel possui graduação em Curso de Letras Neolatinas pela Universidade Federal da Bahia (1961), mestrado em Mestrado em Ciências Humanas pela Universidade Federal da Bahia (1974) e doutorado em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2005) , atuando principalmente nos seguintes temas: literatura e cultura guineenses, literatura afro-brasileira, literatura de viagem (séc. XIX). É professora aposentada, tendo lecionado Português e Cultura Brasileira nas Universidades de Bielefeld e Hamburgo, Alemanha.

Rita Chaves possui graduação em Letras pela Universidade Federal Fluminense (1978), mestrado em Letras pela Universidade Federal Fluminense (1984) e doutorado em Letras (Letras Clássicas) pela Universidade de São Paulo (1993), com dois estágios de Pós-doutorado na Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Outras Literaturas Vernáculas. Atua principalmente nos seguintes temas: Literatura Angolana, Literatura Moçambicana, África, Angola, Literatura e Antropologia. (Texto informado pela autora.)

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