Independência de Guiné-Bissau é celebrada com rico seminário que projeta o futuro
As cinco décadas de independência de Guiné-Bissau foram celebradas com o seminário “50 anos de avanços e retrocessos, mas com esperança de um amanhã melhor”, organizado pela Associação dos Estudantes Guineenses na
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).
O evento conseguiu dar uma visão panorâmica sobre pontos em que o país ainda precisa avançar e como isto pode ser feito. Durante a mesa de abertura, o reitor da Unilab, Roque Albuquerque, frisou que é preciso estar vigilante e lutar sempre para preservar a liberdade conquistada. “Temos de nos manter vigilantes para sutilezas que, mesmo com roupagem de liberdade e democracia, podem estar tentando nos escravizar. Nunca assumamos que a liberdade, uma vez conquistada, será tida para sempre. É ilusório”, afirmou.
A vice-reitora, Cláudia Carioca, lembrou o revolucionário guineense Amílcar Cabral, cujo centenário ocorre em 2024. “Amílcar dizia que a educação é uma arma poderosa. Que venham mais guineenses para Unilab, para fazermos formação de excelência e cumprirmos os ensinamentos de Amílcar Cabral”, disse.
Pró-reitora de Relações Institucionais e Internacionais, a guineense Artemisa Monteiro destacou o cenário de luta de libertação nacional, em que temas como pan-africanismo, novo homem, unidade nacional na condução pela luta de libertação e africanização do espírito estiveram fortemente pautados. “Hoje a Unilab representa uma nova versão da antiga Casa do Império do Estudante, em Portugal. Lá os estudantes se organizaram pela fundação de um nacionalismo de luta por independência. A Unilab representa uma outra versão, da diplomacia e construção do conhecimento. É uma casa de formação de quadros para desenvolvimento dos países da CPLP”, sublinhou.
A pró-reitora de Extensão, Arte e Cultura, Kaline Girão, destacou a honra em participar de momento tão significativo, que marca o histórico de luta e autodeterminação de um povo. O presidente da Associação de Estudantes Guineenses (AEGU), Eurico Paulo Sampa, reforçou que o objetivo do evento era avaliar os 50 anos de independência, observando o projeto de construção de nação e como foi conduzido.
Debates
O debate “Independência da Guiné-Bissau face a geopolítica sub-regional e internacional” contou com o guineense e professor da Unilab, Ricardo Ossagô, e o doutorando em Ciência Política (URGS) Justino Gomes. Os debatedores traçaram um panorama dos caminhos da independência nacional, observando tratar-se de um processo inserido num movimento político internacional. “Havia um movimento político da negritude nos EUA, África e Ásia”, comenta Gomes.
Entre os problemas de Guiné-Bissau, percebe-se a dificuldade em projetar seu poder econômico e político, com uma política externa tida como “passiva”.
Entre os pontos positivos a serem explorados pelo país estão uma localização geográfica privilegiada, com solo fértil e clima propício à agricultura. Ossagô chamou atenção para a falta de um projeto político e de desenvolvimento, resultando no que conceitua como “Estado falhado”.
Outro tema bastante importante quando falamos em projeto de nação é a educação. O assunto foi abordado no debate “Política educacional na Guiné-Bissau: processo histórico e desafios atuais”, com os estudantes de Pedagogia da Unilab Tcherno Canté e Marina Blabam, além de Iadira Impanta. Os participantes apontaram para a necessidade de superar a educação informal, investindo na educação formal, porém diferente da forma como foi implantada no país, em que servia aos interesses dos colonizadores. A conclusão é de que são necessárias mais escolas, principalmente em zonas rurais, e construir um modelo de educação não autoritário.
Para a desenvolvimento de uma sociedade verdadeiramente democrática, as opressões de gênero precisam ser superadas. Pensando nisto, ocorreu o debate “Reflexões sobre a construção da política que transforma e fortalece representatividade das mulheres nos espaços estudantis”, Betinha da Silva, Jair Dju e Sônia Gomes.
O debate apontou para a necessidade de modificar a socialização das mulheres, que hoje as leva à subserviência, dificultando a autonomia e o interesse no ensino superior, por exemplo. “É preciso reconhecer as condições desiguais com que as mulheres vão concorrer com os homens. Precisamos de cotas de gênero, mas não adianta garantir a participação sem dar condições de permanência”, disse Sônia Gomes. A necessidade de políticas públicas para as mulheres foi pontuada, em especial com relação a problemáticas como casamento forçado e abandono escolar devido a gravidezes.
Proporcionar o acesso pleno a alimentos saudáveis é uma questão de justiça social que foi debatida sob o tema “Agricultura como alternativa do desenvolvimento: como o país pode transformar o potencial agrícola para o combate à fome e em pivô econômico para o desenvolvimento sustentável?”, que contou com Juliano Gomes, Manuel Cardoso e Leodinilde Caetano.
Entre os pontos levantados para a melhoria da situação no país, estão a educação, com construção de conhecimento de acordo com a realidade guineense; desenvolvimento sustentável para não colocar em risco as atuais e futuras gerações; melhor aproveitamento da água; modernização da agricultura e relações justas de trabalho no campo; e desenvolvimento de uma cultura alimentar que aproveite os alimentos produzidos em cada região e época, entre outros pontos de melhoria.
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