Desafios e possibilidades na produção de conhecimento foram alguns dos temas abordados na II Conferência de Mulheres Africanas na Unilab, que segue até este sábado (31/07)
Os desafios e as possibilidades na produção científica de mulheres negras foi um dos temas abordados no primeiro dia da Conferência de Mulheres Africanas na Unilab, evento que está na segunda edição e, este ano, traz o tema “Mulheres africanas e a produção do conhecimento endógeno na ciência: um olhar sobre a circulação de saberes em África”. A Conferência segue até este sábado (31/07), com transmissão pelo canal no Youtube da RIMA – Rede Internacional de Mulheres, realizadora do evento, em parceria com a Pró-Reitoria de Relações Institucionais e Internacionais (Prointer). Essa iniciativa traz uma alusão ao dia da Mulher Africana, comemorado no dia 31 de julho.
Os desafios na produção de conhecimento por mulheres negras, levantados no primeiro dia do evento, passam por dissipar estigmas e estereótipos associados às mulheres africanas e sua diáspora. “Não é fácil para as mulheres negras, muito menos para mulheres africanas da diáspora, porque a nossa competência, a nossa sabedoria, sempre é colocada em dúvida. Eu sei do que falo porque estou nesse lugar hoje. Então lutem, procurem ferramentas necessárias para o saber científico, o saber dessa militância de luta acadêmica, pra que a gente possa falar com base”, destacou a Artemisa Candé Monteiro, pró-reitora da Pró-Reitoria de Relações Institucionais e Internacionais da Unilab (Prointer), na abertura do evento.
Para a docente da Unilab Rosalina Tavares, nesse contexto de desafios e lutas, ela sublinha a importância de saudar a ancestralidade africana, as lutadoras que abriram caminhos diante da encruzilhada imposta pelo racismo e sexismo. “Importante que abriram caminhos para que nós estivéssemos aqui, nesse momento, discutindo em uma conferência a produção de conhecimento endógeno na ciência e um olhar sobre circulação de saberes em África. E faço referência a essas mulheres porque, se hoje estamos aqui, é porque elas existiram, lutaram para nós encontrarmos essa possibilidade”, aponta. Tavares também destaca que os estereótipos sobre a África impedem o reconhecimento desse continente, berço da humanidade, como “lugar de fertilidade epistêmica, de produção e circulação de conhecimento, conhecimento produzido pelas mulheres, contestando o estereótipo de mulheres negras subservientes, destituídas do intelectual, algo que foi historicamente construído”, coloca a docente.
Mulheres africanas, ciência e saberes
A importância, por parte das mulheres negras e africanas, da produção do conhecimento, da ciência e de saberes interdisciplinares, com diálogo intergeracional, foram alguns dos pontos levantados pela professora Odete Costa Semedo, do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INEP), de Guiné-Bissau, que proferiu a palestra de abertura da Conferência de Mulheres Africanas na Unilab. Semedo também destacou que está no horizonte das mulheres o desafio de produzir e circular conhecimento e saberes, no contexto de pobreza, desigualdades, falta de acesso à escola e de apoio por parte de políticas públicas que pensem no contexto social.
“A luta para o empoderamento das mulheres é uma luta que vai sendo vencida aos poucos, passo a passo, com a mulher olhando o espelho não partido, estilhaçado, que mostra a imagem distorcida da mulher, da mulher negra, da mulher africana. Vamos ter um espelho real, liso, limpo que nos mostre nossa face real, que precisamos lutar de fato e conseguir atingir os objetivos que nos espera”, coloca a docente guineense. Ela também aponta para a importância da academia se colocar no lugar de massa crítica, de forma corajosa, e que olhe também para questões históricas mal resolvidas. “As pesquisas lidas, compreendidas levam o país a compreender as idiossincrasias do seu povo, levam o país a conhecer a si próprio”, afirma.
Semedo também destaca que, no contexto da produção de conhecimento, há também as dificuldades do acesso a novas tecnologias. E diante de todos esses desafios, aponta para a importância de um olhar de alteridade, de enxergar as potencialidades de outras mulheres. “Temos a responsabilidade, sobretudo quando nós temos a oportunidade de ir à escola, de permanecer na escola, de ter uma formação. Para além de buscar diplomar, temos a responsabilidade de puxar outras mulheres, de dar esse nosso saber a outras mulheres, de mostrar a nossa coragem a outras mulheres, para que não aceitem ser subjugadas, seja qual for o poder instalado nos seus países. Ser mulher é ser lutadora, é estar na frente, é dar o exemplo para que os homens que ainda não sentiram coragem de ir à luta, que venham à luta das mulheres, para que participem dessa luta de construção, de resiliência das mulheres”, afirma. E, nesse contexto de luta, ela aponta ainda para importância de também mostrar o que não sabe, do ensinamento dos que sabem e, ainda, de trazer os aprendizados das pessoas mais velhas. “Não esqueçam das histórias”, propõe.
Confira a programação do dia 31/07 (sábado):
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