Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
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Semana do Alimento Orgânico na Unilab discute uso indiscriminado de agrotóxicos e as alternativas da produção orgânica

Data de publicação  02/06/2017, 11:45
Postagem Atualizada há 7 anos
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Da esquerda para a direita: Nildo da Silva, Hermínio Lima, Anastácio de Queiroz e Lucas Nunes.

Da esquerda para a direita: Nildo da Silva, Hermínio Lima, Anastácio de Queiroz e Lucas Nunes.

É possível uma produção de alimento orgânico em grande escala, permitindo assim o acesso desse bem a uma fatia maior da população? Por que o valor do alimento orgânico ao consumidor é ainda elevado? Quais os danos do uso de agrotóxicos e de alimentos transgênicos para a saúde dos trabalhadores da agricultura e dos consumidores?

Essas e outras questões que influenciam diretamente o cotidiano de milhões de brasileiros fizeram parte das palestras e debates ocorridos na manhã desta quinta-feira (1º de junho) no auditório do Campus das Auroras, Redenção/CE, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), onde se deu um dos eventos da Semana do Alimento Orgânico.

Intermediada pelo Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR), a programação na Unilab da Semana do Alimento Orgânico contou na mesa de abertura com as presenças do reitor pro tempore da Unilab, Anastácio de Queiroz, o diretor do instituto de Desenvolvimento Rural, Professor Nildo da Silva, o coordenador do curso de Agronomia, professor Lucas Nunes e Hermínio Lima, o cooperador da comissão da produção orgânica do Estado do Cesar.

Logo após a solenidade de abertura, teve início uma palestra com o médico hematologista, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ronald Pinheiro. Ele apresentou uma pesquisa sobre “Modificações genéticas indutoras de câncer, provocadas por exposição a agrotóxicos”. Dados preocupantes foram destacados. Há quase dez anos, o Brasil é o campeão mundial no consumo de agrotóxicos, o que implica que 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados.

Os primeiros a serem afetados pelo uso indiscriminado de agrotóxicos são os próprios trabalhadores da agricultura que, expostos diretamente, apresentaram uma genética propensa ao desenvolvimento do câncer. Segundo Roland Pinheiro, a falta de cuidado no manuseio do agrotóxico toda essa realidade ainda mais suscetível e danosa. O pesquisador revelou que 84% dos agricultores usam esporadicamente proteção adequada, 6% não usam nenhuma proteção e apenas 10% usam proteção completa. Ou seja, 90% dos trabalhadores da agricultura brasileira estão desprotegidos na hora de manipular os agrotóxicos.

Para Ronald Pinheiro, a exposição dessa realidade não implica numa demonização do agronegócio nem na louvação da agricultura orgânica. “Não estou aqui para falar mal do agronegócio nem falar bem da agroecologia. Na posição de pesquisador, cientista, meu papel é pesquisar e mostrar, por meio de dados científicos, como essa realidade se apresenta hoje”.

Para Anastácio Queiroz, essa é, sem dúvida, uma realidade preocupante. “Os dados e os casos apresentados pelo professor Ronald Pinheiro são extremamente graves e preocupantes, que mostram vários desafios para o cenário local e mundial e que força o Estado, o setor público, a tomar medidas urgentes”, destacou o reitor pro tempore.

A palestra seguinte apresentou os “15 anos de pioneirismo na Agricultura Orgânica – o caso da Associação dos Produtores Orgânicos da Ibiapaba (APOI)”, com Hermínio Lima, da Comissão da Produção Orgânica do Estado do Ceará (CPOrg-CE).

Em seguida, houve debates com a participação massiva de todos os presentes: pesquisadores, professores, estudantes da Unilab e da Fanor, que lotaram o auditório do Campus da Auroras.

Sobre os palestrantes

Ronald Pinheiro é pesquisador nível 2 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológicos (CNPq). Professor Adjunto do Departamento de Medicina Clínica da UFC. Coordenador do Laboratório de Citogenômica do Câncer. Pós-doutor pela Columbia University (Nova York/2015) Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM). Médico com residência médicaem Clínica Médica e Hematologia na Unifesp/EPM.

Hermínio Lima é Diretor de Extensão Tecnológica e Inovação do Instituto Centro de Ensino Tecnológico.

Hermínio Lima é diretor de Extensão Tecnológica e Inovação do Instituto Centro de Ensino Tecnológico.

Hermínio Lima possui graduação em Engenharia Agronômica pela UFC (1988) e mestrado em Tropentechonologie pela Fachhochschule Köln(1996). Atualmente é Diretor de Extensão Tecnológica e Inovação do Instituto Centro de Ensino Tecnológico. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitotecnia. Atuando principalmente nos seguintes temas: plantas medicinais, agricultura biodinâmica.

Semana do Alimento Orgânico

A Semana do Alimento Orgânico, que acontece de 29 de maio a 3 de junho, traz programação bem diversificada, com ações no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Mercado dos Pinhões, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), supermercados de Fortaleza e municípios de Ipu, São Benedito e Guaraciaba do Norte. Os mais diversos assuntos serão discutidos, com ênfase na formação profissional, ensino, pesquisa, assistência técnica, organização de produtores, fomento, produção, comércio e consumo. Confira a programação completa aqui.

O evento, de caráter nacional, visa popularizar os alimentos orgânicos, tornando-os mais conhecidos para os consumidores, principal alvo da campanha. O objetivo, portanto, é fomentar a agricultura orgânica e tornar esta atividade cada vez maior, por meio de ações que buscam esclarecer o que é, como se desenvolve e quais as vantagens de se produzir e de se consumir produtos com essas características.

A procura por alimentos mais saudáveis tem impulsionado esta atividade no Brasil e no Mundo. Segundo a consultoria Organics Brasil, especializada na avaliação do mercado brasileiro, o consumo de produtos orgânicos cresce, em média, 20% ao ano, considerando-se o período de 2010 a 2015. Em 2015, o mercado nacional somou 2,5 bilhões de reais, com crescimento de 25% frente a 2014; para 2016, a expectativa é de que o número cresça 30%, ultrapassando os 3 bilhões de reais.

Deve-se ressalvar que, além da questão da ausência de agrotóxicos nos produtos finais, o conceito legal abrange questões sociais, culturais e ambientais, entre outras, tão importantes quanto as que se referem exclusivamente ao alimento pronto para consumo. Nessa medida, percebe-se a abrangência deste setor, que deve ser enxergado de forma sistêmica, tendo suporte nas diversas vertentes da seara agrícola, que começam antes da produção e se estendem além da porteira das unidades produtivas.

O desafio de tornar a agricultura orgânica brasileira algo que suplante o “nicho de mercado” perpassa todos os níveis de organização desta cadeia. A formação profissional está na base da mudança. Experiências inovadoras estão em curso, no intuito de dar uma visão ampliada ao limitado espectro da agricultura convencional. As crescentes oportunidades de capacitação prenunciam uma nova era nas ações que ocorrem no campo.(Com informações da CPOrg-CE).

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