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O FUTURO DAS BIBLIOTECAS
Um dos mais respeitados pensadores dos espaços que abrigam coleções de livros, o pesquisador e escritor Matthew Battles é um entusiasta do diálogo entre esses estabelecimentos e os avanços tecnológico
Foto: ASSOCIATED PRESS
Com um acervo de mais de 20 milhões de livros, a Biblioteca Pública de Nova York é um exemplo do diálogo entre tradição e modernidade: ferramentas digitais ajudam usuários a encontrar títulos e conteú
Foto: ASSOCIATED PRESS
Por: MAURÍCIO MEIRELES – AGÊNCIA O GLOBO
Rio de Janeiro, RJ – Matthew Battles era um homem que tomava conta dos livros. De responsável pelas obras raras da biblioteca da Universidade de Harvard ele passou a um dos principais pensadores do futuro das bibliotecas diante dos avanços tecnológicos. Hoje, dirige o metaLab, centro de pesquisas de Harvard sobre a influência da tecnologia nas artes e ciências humanas. No laboratório, é um dos colaboradores da Digital Public Library of America, biblioteca digital que une vários acervos dos Estados Unidos. Ele conversou com a reportagem, por telefone, antes de desembarcar no Rio para a série Múltiplos e Contemporâneos – A Literatura.com, aberta na última terça-feira (13) com a palestra Biblioteca do Futuro, ministrada por ele no Centro Cultural Banco do Brasil.Pergunta. O senhor já escreveu um livro sobre a história cultural das bibliotecas (A Conturbada História das Bibliotecas, editora Planeta, 2003). Na sua opinião, como elas vão mudar daqui em diante?

Matthew Battles. A biblioteca já existia antes de haver o livro como o conhecemos, um produto comercial. Ao longo do tempo, as bibliotecas foram reconhecidas mais pela sua forma do que pelos livros guardados nelas. Portanto, são um conceito aberto, com espaço para mudança. Elas terão um papel importante no futuro, mas o que fazemos dentro delas e os objetos com os quais interagimos vão mudar.

Que novos materiais a biblioteca passará a guardar?

Conforme os livros passem a ocupar o reino digital, a biblioteca vai virar um local para interagir com tais objetos, criando novas experiências de significado a partir deles. Os e-books são maravilhosos, mas seu modelo de consumo é baseado sobretudo no iPod e no download de músicas – que ouvimos em fones de ouvido, de forma privada. A leitura já é um ato bastante privado, então precisamos de formas de dividir essa experiência uns com os outros. Caso contrário, ela vira uma província em que só há interação do consumidor com um varejista da internet. As bibliotecas podem ajudar nisso ao dar acesso a outras fontes de informação, como ferramentas de visualização, mecanismos de edição, salas interativas – e outras mídias caras demais para o leitor ou estudante médio. Além disso, a biblioteca vai ajudar o leitor a se ver como criador de cultura. E auxiliá-lo a preservar peças do seu passado que tenham a ver com nossa história comum.

As bibliotecas costumam guardar os chamados efêmeros, como jornais e documentos oficiais. Elas vão continuar a guardá-los? Como fazer com a informação das redes sociais?

Um amigo meu tem uma coleção enorme de fanzines, que ele acaba de doar para a biblioteca de obras raras da Universidade de Iowa. Esse tipo de acervo é precioso, e as bibliotecas vão continuar a organizá-lo. Mas mais interessante é a informação digital – desde mensagens de e-mail e das redes sociais até dados da vida urbana e de saúde pública. Hoje, muito da nossa interação com o mundo produz informação. As bibliotecas precisam entender as vastas fontes de informação da sociedade moderna como um fenômeno que precisa de curadoria.

Para preservar o acervo, é comum que o acesso a ele seja dificultado. Como encontrar o equilíbrio entre preservação e necessidade de interação?

As ferramentas digitais ajudam. Já faz um tempo que digitalizamos livros e material iconográfico. O próximo passo é permitir que os usuários da biblioteca tenham acesso a dados que conectem esses livros e outras fontes uns aos outros. Como encontrar todos os livros que mencionam o Rio de Janeiro? Como descobrir quantas vezes uma obra foi traduzida ao longo da História, com um mapa de sua leitura no mundo?

SERVIÇO

Título: A Conturbada História das Bibliotecas

Autor: Matthew Battles

Tradução: João Virgílio

Gallerani Cuter

Editora: Planeta

Preço: fora de catálogo (238 págs.)

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