Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Universidade Brasileira alinhada à integração com os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Professor da Unilab é um dos organizadores do Dicionário das Relações Étnico-Raciais Contemporâneas

A obra, que já nasce sendo de referência e pioneira, realiza o intento de ter especialistas brasileiros e latino-americanos exclusivamente pertencentes aos grupos mais histórica e socialmente discriminados.

Data de publicação  26/09/2023, 16:08
Postagem Atualizada há 7 meses
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O Dicionário das Relações Étnico-Raciais Contemporâneas, lançado recentemente pela Editora Perspectiva e organizado pelos professores Marcio André dos Santos, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Alex Ratts, da Universidade Federal de Goiás (UFG), Flávia Rios, da Universidade Federal Fluminense (UFF), já nasce como uma obra de referência e pioneira. Isto porque a obra realiza o intento de ter especialistas brasileiros e latino-americanos exclusivamente pertencentes aos grupos mais histórica e socialmente discriminados (negros, mulheres, indígenas, judeus), abordando a discriminação, os racismos e as relações étnicas em nosso país, por meio de 53 verbetes que abrangem um amplo espectro de temas, de Afrocentricidade a Xenofobia, passando por movimento negro, feminismos, genocídio, cultura negra, islamofobia, perigo amarelo etc.

Além de Marcio Santos na organização, o livro conta ainda com a participação da professora Dra. Vera Rodrigues, do campus do Ceará, que colaborou com o verbete Identidade e, no campus da Bahia, teve as colaborações das professoras Dras. Cristiane Souza, que escreveu o verbete Cultura Negra, em parceria com Jucelia Ribeiro; e Maria Soares, que assina o verbete Colorismo

A ideia para escrever esse livro referencial surgiu, segundo Santos, “de uma preocupação dos organizadores em termos no mercado editorial brasileiro uma publicação de fácil leitura sobre os principais conceitos e ideias do campo de estudos das relações étnico-raciais. Existem outros dicionários do tipo, mas geralmente pensados desde uma perspectiva do norte global. O nosso dicionário reflete mais diretamente os dilemas e desafios sobre raça e etnicidade em países da América Latina”.

Para se chegar a esse resultado expressivo a primeira tarefa foi, de acordo com os organizadores, pensar quais verbetes deveriam ser contemplados. “Depois de muito refletir, decidimos selecionar cerca de 50 verbetes considerados os mais importantes. Feito isso passamos a convidar colegas das mais diferentes universidades brasileiras e do exterior para escrevê-los. Para nossa sorte, a imensa maioria topou participar do projeto, conta Santos, destacando também a questão da representatividade: “Importante ressaltar que os convites levaram em consideração gênero, raça, etnicidade e região. O resultado é que temos um dicionário bem representado, já que escrito por mulheres negras, indígenas, judeus e pessoas brancas situadas por todo o Brasil”.

Desta forma, os verbetes resultam de pesquisas feitas pelos colaboradores/as ao longo de muitas décadas.

Todo o trabalho, da ideia à publicação, levou cerca de três anos. Isto representou um tempo significativo para que cada um escrevesse com tranquilidade seu verbete. Levou-se em conta também o fato de que o verbete deveria ser original e escrito de maneira a facilitar a leitura por pessoas que não são acadêmicas.

Ainda não há uma data determinada para o lançamento da obra nos campi da Unilab. Por sua vez, Santos garante que isto se dará em breve. “Estamos planejando um lançamento na Unilab do Ceará e outro da Bahia, no campus dos Malês. Estamos fechando datas e composição das mesas. No campus do Ceará a colega Vera Rodrigues colaborou com o verbete Identidade. E no campus da Bahia, tivemos duas colaborações: a colega Cristiane Santos Souza escreveu o verbete Cultura Negra em parceria com Jucelia Bispo Ribeiro; e a colega Maria Andrea Soares escreveu o verbete Colorismo.”

Como o livro conta organizadores e colaboradores/as de diversas localidades do Brasil, a ideia é ter lançamentos em várias cidades. “Quanto mais pudermos divulgar esta obra, melhor. O dicionário está realmente muito bom. Quem puder ter acesso vai concordar comigo”, garante Santos.

Para que servem os dicionários?

O professor Kabengele Munanga explica: “Creio que servem para atender as necessidades de comunicações que precisam de palavras, termos, conceitos e tipologias que se utilizam em várias formas de linguagem, faladas e escritas. No entanto esses conjuntos em uso para a necessidade da comunicação não são naturais, pois são convencionais e inventados em contextos espaciais e históricos diferentes. Eles têm uma dimensão etnosemântica. Ou seja, foram cunhados a partir de alguns espaços geográficos antes de se difundirem na noite do tempo. Nessa difusão, entraram em contato com outras culturas e tomaram outros significados e sentidos diferentes daqueles que tinham no ponto de partida. Por isso, muitos dos conceitos e palavras que usamos cotidianamente podem ser polissêmicos.  Nesse sentido, às vezes as pessoas não se entendem ao usar a mesma palavra com sentidos diferentes sem minimamente definir o que entendem por elas. O que prejudica a comunicação e pode até criar conflitos.”

Sobre os Organizadores da Obra

Marcio André dos Santos

Professor adjunto da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira – UNILAB, Campus dos Malês/BA e atua nos cursos de graduação em Humanidades e Licenciatura em Ciências Sociais, do qual é o atual coordenador. Possui doutorado em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP/UERJ), com estágio sanduíche na Johns Hopkins University, Baltimore, Estados Unidos. É professor colaborador do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos (POSAFRO) da Universidade Federal da Bahia.

Alex Ratts

Doutor em Antropologia Social pela USP e professor na UFG nos cursos de graduação e pós-graduação em Geografia e de pós-graduação em Antropologia. Coordenador do Laboratório de Estudos de Gênero, Étnico-Raciais e Espacialidades do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG, participa da Rede Espaço e Diferença (RED) e da Rede de Estudos de Geografia, Gênero e Sexualidades Ibero Latino-Americana (REGGSILA).

 Flávia M. Rios

Doutora em Sociologia pela USP, é professora da UFF, onde foi coordenadora do curso de Ciências Sociais- Licenciatura. Foi ainda visiting student researcher collaborator em Princeton. Integrou o quadro docente da UFG, na qual coordenou o Pibid-Ciências Sociais. Atualmente, é coordenadora do Núcleo de Estudos Guerreiro Ramos (Negra – UFF) e integra o Programa de Pós-Graduação em sociologia (PPGS) e os comitês científicos do Afro/Cebrap e do projeto “As Responsabilidades de Empresas Por Violações de Direitos Durante a Ditadura” (CAAF/Unifesp).

Trechos da obra:

AFRODESCENTES: […] como região, a América Latina sempre foi crucial na formulação das identidades e políticas da diáspora africana. Tocando esse tambor, a atitude de cunhar o termo “afrodescendente” como identidade política no final dos anos 1980 na região e sua adoção como categoria chave do decênio das e dos afrodescendentes, categoria declarada pelas Nações Unidas, revela o crescente significado global das perspectivas políticas e epistêmicas das e dos afrolatinoamericanos. [Augustin Lao-Montes]

Consciência Negra: No Brasil, particularmente, o conceito de consciência negra passou a se tornar mais difundido a partir da proposição apresentada pelo Grupo Palmares do Rio Grande doSul, em 1971, ao conjunto da militância negra brasileira. A ideia consistia em uma grande mobilização para que 20 de novembro, data oficial da morte de Zumbi, fosse assumido como Dia Nacional da Consciência Negra, em memória e reconhecimento ao líder maior do Quilombo dos Palmares e à luta palmarina. Da perspectiva ideológica, aquela atitude se contrapunha às celebrações do dia 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura, amplamente homenageado pela oficialidade, em um nítido exercício de silenciamento da luta negra abolicionista. O gesto do coletivo negro gaúcho, liderado pelo poeta Oliveira Silveira, logo ganha adesão. [Nelson Inocêncio Silva]

Discriminação: Durante a ditadura militar, enquanto a população negra sofria a repressão seletiva das agências penais e os movimentos negros eram perseguidos por seu potencial subversivo, os governos militares buscaram cultivar internacionalmente a imagem do país como uma democracia racial, em contraposição ao regime de apartheid da África do Sul. [Marta Machado]

Intolerância e Racismo Religioso: […] as religiosidades afro-brasileiras voltaram a ser fortemente estigmatizadas e perseguidas, dessa vez por igrejas neopentecostais que se se autoimpõem a missão de combater a presença do mal na terra, identificando esse mal preferencialmente nas comunidades religiosas de terreiro. Desnecessário dizer que, sendo o terreiro formado inicialmente pelos grupos negros e um dos principais baluartes na manutenção das heranças culturais africanas no Brasil (língua, indumentária, culinária, cosmologia, musicalidade etc.), mais uma vez vemos discriminação e preconceito em ação, agora sob a forma de um racismo religioso. [Vagner Gonçalves da Silva]

Movimento de Mulheres Negras: […] o movimento de mulheres negras foi se afirmando como fruto de experiências de lutas sociais conduzidas por organizações institucionalizadas e independentes, que enfrentavam conflitos tanto dentro dos movimentos de esquerda quanto nas organizações negras, visto que as questões ressaltadas pelas mulheres, como a divisão de tarefas em que algumas destas seriam “naturalmente” de homens ou de mulheres e os debates sobre direitos reprodutivos, eram consideradas menores e divisionistas. [Viviane Gonçalves Freitas].

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