Campanha combate o racismo e as várias formas de discriminação dentro dos ambientes acadêmicos da Unilab
São muitos e diversos os movimentos antirracistas espalhados pelo país, mas, em um ponto teórico, boa parte deles parece convergir: o racismo é um problema estrutural. Para o filósofo, advogado e pesquisador Sílvio Almeida, “o racismo se torna estrutural quando ele é produzido e reproduz os sujeitos, a economia, a política, a sociedade e as subjetividades.”
Percebendo os desafios de ser uma universidade criada sob a perspectiva da integração de culturas dentro de uma realidade estruturalmente racista, a Unilab lança neste mês de novembro a Campanha “Racismo e Discriminação: Aqui Não!”. O tema foi pensado pelo GT Antirracismo – Grupo de Trabalho criado em julho deste ano. Além de combater o racismo que afeta populações negras e povos indígenas, a ação visa enfrentar outras formas de discriminação, como a xenofobia, a lgbtfobia e o capacitismo.
A campanha como um todo é uma parceria entre diversos setores da Unilab: Coordenação de Direitos Humanos (CDH), Serviço de Promoção da Igualdade Racial (Sepir), Pró-Reitoria de Extensão (Proex), Pró-Reitoria de Relações Institucionais (Proinst), Diretoria do Campus dos Malês e Reitoria – além, é claro, do próprio GT Antirracismo e do corpo estudantil.
Para o professor Arilson Santos Gomes, presidente do GT Antirracismo e Coordenador da CDH, “sempre surgem situações cotidianas que pontuam preconceito, racismo ou discriminação, mas isso não era muito bem compreendido pela Unilab porque nunca fizemos uma campanha nesse sentido”. A intenção é trabalhar “sem achismos, mas com dados”, e desdobrar esses resultados em ações administrativas que vão de encontro à ocorrência desses fatos no interior e nos arredores da universidade, estabelecendo, a longo prazo, um diálogo com o poder público local.
A primeira etapa da campanha é direcionada ao público interno da Unilab, com foco especial nos discentes. Dessa forma, o tema “Racismo e Discriminação: Aqui não” é debatido por meio de depoimentos dos discentes em vídeo, por um formulário online de diagnóstico do racismo na instituição e por uma cartilha de formação.
Depoimentos
A primeira fase da Campanha “Rascimo e Discriminação: Aqui Não” é fortemente pautada na coleta de dados e nas vivências pessoais dos sujeitos. Pensando nisso, o GT Antirracismo coordenou uma campanha audiovisual junto à Secretaria de Comunicação Institucional da Unilab (Secom) com forte participação estudantil.
Durante todo o mês, serão divulgados depoimentos pessoais de estudantes brasileiros, internacionais, indígenas, quilombolas, lgbt ou com deficiência, contando as situações pelas quais têm passado dentro e fora da universidade. A intenção é romper com “a máscara do silêncio”, citada pelos estudantes em suas falas e, assim, permitir que mais pessoas se sintam confortáveis para denunciar.
Foram entrevistados estudantes do Ceará e da Bahia. Nos dois estados, houve o apoio de discentes da Unilab tanto no pensamento da campanha quanto em sua operacionalização. No Campus dos Malês, Sene Indjai e Lauro Cardoso realizaram tanto as entrevistas quanto o trabalho de fotografia e de vídeo. Na filmagem dos estudantes de Redenção, o trabalho de fotografia foi apoiado por Táje Mendes e as entrevistas foram conduzidas por Tainara Eugênio e Marcos Wandebaster em parceria com a Secom.
Todos os vídeos com os depoimentos pessoais serão postados nessa playlist do Youtube e também na página oficial da Unilab no Instagram ao longo do mês de novembro.
Nova versão para o questionário de diagnóstico do racismo no âmbito da Unilab
O formulário de diagnóstico do racismo no âmbito da Unilab serve para detectar a repetição de situações de discriminação dentro dos espaços acadêmicos, bem como as suas nuances. Sua primeira versão foi divulgada pela plataforma SIGAA entre setembro e outubro deste ano, obtendo, dentro deste período de um mês, 733 respostas dos discentes – um número considerado expressivo, já que praticamente 10% dos estudantes participaram.
Através das perguntas, a equipe de análise do formulário poderá entender como as situações de discriminação se processam no ambiente acadêmico: na sala de aula, nos ônibus intercampi ou no restaurante universitário – são diversas e sutis as formas de discriminação.
Uma nova versão do formulário está disponível fora do SIGAA. São as mesma perguntas do formulário antigo, mas agora com a possibilidade do anonimato (sem matrícula e sem registro). A pesquisa fica aberta até o dia 17 de dezembro.
Cartilha Antirracista
Uma das ações da campanha é a criação de uma Cartilha Antirracista formulada pelos próprios membros do GT, um instrumento com objetivo de contribuir para o aprimoramento da integração institucional e para o combate ao racismo, ao preconceito e à xenofobia na comunidade acadêmica.
O lançamento oficial da cartilha se dará por ocasião de atividade do Novembro Afro-brasileiro na próxima segunda-feira, dia 24 de novembro, às 16h. A live de lançamento do material ocorrerá pelo Youtube da Unilab, e contará com membros do GT Antirracismo, dentre professores, técnicos e estudantes.