Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Universidade Brasileira alinhada à integração com os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Projeto “Ciranda de Saberes Artísticos e Culturais da Lusofonia” comprova a força da música em seus territórios

Realizado pelos estudantes da Unilab, esta ação tem como objetivo promover a diversidade artística e cultural por meio da participação de grupos e artistas afro-cearense, periféricos e luso-africanos.

Data de publicação  04/04/2023, 17:04
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Músicos que participaram do segundo encontro da Ciranda de Saberes Artísticos e Culturais da Lusofonia. Imagem: Taje Mendes.

O projeto “Ciranda de Saberes Artísticos e Culturais da Lusofonia”, que foi contemplado no Edital “Ceará da Cidadania e Diversidade Cultural – Territórios Artísticos e Criativos de Periferias do Ceará – da Secretaria de Cultura do Estado – e conta com o apoio da Pró-reitoria de Extensão, Arte e Cultura (Proex), realizou na última sexta-feira (31/03), na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), a sua segunda edição, tendo como eixo temático a Música.

Este projeto, realizado pelos estudantes da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), tem como objetivo promover a diversidade artística e cultural por meio da participação de grupos e artistas afro-cearense, periféricos e luso-africanos, possibilitando o intercâmbio cultural entre Brasil e os países da África lusófona.

Nesse sentido, o tema da música, em suas múltiplas musicalidades e seus territórios, mostrou-se como uma ferramenta potente de existência e resistência e serviu para evidenciar seu poder de mobilização e engajamento, além, é claro, de ser um meio capaz de proporcionar visibilidade aos artistas, valorizando suas produções a partir de suas realidades, contextos e sentimentos.

Esse encontro, que começou com um debate afinado sobre as possibilidades e potencialidades da música, contou com a participação da Banda da Associação de Estudantes Guineenses da Unilab, composta por Muniz Irineu, Jéssica Moisés, Abú Armando e Augusta M’beia; do grupo de percussão do Instituto Katiana Pena, sediado no Bom Jardim, sob a liderança do artista percussionista Felipe Trapiá; a dupla formada pelos músicos Sebastião Sacului e Ageu Soma e o happer Two-Cent Music (Bonifácio Arlindo), tendo ainda a mediação de Jandira Miguel Dala, estudante angolana do curso de Letras/Unilab e pesquisadora das Artes.

Banda da Associação de Estudantes Guineenses da Unilab. | Imagem: Taje Mendes.

A coordenadora do projeto, Tainara Eugenio da Silva, que também é poetisa, produtora cultural e formada em Pedagogia pela Unilab, falou um pouco sobre o histórico desse projeto. “Essa proposta nasce em 2020 com a realização dos ‘Encontros poéticos: Entre histórias, memórias e ancestralidade’, realizado de forma virtual com Angola, Guiné Bissau, Brasil e São Tomé e Príncipe. A partir desse intercâmbio cultural, vislumbramos a possibilidade de dar visibilidade a esses artistas e valorizar as suas produções, a partir de suas realidades, contextos e questões que são importantes, caras e urgentes para esses corpos,” explicou.

Daí nasceu o “Ciranda de Saberes Artísticos e Culturais da Lusofonia” que, segundo Tainara Eugenio, é esse espaço democrático e de convergência de saberes e valores artísticos-culturais. “Nesta segunda ciranda estamos discutindo e vivenciando as musicalidades e seus territórios, dando para ver que a música é uma importante ferramenta de existência e resistência dos territórios. Com esse debate e as apresentações musicais, esse momento torna-se também um espaço pedagógico, que nos fortalece enquanto sujeitos e artistas, provando também que a Unilab é um berço rico e diverso da cultura e da arte”, destaca Tainara Eugenio, sem esquecer de ressaltar que “todos os envolvidos neste projeto, desde a equipe técnica aos artistas, são estudantes da Unilab”.

Tainara explica ainda que “Essas atividades podem ser vista também como espaços de luta, resistência e de conhecimento, distante da imagem de subalternidade e marginalidade que se coloca sobre o continente africano, de seus povos e dos corpos negros. Por meio de seus eixos [Literatura e Performance, Música, Dança], este projeto abarca as nossas experiências vividas, as diversidades artística e culturais, a produção de conhecimento, o desenvolvimento e a cidadania”, ressaltou.

O percussionista Felipe Trapiá se apresentando com seus alunos do Instituto Katiana Pena, no Bom Jardim, Fortaleza/Ce. | Imagem: Taje Mendes.

A visão politica e artística da coordenadora do projeto logo encontra ressonância no depoimento do percussionista Felipe Trapiá. Ele, que trabalha como professor de música para cerca de 50 alunos, dos 5 aos 14 anos, no Instituto Katiana Pena, no Bom Jardim, descreve a música como instrumento de libertação. “A música nos tira da caverna e consegue mostrar, debaixo do nosso nariz, seus impactos. A intervenção dentro da comunidade é visível, mesmo tendo que disputar com a cultura de massa e seus inúmeros entretenimentos, além da internet. Apesar dessa concorrência, percebo, com o trabalho de percussão que desenvolvemos com os meninos e as meninas do Bom Jardim, que a música é uma porta aberta para discutir a cidadania e é também um instrumento de mobilidade. Com a nossa música, vamos a lugares que normalmente não se iríamos e, assim, a música nos mostra como essa cidade é cheia de abismos (sociais)”, disse Felipe, que ainda ver na música um meio de preservar a infância e de estimular a criatividade das crianças e dos jovens, uma vez que, segundo ele, a música consegue a só tempo educar e informar.

Dupla formada pelos músicos Sebastião Sacului e Ageu Soma. Imagem: Taje Mendes.

Por todas essas questões, os organizadores do projeto acreditam na força deste projeto, assim como investem e acreditam que os territórios artísticos criativos são diversos, logo, “criar um espaço de promoção de diversidade artística e cultural entre artísticas afro-cearenses, na modalidade de intercambio artístico-cultural, é uma forma de possibilitar a valorização de produções subalternizadas dessas/es artistas e também trazer para a visibilidade essa diversidade artística-cultural tão rica a nossa sociedade”, defendem para, em seguida, concluir: “O encontro em formato de ciranda com debates, apresentações artísticas de músicas, dança e poesia, e de suas performances, é uma forma de possibilitar uma convivência integradas entre a comunidade universitária com seus territórios a partir de ações de desenvolvimento cultural e educacional”.

Sala da Biblioteca Pública Estadual do Ceará, onde aconteceu a 2ª edição do Ciranda de Saberes Artísticos e Culturais. | Imagem: Taje Mendes.

Próximo encontro:

A próxima ciranda, que terá como eixo a Dança, será no dia 14 de abril de 2023, na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), contando com a participação dos seguintes grupos:

Grupo Uniculturas

Grupo Tetêmbú Santomé cu Plinxipi.

Grupo Filhos de Ngola

Dupla Cláudia Capemba e Abrão Matias

Além de oficinas de danças: Kuduro e Semba, dentre outras.

Assim como nos demais eixos, buscar-se-á perceber a arte e a cultura como forma de mobilização dos territórios vivos, tendo, nesta etapa, a dança como ferramenta de existência e resistência desses lugares.

Sobre a coordenadora do Projeto: Tainara Eugenio da Silva

Tainara Eugenio: “Essas atividades podem ser vista também como espaços de luta, resistência e de conhecimento, distante da imagem de subalternidade e marginalidade que se coloca sobre o continente africano”. | Imagem: Taje Mendes.

Mini bio: Mulher negra quilombola, sertaneja, bordadeira, poetisa, dançadeira da dança de São Gonçalo, produtora cultural, filha de Terezinha Maria e Osmar da Silva e do Quilombo Sítio Veiga Quixadá/CE. Graduada em Pedagogia pela Universidade da Integração Internacional da lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Atuou de 2020 a 2021 como Educadora Popular no Projeto Mulheres Negras em Movimento, pelo Instituto de Jovens Rurais do Brasil, em parceria com a ONU Mulheres e o Quilombo Sítio Veiga. Militante do movimento Quilombola do Ceará. Membra da comissão interinstitucional de Educação Escolar Quilombola do Ceará e do Comitê Gestor das Expressões Afro-Brasileiras do estado do Ceará.

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