Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Universidade Brasileira alinhada à integração com os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Estudante do Mel Malês recebe Prêmio Impacto por Todas (Todas Group/Pacto Global da ONU), por projeto na área de igualdade racial

Data de publicação  16/05/2022, 10:58
Postagem Atualizada há 3 anos
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A estudante Karla Meura, do mestrado em Estudos de Linguagens: contextos lusófonos Brasil-África (Mel/campus dos Malês), da Unilab, foi um das escolhidas este ano para receber o Prêmio Impacto por Todas, promovido pelo Todas Group, em parceria com o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU). Ela foi uma das seis mulheres premiadas, entre mais de 600 indicações, pelo projeto “Co-missão de Igualdade Racial na OAB/RS”, do qual é idealizadora. A premiação é voltada a mulheres que lideram iniciativas de impacto relacionadas à diversidade e inclusão, em consonância com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU – saúde e bem-estar, educação de qualidade, equidade de gênero e redução das desigualdades.

“Além do reconhecimento, acho que o passo mais importante é essa cadeira pelo Conselho Social da ONU que nós vamos ocupar. A partir daí, penso que temos mais possibilidade de construir ações que tenham resultados sociais”, aponta Meura, que é advogada e integra o corpo discente da primeira turma do Mel Malês. Ela relata que o premiado projeto nasce dentro sistema OAB (Ordem dos Advogados)/RS, quando iniciou diálogos para que fosse instituído um grupo de trabalho sobre gênero e raça, diante de uma realidade na qual ela era a única mulher negra em um grupo de quase 100 advogadas, na seccional da OAB/RS.

                                                                                                                                                                                                              Karla Meura (primeira à direita)/ crédito foto: Luci Kühn

“Em 2015, eu era membro da Comissão da Mulher Advogada. Estava iniciando passos institucionais. Diante dessa ausência de mulheres negras, comecei a fazer questionamentos de maneira muito construtiva e propositiva. Quem sabe criamos Comissão de Igualdade Racial, um grupo de trabalho de mulheres negras. A partir dessas ideias, fomos materializando os projetos”, conta. Em 2018, foi criada essa Comissão, da qual ela foi presidente. “Pensamos em fazer um projeto institucional, mas com cunho social que gerasse impacto nessa mudança do perfil de advogadas e institucional”, aponta Meura, que também foi membro da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade Racial, do Conselho Federal da OAB.

                                                                                                                                                                                       Posse da Co-missão da Igualdade Racial / crédito fotos: Luci Kühn

Diálogo nas comunidades

Esses projetos materializados, a partir da OAB/RS, incluiu diálogos em rodas de conversa, trocas de saberes, dentro de comunidades do Rio Grande do Sul, com conversas de temáticas escolhidas a partir das demandas dos próprios membros da comunidade visitada. Meura conta que houve pedidos para abordar temas como violência doméstica, proteção dos direitos das mulheres, direitos previdenciário e penal, além de abordagens outras como violência contra a juventude negra. Os encontros nas comunidades também trouxeram momentos de auto-estima das mulheres, a partir de cuidados com cabelo e maquiagem, realizados por profissionais de beleza.

                                                                                                                                                                                         Projeto de diálogo nas comunidades /crédito foto: Luci Kühn

“Foi, nesse sentido, que as mulheres das comunidades passaram a se dar conta de que os trabalhos que elas faziam já eram de liderança, que impactavam socialmente na coletividade que elas representavam e que já eram trabalhos de representação. A juventude desses espaços , especialmente meninas, quando viam mulheres negras advogadas com cabelos crespos, com turbantes, com roupas diferentes do que estão acostumadas, daquele padrão de advogada, de advocacia muito enrijecida, embranquecida, a gente notoriamente despertou esse sentimento de representatividade, no sentido de que é possível elas chegarem lá”, relata Karla Meura.

Ela também conta que muitas jovens não conheciam o papel de uma advogada, o que gerou mais um tema de conversa. “Tivemos oportunidade de explicar o que é essa profissão, qual a importância pra essa mudança, como podemos dialogar, como o nosso conhecimento não é melhor que o delas. São saberes diferentes, porque atuamos em áreas diferentes. Nesse sentido, foi bem positivo o retorno social já no início do projeto. Isso só nos motivou a seguir incentivando outras mulheres, outras lideranças comunitárias, jovens advogadas”, pontua.

                                                                                                                                                                                                                      Crédito foto: Luci Kühn

Seminários

As ações dentro da OAB/RS incluíram, ainda, a realização de seminários internacionais pela igualdade racial, que faziam diálogos com advogados de países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). “Percebemos que a realidade da advocacia negra são muito semelhantes, mesmo em países diferentes. Isso nos acentuou a ideia de que a questão racial precisa ser permanentemente dialogada e pensada por essas pessoas que estão chegando nos espaços institucionais”, aponta Meura.

Pesquisa na Unilab

A mestranda Karla Meura ingressou este ano no Mel Malês já com proposta de pesquisa definida, de realizar uma análise literária do livro “A justiça é uma mulher negra”, escrito por duas advogadas negras: Lívia Sant´Anna Vaz e Chiara Ramos. A obra tem o prefácio de Conceição Evaristo. “A proposta é construir uma investigação do impacto das vozes e da escrita das mulheres negras, no sistema justiça”, explica a mestranda. Meura contextualiza, ainda, que o tema de sua pesquisa traz um diálogo entre a Literatura e o Direito, em torno de um livro que, segundo aponta, é um marco no universo jurídico, com a proposta de quebrar paradigmas da escrita da advocacia.

“A obra é um importante instrumento para mudança. O desafio é fazer interlocução da Literatura com o Direito, e se possível comprovar e ratificar a importância da Literatura no mundo do Direito, no sistema de justiça, porque a gente precisa aprender a ler as entrelinhas, os diálogos, as imagens e os símbolos. No próprio símbolo da justiça, que é uma mulher branca com olhos vendados, a gente tem ideia de que a justiça precisa enxergar as diferenças, os obstáculos, as dificuldades das pessoas que estão sendo julgadas, para que seja justa, e não uma mera execução de uma lei, de um texto legal, legislativo”, explica.

                                                                                                                                                                                            Primeira turma do mestrado Mel Malês, da qual Karla Meura faz parte

Sobre a escolha de realizar esses estudos na Unilab, Meura destaca que essa opção converge com a proposta de seus projetos, sua trajetória e sua pesquisa. “Penso que dialoga muito minha experiência com meu projeto de pesquisa e o projeto pedagógico da Unilab, de uma integração internacional, que pauta a diversidade, escuta diversas vozes com diversas cores, raças e etnias”, afirma. Ela conta que entrar na Unilab foi um momento marcante e também sublinha o comprometimento do corpo docente. “Conseguimos observar que é respeitada a intenção de manter essa integração Brasil-África, esse posicionamento, garantindo o protagonismo das pessoas que são agentes, oriundas desses países. Temos 20 alunos na turma, todos negros. É muito impactante a gente saber que isso reverbera em todas as pesquisas, porque a gente consegue achar uma linha. Existe uma sintonia nos projetos de pesquisa apresentados. Embora, cada um na sua área, cada um com seu desafio, a gente consegue fazer uma interlocução e trabalhar de maneira muito integrativa”, aponta a mestranda.

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