Unilab completa nesta terça-feira (20) 11 anos de história, marcada por conquistas, desafios e celebrações
A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) – instituída pela Lei 12.289, de 20 de julho de 2010 – completa 11 anos nesta terça-feira (20). Um marco alcançado em plena pandemia, que traz novos desafios para a Universidade, cuja missão envolve a formação de recursos humanos para o Brasil e países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a promoção do desenvolvimento regional e, ainda, o intercâmbio cultural, científico, educacional, dentre outras atribuições. E nesse contexto, para docentes, estudantes e servidores técnico-administrativos, a Unilab representa um espaço de desenvolvimento pessoal, acadêmico e profissional, além de conquistas, desafios e também de celebrações.
Marcos e marcas da vida estudantil na Unilab
Um marco celebrado pela estudante de Pedagogia da Unilab Francisca Tainara Eugenio da Silva foi seu ingresso na Universidade, em 2017, pelo primeiro edital de seleção voltado para quilombolas e indígenas. A discente pertence ao Quilombo Sítio Veiga, localizado em Quixadá (CE). “Foi uma grande política esse edital para quilombolas e indígenas dentro da Unilab, que é uma universidade da integração. Que integração é essa se não tiver os povos quilombolas, indígenas, ciganos, de terreiros e tantos outros povos dessa nação? Estou muito feliz em estar na Unilab, não só porque estou no curso que é afrorreferenciado e é uma referência nacional, mas também pelas experiências, trocas com as culturas e pelo convívio com pessoas de outros países”, afirma a estudante.
Ela conta que sair do seu território e do acolhimento familiar para seguir sua trajetória acadêmica e profissional foi um desafio. E também aponta as dificuldades que enfrentou durante um ensino fundamental descontextualizado da sua realidade. Na Unilab, a estudante Francisca Tainara relata que busca minimizar os efeitos dessa educação, que a inibia e deixou cicatrizes. “A partir da Unilab começo a estar no centro da narrativa, começo a escrever para mim, sobre o meu povo, trazer essas vozes, mulheres da minha linhagem, esse território sagrado que há tanto tempo foi invisibilizado, as nossas histórias, que foram contadas por terceiros, e eu começo a contar a partir de mim”, salienta. Outro marco celebrado na Unilab pela estudante foi a participação, na Semana Universitária, de Joaquim Roseno, mestre da cultura que mantém viva a tradição afro-brasileira da dança de São Gonçalo – manifestação cultural importante para a construção da identidade da comunidade quilombola da estudante. “Foi muito importante participar da Semana Universitária, fortalecer os vínculos entre universidade, comunidade e universitários”, destaca.
Atualmente, a discente também atua na Unilab com pesquisas sobre educação quilombola, práticas educativas dentro do território Sítio Veiga e problematizações de uma educação descontextualizada sofrida pelos estudantes quilombolas. Na sua trajetória acadêmica, também participa do Programa de Residência Pedagógica e atuou no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), participando de atividades de pesquisa e docência em escolas públicas. “Fizemos muitas atividades, desde contação de história, teatro, dinâmicas e atividades para fortalecer a cultura afro-brasileira e africana nesse espaço”, conta.
Brasil – Angola
O estudante internacional José Fernando de Matos, do curso de Relações Internacionais no campus dos Malês (BA), também celebra seu ingresso na Unilab, diante das dificuldades para entrar em uma universidade pública em Angola, sobretudo para jovens que vêm do interior, como é o seu caso, que pertence à província de Malanje. “A Unilab vem como uma grande oportunidade de iniciar uma carreira acadêmica e profissional. Por isso estamos agradecidos à Unilab, que abriu meus horizontes e, hoje, consegui ingressar no mestrado por conta da Unilab”, relata o estudante, aprovado nos mestrados da UFBA e também da UFABC, onde já está inserido na pós-graduação em Economia política mundial.
A partir dessa oportunidade que teve na Unilab, o estudante angolano busca dividir essa experiência com a comunidade da região de São Francisco do Conde (BA) e países da CPLP, públicos-alvos de uma tv autônoma, a MCTV, feita por ele em parceria com os colegas da Unilab. Trata-se de um projeto voluntário, no qual os discentes divulgam atividades acadêmicas, culturais e esportivas da Unilab. “Fazemos divulgação de como funciona a Unilab para que as pessoas possam conhecer que existe uma universidade da integração em que elas podem fazer parte”, explica. A imagem da Unilab que ele transmite – e que também captou ao longo de sua graduação – traz como símbolos a união e também as lutas. “Faço um resumo desses 11 anos vendo a Unilab como uma luta de resistência de todos aqueles que fazem parte dessa comunidade unilabiana, que todos os dias lutam para manter essa universidade viva. A Unilab é uma luta de resistência de todos e todas que estão engajados nesse projeto, que é único, em que você encontra diversas culturas, diversos povos e vários tipos de aprendizagem, com uma grade curricular que permite aprender sobre a África”, destaca José Fernando.
E foi a partir da sua vinda ao Brasil, mais precisamente a São Francisco do Conde (BA), que o estudante conta que passa a conhecer melhor o continente africano e seu país de origem. “Acho que gente acaba por conhecer melhor nosso país estando fora, na Unilab. Porque você estando lá não consegue enxergar o óbvio. Estando cá na Unilab, você acaba tendo um novo olhar, crítico, da realidade das coisas, a gente vê que aquilo que achava que era certo, não é, e o que pode funcionar melhor”, aponta. Na Unilab, José Fernando se aprofundou nas próprias origens em projetos de extensão como o “Cine Brasil-África: identidade e questões sociopolíticas”, do qual é bolsista, e em pesquisas como um estudo sobre o “Processo de desenvolvimento em Angola – causas e consequências, no período pós-guerra civil (2002 -2018)”.
TAE e estudante
A técnica-administrativa em Educação Fernanda Leorne Sampaio também tem histórias de desafios e celebrações nesses 11 anos de história na Unilab. A servidora ingressou como técnica em enfermagem em 2014 e atualmente integra a equipe da Coordenação de Assistência à Saúde do Estudante (Coase). Ela conta que entrar na Unilab foi a realização de um sonho, de trabalhar em um ambiente de convivência com culturas diversas e, ainda, de integração entre brasileiros, internacionais, além de indígenas e quilombolas. “A minha felicidade foi ainda maior quando fui aprovada para o curso de Administração Pública da Unilab. Sim, sou servidora e estudante da Unilab e isso me traz grande orgulho. Fazer a minha graduação era um sonho muito antigo, que só foi possível graças a este projeto. Aqui eu trabalho e estudo. A minha vida está aqui”, conta Fernanda Sampaio.
Assim como ela, a servidora lembra que muitas pessoas só conseguiram alcançar o sonho de fazer uma graduação graças ao projeto da Unilab que, além de atuar no projeto de internacionalização, atua com a proposta de interiorização do ensino superior. “Sem dúvida que a Unilab trouxe e ainda vai trazer muito desenvolvimento para o Maciço de Baturité (CE) e não falo apenas da economia, mas principalmente do desenvolvimento de recursos humanos pra toda região”, opina.
Nesse ciclo de 11 anos de existência da Universidade, Fernanda enumera que celebra a Unilab pela possibilidade de seu sustento, de sua formação universitária e por ter proporcionado a ela uma nova vida. “Esse ano eu me formo, a sensação que essa frase me traz é de realização. Devo isso a este projeto grandioso chamado Unilab. Eu desejo que neste novo ciclo esse projeto cresça ainda mais, desejo que muitas outras pessoas realizem seu sonho de ter um ensino superior, de ter melhores chances de entrar pro mercado de trabalho, de trazer um pouco mais de conforto e estabilidade financeira para os seus”, afirma.
Ciclo 2020/2021 – desafios e avanços
O novo ciclo de mais um ano de existência da Unilab inicia em plena pandemia. Apesar dos desafios que este momento impõe, a Universidade pode celebrar alguns avanços e resultados. O relatório de gestão 2020/2021 aponta alguns dos marcos da Universidade nesse período, a exemplo da colação de grau no período letivo excepcional, no qual concluíram 62 discentes de forma antecipada e 79 estudantes na colação regular. Na área da pesquisa, a Unilab somou 1.263 projetos, dos quais 1.051 foram concluídos e 212 estão em andamento, contabilizando-se 110 grupos de pesquisa.
Na área da Extensão, mesmo com a pandemia, em 2020 foram 122 ações de Extensão, Arte e Cultura executadas. E, na área de infraestrutura, de ensino e pesquisa, também foram construídos e instalados os laboratórios de Genética Molecular, Fitopatologia, mais de 95% de conclusão das residências universitárias, além de terem sido entregues mais de 2.553 chips e 1.318 tablets para estudantes. Nesse período, outro marco apontado pelo relatório de gestão foi o fortalecimento na proteção dos direitos humanos com a institucionalização da Coordenação de Direitos Humanos.
Para o reitor da Unilab, Roque Albuquerque, outro fato marcante na Universidade foi a revisão do estatuto da Unilab e sua submissão ao Ministério da Educação (MEC), para sua publicação. “Essa concessão do RG da Universidade foi uma conquista gigante, no dia 29 de dezembro de 2020. Segundo ponto e de muita importância para Unilab é de que havia um clamor muito grande por eleições no contexto democrático, respeitando a autonomia da Universidade. E tivemos sucesso em convocar as eleições. Esses dois fatos são muito marcantes”, aponta Roque de Albuquerque, eleito para a reitoria após uma gestão como pro tempore. Para ele, essa transição, que culminou na eleição, mostrou a necessidade de “uma gestão descentralizada, de diálogo e que tenha um compromisso com a instituição”, sublinha.
O reitor também destaca que este momento é de desafio e de reinvenção da Unilab, sobretudo no momento de contingenciamento orçamentário. “Nós estamos trabalhando para fazer uma série de ações, descentralizando recursos. Já conseguimos êxito em pelo menos 6,7 milhões, recursos descentralizados que podem ser executados mediante editais de ampla concorrência. Hoje temos uma possível ampliação e término de obras inacabadas, criação de novos cursos. Desafios estão aí por ser completados. Nós conseguimos sobreviver até aqui, claramente lamentando todas as perdas, mas celebrando mais um ano diante dos novos desafios”, afirma. Um deles, aponta Albuquerque, é a possibilidade de um ensino com modelo híbrido, diante do contexto pandêmico atual.
Internacionalização e ensino
Outros avanços que podem ser celebrados na Unilab é na área de internacionalização. A pró-reitora de Relações Institucionais e Internacionais, Artemisa Candé Monteiro, lembra da importância de reconhecer que a internacionalização da Unilab, caminhando concomitantemente com a integração e interiorização, não irá lograr sucesso se não houver a solidificação do que está previsto na lei de criação e as diretrizes gerais da Unilab. Na atual gestão, ela relata que, antes de tomadas de decisões sobre o desenho de políticas e diretrizes de internacionalização, foi feito um diagnóstico sobre o potencial internacional da universidade, pensando no capital epistêmico, na singularidade pedagógica e multicultural da Universidade. “Sabíamos, a partir da nossa experiência como docentes e técnicos administrativos, que podíamos fazer mais e melhor para tornar a Unilab uma grande referência de Universidade internacional, intercultural, decolonial, pós-colonial, antirracista e afrocentrada para toda CPLP e, quiçá, o mundo inteiro”, opina Monteiro.
Ela relata, ainda, que foram organizados três grupos de trabalho nas seguintes áreas: antirracismo; diretrizes da internacionalização; e políticas de acolhimento e acompanhamento dos estudantes internacionais. Esses GTs produziram normativos e políticas para a internacionalização da Unilab, e alguns desses produtos hoje são instrumentos utilizados para nortear as relações com os pares, servidores públicos e com os estudantes. Também foram renovados protocolos de intenções e acordos expirados e, atualmente, estão sendo construídos planos de trabalho, conjuntamente, entre a Unilab e os países parceiros.
“Voltamos a dar o feedback aos países parceiros e as representações diplomáticas e consulares brasileiras sobre os estudantes formados e em formação. Reativamos canais de comunicação contínua com os países parceiros, a fim de atualizar e discutir as necessidades atuais da Unilab e destes. Uma coisa é o que foi a Unilab ontem, hoje, completamos 11 anos. Não se pode mais falar da Unilab como um projeto. A Unilab deu certo, temos que criar condições para que continuemos a ser relevante na CPLP e no mundo inteiro”, afirma a pró-reitora. Ela também aponta que, pela primeira vez na história da Unilab, instituições de fomento de bolsas de estudo, nos países parceiros, oferecem bolsas para os estudantes internacionais. “O Instituto de Bolsas de Moçambique (IBE) foi a primeira instituição de fomento de bolsas de estudo a responder o nosso apelo. Brevemente, anunciaremos outras parcerias de bolsas de estudos a partir de instituições de fomento de bolsas de estudo nos países parceiros”, salienta Artemisa Candé Monteiro.
Ainda segundo ela, no período de 2020-2021, foram fechados 12 novos acordos internacionais de grande importância para a Unilab e os países parceiros. “Neste momento estamos desenvolvendo mecanismos internos para informar e incitar os institutos a indicarem áreas prioritárias e interesses de pesquisa internacional. Existe uma demanda enorme, dos países africanos de língua oficial portuguesa, em pesquisa, extensão e formação de professores e técnicos administrativos em áreas diversas”, explica a pró-reitora.
Desafios para os próximos anos
No campo da internacionalização, também existem desafios na área da cultura e pedagógica, segundo aponta a professora Artemisa Candé Monteiro. Ela lembra que a Unilab é produto da luta de movimentos sociais, com destaque para o movimento negro, e também de uma política de Estado brasileiro, construída a partir de ideias calcadas e ideários de justiça restaurativa. “Foi construída pensando em reparação histórica com os povos africanos, tanto o continental como o diaspórico. A Unilab é negra, indígena, quilombola e abraça todas as bandeiras e causas sociais que preconizam emancipação de grupos historicamente excluídos e invisibilizados. Infelizmente, o Brasil é um país racista. Publicamente se recusa a importância do DNA de negros e negras africanos escravizados que tornaram o Brasil uma nação plural, multiétnica e culturalmente rica. Qualquer leitura que se faça da Unilab é recomendável que não a tratemos como uma ilha isolada”, destaca.
Nesse sentido, ela sublinha a importância de pensar a Universidade além dos muros acadêmicos, o que implica, de algum modo, criar condições para que as comunidades nas adjacências dos campi conheçam a Unilab, enxerguem o seu potencial pedagógico, intercultural e internacional. “Precisamos construir a Unilab como uma plataforma universitária que se paute por um diálogo intercultural simétrico entre os diferentes países da CPLP, principalmente entre o Brasil e os países africanos desta comunidade”, aponta Monteiro. Do ponto de vista pedagógico, ela também acredita que há uma necessidade de harmonizar os currículos de ensino com os dos países parceiros. “Precisamos tornar efetiva a política de dupla diplomação com os países parceiros ou uma política de diplomação única Unilab e os países da CPLP. Precisamos aprofundar estudos sobre os currículos do ensino fundamental e médio dos países parceiros”, opina.
Nesse novo ciclo da Universidade, a diretora do campus dos Malês Mirian Reis também destaca os desafios da Unilab, cuja história possui uma trajetória de superações e lutas. “Há onze anos a Unilab vem promovendo ensino superior gratuito e de excelência. É uma jovem universidade, marcada por imensos desafios para a sua consolidação, mas que insiste em superar as dificuldades em nome daquilo que já se tornou sua identidade: uma universidade comprometida com a reparação de injustiças sociais, com o combate ao racismo, ao sexismo, à intolerância religiosa e à xenofobia”, afirma a diretora.
Ela destaca, ainda, que a “Unilab vem promovendo novas travessias atlânticas, dos PALOP para o Ceará e a Bahia, e em seus 11 anos, aprende-ensina novas narrativas sobre quem somos e sobre como, juntes, sob o princípio da solidariedade entre os povos, exerceremos novas rotas de educação e cidadania. Vida longa à Unilab!”, afirma. Reis também aponta, em tom poético, para as possibilidades da Universidade, diante dos desafios. “Em nossa trajetória, encontramos pedras no caminho, é verdade, mas aprendemos a lição da mestra Conceição Evaristo, quando poeticamente nos ensina que ‘lá do fundo da memória / pedra, pau, espinho e grade / são da vida desafio / E se cai, nunca se perdem / os seus sonhos esparramados / adubam a vida, multiplicam / são motivos de viagem’ ”, coloca a diretora.
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