Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Universidade Brasileira alinhada à integração com os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Novos reitores da Unilab, eleitos democraticamente, falam sobre planejamentos e estratégias para o quadriênio 2021-2025

Data de publicação  04/08/2021, 15:05
Postagem Atualizada há 3 anos
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A primeira Reitoria eleita na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) toma posse nesta quinta-feira (5), às 15h30, no campus das Auroras (CE), para assumir no quadriênio 2021-2025. Em dez anos de existência da Unilab, a primeira eleição para a reitoria aconteceu em março deste ano, após revisão e publicação do Estatuto da Universidade no Diário Oficial da União, o que ocorreu no dia 30 de dezembro de 2020. Roque Albuquerque foi o último reitor pro tempore, antes de ser eleito em consulta e ter seu nome aprovado pelo Ministério da Educação (MEC), após envio da lista tríplice.

Em entrevista, o reitor Roque Albuquerque e a vice-reitora Cláudia Carioca falaram sobre os planejamentos e estratégias dessa nova Reitoria eleita e sobre o novo momento, no qual a Unilab deixa de ter uma gestão pro tempore, após consulta paritária à comunidade formada por docentes, discentes e técnico-administrativos.

A Unilab passou por um período de dez anos de gestões pro tempore. E 2020 foi um ano marcante para avançar nesse ponto, tanto através da revisão e da aprovação do estatuto, como por meio da primeira eleição para a Reitoria. Como você avalia essa nova fase da universidade e quais são as estratégias desta nova reitoria para uma gestão democrática dentro da instituição?

Roque Albuquerque – Minha resposta tem relação diretamente com as razões da Unilab demorar 10 anos para ter seus estatutos revisados e aprovados. Eram totalmente questões políticas e uma falta de vontade de quem assumia a cadeira de reitor. No meu caso, em particular, eu entendo que existe a democracia e existem as narrativas democráticas. A democracia real é aquela na qual o gestor, o líder não tem medo do crivo da comunidade pela qual ele foi chamado a servir.

E se a comunidade assim desejava e queria o estatuto aprovado, então era importante que fosse aprovado e publicado. Muitas revisões foram feitas e às vezes as pessoas destacam que ‘fulano’ fez revisão, ‘beltrano’ fez revisão, poderia-se fazer cem revisões, mas essas revisões sem a publicação não interessavam à comunidade. Então, quero destacar isso: muitas revisões foram feitas, mas sem a publicação elas são nulas, sem efeito. Conseguimos entender o anseio da comunidade e demos esse primeiro passo, que foi a aprovação do estatuto, portanto, entregando à universidade o nosso RG.

Quanto à eleição, eu realmente não tinha nenhuma intenção nem de permanecer por muito tempo no cargo, nem mesmo de concorrer na eleição. Tanto é que procurei dar celeridade, assim que o estatuto foi aprovado, para fazer a primeira convocação e deixar que a comunidade legitime os seus candidatos, escolham aqueles que fariam parte da lista tríplice. E para nós, no Consuni, com 98% de aprovação e, dentro da comunidade, em geral, com 68%, ganhando em todos os âmbitos, de todas as formas aritméticas possíveis, temos, então, uma imensa satisfação. Primeiramente quero destacar que a Unilab elegeu, para ser reitor, um cigano da etnia calon, de língua chibi, e é o primeiro cigano reitor eleito de uma universidade pública na história do País. E, sinceramente, eu ainda senti que nós precisávamos celebrar mais, porque isso mostra que a Unilab é multidiversa, tem, na sua redundância, multiplicidades e diversidades de todas as formas. E ninguém mais do que um cigano, o primeiro reitor [cigano] de uma universidade pública, que chega aqui pra fazer essa transição e sair de pro tempore para alguém reconhecido pela comunidade. Não é uma conquista do professor Roque, é uma conquista de todos os ciganos do Brasil e de todas as etnias – calon, romi, romani, sinti. Nós deixamos de ser invisíveis e conseguimos visibilidade.

Sobre as estratégias de gestão, é muito fácil fazer gestão quando você tem dinheiro sobrando. É um grande desafio fazer gestão quando você tem recursos esparsos. Mas estamos trabalhando como nós planejamos, dentro daquilo que falamos na nossa campanha. Primeiramente, é necessária uma articulação externa, política, muito madura, que reflete em todos os municípios do Maciço do Baturité. Hoje, a Unilab tem entrada, saída, recepção, boas-vindas em todos os municípios do Maciço, além de Guaiúba, Canindé, Maranguape e Maracanaú. Esse é o ponto 1 que nós já conseguimos estabelecer e ter condições de fazer um trânsito entre diversos partidos que têm interesse realmente na educação do nosso povo, dos nossos cidadãos.

E dentro, internamente, estamos hoje decididos que precisamos, dentro da Secretaria de Governança, Integridade e Transparência, trabalhar de forma a criar uma carta de serviços da Universidade inteira, e a gestão superior, com os gestores dos institutos, os diretores, precisamos ter reuniões mais constantes, pra que a gente pense a universidade e os institutos de forma a crescermos uniformemente, combinada, com interesses mútuos. E não com interesses individuais e individualizantes, considerando toda a nossa comunidade diversa como ela é. Nós estamos trabalhando, criamos uma assessoria de projetos e captação de recursos pra fazermos o caminho inverso das universidades que estão realmente tendo cortes, mas não estão se mobilizando na captação. Nós vamos caminhando com captação de recursos no Ministério da Cidadania, no Ministério da [Ciência], Tecnologia e Inovações, no Ministério da Educação através do FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação], [nos Ministérios] da Agricultura, da Saúde. E nós estamos fazendo de forma democrática, na qual as OSCs, as Organizações da Sociedade Civil, democratizada, vão nos ajudar na execução.

E nós estamos priorizando nossos estudantes. Essa é uma gestão claramente que prioriza nossos estudantes, porque não é fácil pra nós mantermos os auxílios e ampliarmos os auxílios como está acontecendo, diante das circunstâncias atuais, tirando do custeio. Mas isso mostra que não é discurso, não é uma narrativa política que ficou só na parte da eleição, não, é um compromisso dessa gestão e continuaremos no diálogo constante, aberto. É um reitorado aberto, é um reitorado do corredor, é um reitorado do pátio, será um reitorado do RU, será um reitorado do dia-a-dia, nas ruas, será um reitorado da mobilidade, um reitorado que realmente não se tranca como se [estivesse] num casulo, e tem, dentro das relações pessoais, uma força que eu creio que é um diferencial da nossa gestão.

Você pode apontar quais são os pontos principais a serem trabalhados por essa nova gestão? Quais são as ações, metas e programas prioritários nesse mandato que se inicia em 2021 e vai até 2025?

Roque Albuquerque– Para o quadriênio 2021-2025, mesmo com todas as limitações, precisamos retomar a urbanização da Unilab. São 11 anos de universidade e ainda não temos um único campus da universidade urbanizado, sendo que nós tínhamos recursos. Então, nós precisamos nos unir, é necessário que a comunidade entenda que aquilo que nós temos em comum é a nossa mola propulsora de lutarmos juntos. E as nossas diferenças são válidas porque elas mostram que a Unilab é exatamente isso, uma diversidade, uma multiculturalidade. E eu conclamo a comunidade de discentes, docentes e técnicos a acharmos o que temos de comum. Não é o bem da nossa universidade? Não é o bem da educação? Não é a transformação de vidas? Eu convoco, então, para a gente juntar forças pra isso, pra você procurar o seu político, o seu deputado, o seu senador, o seu governador, procurar todas as suas alianças, isso é importante, e dizer “ajuda aquela universidade”, para que a gente termine os anexos que estão lá inacabados nos Malês, para que a gente termine a urbanização nos Malês, termine aqui todas as urbanizações – gabinetes dos professores… Como vamos fazer isso? Nesse quadriênio estamos montando isso.

Primeiramente, nós teremos agora um desafio de criar uma carta de serviços na qual a [Secretaria de] Governança, Integridade e Transparência não somente estará presa ao gabinete do reitor. Os institutos, os diretores, a agenda pública dos diretores, que são muito ocupados… às vezes é necessário que a gente também tenha acesso à agenda pública dos diretores, pra saber o que estão fazendo, pra que a gente não interrompa, pra que a gente fortaleça. Esses diretores terão reuniões mensais conosco da gestão. [A cada] Um mês ou dois, ainda vamos combinar com eles. E a gente então estabelece um diálogo que perpassa [de forma] perpendicular, paralela, horizontal, perpassa toda a comunidade a forma de diálogo. E daí a gente vai tratando por etapas, porque nós não temos condições de resolver tudo, mas podemos somar forças e pensar o seguinte: quais são os desequilíbrios, unbalances que temos dentro da universidade, pra gente ir passo a passo?

Com a criação das cartas de serviços pra cada unidade, será possível uma pessoa nova chegar e olhar o que essa unidade faz e ter a carta de serviços pronta pra fazer um checklist, passo a passo e, rapidamente, em poucas semanas ter condições de estar fazendo um trabalho eficaz, quantificando, ajudando todos nós. Precisamos de inovação, e eu creio que o maior desafio da Unilab em quatro anos é entendermos que não podemos fazer ciência pela ciência. Nós temos que fazer ciência para o benefício prático das pessoas. Por exemplo, precisamos de patentes, precisamos de inovação, precisamos de uma ciência criativa. Por exemplo, temos um curso de Farmácia. Por que nós não temos um laboratório que vai criar uma farmácia de manipulação, que vai dar acesso a uma região que não tem nenhuma [farmácia]? No IDR [Instituto de Desenvolvimento Rural], no nosso curso de Agronomia, de Engenharia de Alimentos, ou mesmo dentro das Humanas, da Ciência da Computação, nós temos uma série de serviços sociais, debates sociais pra gente poder inserir na comunidade. E a gente, então, fazer assim: produzir a ciência não pela ciência somente, fazer ciência para ciência, mas para o povo, que impacta, que alivia, que inova, que transforma, que traz recursos, que muda vidas. E, assim, eu creio que será marcado pra nós esse quadriênio.

O ano de 2020 também foi marcado por um contexto de pandemia e contingenciamento orçamentário, no qual as universidades públicas tiveram que se reinventar. Como você avalia esses desafios, no contexto do ensino superior, e quais as perspectivas e propostas para a Unilab se reinventar diante desse cenário?

Roque Albuquerque – As pesquisas já mostram sobre o impacto da pandemia, que a desmobilização das escolas trouxe pra nós um prejuízo que levará dez anos pra gente recuperar. Porque todos nós sabemos que aula remota não é, não será jamais a mesma coisa. E a pandemia nos pegou de surpresa e nós realmente precisamos entender o risco que ela envolve. Foi muito triste, lamentável, e o prejuízo está aí já quantificado em estatísticas, pra todas as séries.

Fomos muito afetados como seres humanos. Nós ansiamos retornar presencial o quanto antes, assim que essa questão sanitária nos dar, nos conceder a segurança para isso. A pandemia mudou todos os nossos hábitos, algumas coisas foram positivas. Descobrimos que nós temos condição de maximizar as distâncias. Isso jamais pode ser uma desculpa pra não nos entender, dialogar e fundir horizontes. Porém, realmente uma universidade desmobilizada, sem o dia-a-dia, sem um acompanhamento pessoal, é bem óbvio que tem um impacto grandioso. E nós precisamos superar isso, precisamos que a comunidade realmente, com todo esforço, dentro dos protocolos de segurança, dentro daquilo que podemos fazer, com todo cuidado, possa planejar aos poucos, com cautela, aguardando os pareceres dos cientistas, pra gente poder retornar e certamente voltar a corrigir as perdas que nós tivemos.

Entrevista com a vice-reitora da Unilab, Cláudia Carioca

Na área de assistência estudantil, mesmo com o corte de verbas orçamentárias sofrido nos últimos anos, inclusive durante a pandemia, a Unilab manteve os auxílios e aumentou o valor total destinado a esse setor. Como essa nova gestão avalia a importância da assistência estudantil e quais as propostas para seguir priorizando essa área?

Cláudia Carioca – Os alunos são a razão de existir da universidade e a Unilab possui a maioria de seus alunos em situação de vulnerabilidade social, assim, não podemos mensurar a importância da assistência estudantil para a permanência desses estudantes. Por isso, esta gestão não mede esforços para continuar atendendo de forma prioritária os discentes unilabianos com um planejamento de ações relacionadas à contrapartida dos países parceiros para auxílios e à captação de recursos externos para bolsas.

Você tem frisado que essa nova gestão da reitoria irá pautar suas ações tendo em vista os fatores da internacionalização, integração e interiorização. Como trabalhar esses aspectos na Unilab, retomando essas diretrizes que regem a criação da Universidade?

Cláudia Carioca – Primeiro com o estabelecimento de políticas institucionais que estabelecem as diretrizes para a internacionalização, integração e interiorização da Unilab. E segundo com o planejamento de ações que promovem a criação de planos de trabalho com parcerias institucionais ou captação de recursos para cada fator de forma unilateral, bilateral ou trilateral.

Você também pontuou que as ações dessa nova gestão serão pautadas por alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como a educação de qualidade, diminuição das desigualdades e a igualdade de gênero. Sobre esse último ponto, como representante feminina nessa reitoria, quais as ações podem ser colocadas em prática para que a igualdade de gênero seja, de fato, efetiva na Unilab?

Cláudia Carioca– De acordo com a Coalizão Estratégia ODS, “as metas estabelecidas no ODS 5 resumem as principais lacunas na violação de seus direitos e são um importante fator para a formulação de políticas públicas de gênero. Além de contribuir com o fortalecimento de marcos legais que deem respostas efetivas para o alcance da igualdade de gênero e de mais direitos para meninas e mulheres.” E é exatamente assim que esta gestão tem trabalhado com foco na maior participação feminina em ações envolvendo não só o ensino, a pesquisa e a extensão, mas também a gestão, haja vista que, pela primeira vez, temos 5 pró-reitorias sendo comandadas por mulheres e 2 delas por mulheres africanas, além de estarmos traçando planos para um efetivo acolhimento feminino diferenciado.

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